A estiagem que há meses castiga o Rio Grande do Sul com a falta de água e perdas na produção agrícola também provoca aumento de casos de fogo em vegetação. Conforme levantamento do 5º Batalhão de Bombeiro Militar (BBM), que abrange 49 municípios da Serra gaúcha, o número de ocorrências atendidas pelos pelotões em março e abril de 2020 é 12 vezes maior do que os realizados no mesmo período de 2019, saltando de 33 para 418 casos, um aumento de 1.166,66%.
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Somente em Caxias do Sul, cidade que sedia o BBM, foram registrados 117 incêndios florestais e em vegetações nos meses referidos. Municípios como Bento Gonçalves e Canela registraram 73 e 47 ocorrências, respectivamente, somente em março e abril. No comparativo, o único município que apresentou redução foi Cotiporã, com uma ocorrência em 2019 e nenhuma no período do levantamento deste ano.
Segundo a corporação, as causas nem sempre são constatadas no momento do atendimento e, mesmo que o foco possa iniciar de forma espontânea, como eventualmente ocorre quando há muito calor ou descargas elétricas, a ação direta do homem é ainda a principal causadora de fogo de pequenas e médias proporções, que podem tornar-se grandes incêndios.
— Este aumento de casos tem a ver com a condição climática atual, sobretudo pelo longo período em que a estiagem ocorre, resultando em uma vegetação extremamente seca. Ainda assim, o descuido humano continua sendo o principal motivador dos incêndios, pela queima de descartes ou de restos de vegetação que acaba perdendo o controle — relata o comandante do batalhão, tenente-coronel Julimar Fortes Pinheiro.
Ele exemplifica com um morador que decide queimar galhos de árvores podadas no pátio de casa. Mesmo que a intenção seja eliminar apenas os descartes, as condições geradas pela estiagem podem facilitar o alastramento do fogo.
— Muitas vezes acaba fugindo do controle e a pessoa coloca em risco a própria integridade, em um primeiro momento e pode queimar outras vegetações, plantações e a própria residência. O aumento do fogo passa a colocar em risco outros moradores e, no caso da proximidade com florestas e áreas de preservação, ameaça também a biodiversidade — alerta Fortes.
ESTRAGO EM BENTO
Um caso parecido foi registrado na Linha Leopoldina, em Bento Gonçalves. A queima de descartes levou a um incêndio de grandes proporções que mobilizou a corporação em um combate que durou toda a tarde do dia 2 de maio, um sábado. No mesmo dia, equipes do 5º BBM também atuavam em incêndios de grandes proporções em Canela, Gramado e Nova Petrópolis, sendo os dois últimos locais de difícil acesso, que exigiram apoio de um helicóptero da Polícia Civil.
Segundo o comandante, mesmo com a chegada do frio e uma possível regularização da incidência de chuvas no Estado, é preciso manter os cuidados redobrados.
— A normalização vai ser gradativa, a vegetação vai continuar seca por um longo período. Assim como adotamos posturas por conta da falta de chuva, que impacta no abastecimento de água em diversos municípios, também precisamos manter, mais ainda, cuidados para evitar as queimadas — completa o comandante.
BOMBEIROS ALERTAM
O Corpo de Bombeiros alerta a população acerca dos comportamentos de riscos, como jogar tocos de cigarro e fósforos acesos na vegetação seca; colocar fogo em lixos, terrenos, em pastagens e beiras de estrada, dentre outros. Ao invés de queimados, materiais de descarte devem ser corretamente destinados, por meio da Codeca ou de recicladoras aptas a receberem os materiais. Vegetação resultante da poda de árvores e outras ações do tipo deve ser recolhidas e descartadas no lixo orgânico.
Compare as cidades com mais casos e quantos focos foram registrados este ano: