
O coronavírus chegou oficialmente na Serra Gaúcha em 11 de março, quando Caxias do Sul confirmou o primeiro caso de covid-19. Desde então, muitas perguntas estão no ar. Afinal, o período de isolamento social, que iniciou em 21 de março e terminou no dia 13 de abril, achatou a famosa curva do contágio? Deu tempo para o governo do Estado e prefeituras se prepararem? A flexibilização está aumentando o contágio? Mas existe uma dúvida que une os mais temerosos com a pandemia e até aqueles negacionistas: o sistema de saúde irá colapsar?
Algumas dessas respostas estão ficando evidentes. Os números são claros de que o isolamento social achatou a curva de contágio nos 23 dias de duração, como mostra o gráfico ao lado. Durante o período, a taxa de crescimento em Caxias do Sul foi de 3% – com isso, até a projeção de colapso do sistema de saúde poderia ser descartada.
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A opinião dos gestores de saúde das duas principais da cidade da Serra é igual: esse tempo foi fundamental.
— A restrição de movimentação social e as medidas de higiene achataram a curva. Nos deu tempo de preparação para o que está por vir, estamos recém começando. Os números vão aumentar, estamos tentando ter o controle desse crescimento — disse Jorge Olavo Castro, secretário municipal da saúde de Caxias do Sul, em entrevista à Gaúcha Serra.
A análise não difere em Bento Gonçalves:
— Conseguimos ter tempo para construir leitos, comprar EPI’s, treinar equipes e nos prepararmos para surtos maiores — ressalta Diogo Siqueira, secretário da saúde.

Mas toda essa estruturação não dá a garantia total de que o sistema está totalmente pronto. O inverno na região é sempre um desafio para quem está na linha de frente da saúde. Afinal, o frio traz diversas síndromes respiratórias. Mas o ano de 2020 trouxe o Sars-Cov-2 e se projetam 90 dias extremamente delicados. Eles podem ser mais fáceis ou difíceis. Tudo dependerá da população.
Desde a flexibilização das restrições de isolamento, os números começaram a crescer e os surtos – como o de Garibaldi – surgiram. Isso demonstra que o vírus está muito bem consolidado e que todos os cuidados são fundamentais. Os números também não mentem sobre isso. Completados os primeiros 14 dias desde a volta da circulação de pessoas pelas ruas, com a reabertura do comércio, os novos casos subiram e a curva entrou definitivamente em ascendência. É sempre bom lembrar que a maior parte de pacientes testados é de casos mais graves.
O crescimento de novos diagnósticos positivos em Caxias parece ser tímido, mas não é. Nos últimos sete dias, a taxa é de 8%, conforme os cálculos do caxiense Isaac Schrarstzhaupt, administrador e consultor de gestão de projetos e riscos. Eles colocam de novo no horizonte o colapso do sistema de saúde.
— Se esse crescimento se mantiver da mesma forma, teremos uma chance grande de estourar os leitos (de UTI) por pacientes de covid-19 em junho — ressalta Isaac.
A matemática é exata nos números consolidados, mas nas projeções ela depende de variáveis. No caso da pandemia de coronavírus, a única variável está no comportamento da população. A higiene, o uso de máscaras e o distanciamento interpessoal são as únicas formas de prevenção. Isso exalta a necessidade de que, se puder, fique em casa.
— A população não pode achar que está terminando, não. Está recém começando. Os cuidados devem permanecer — reafirma Castro.