
Prezando pela saúde dos filhos, muitos pais vêm se mobilizando desde o último domingo (19) para que não haja o retorno das atividades escolares presenciais enquanto a segurança dos estudantes não for garantida. Para isso, há um abaixo-assinado intitulado de "Não a volta às aulas durante o covid-19 na Serra Gaúcha", que já conta com mais de 3,9 mil assinaturas, uma página no Facebook com cerca de 300 likes e um grupo no WhatsApp com mais de 150 pais.
À frente deste movimento, a autônoma Keli Bernardi, que é mãe de Laionel Zimermann, 12 anos, que estuda no Colégio São José. Ela criou o grupo no WhatsApp para mobilizar os pais e acredita que a saúde das crianças não deva ser testada neste momento.
— Elas não têm que pagar para ver, não devem ser expostas sem a gente saber como esse vírus funciona. O meu filho não é do grupo de risco, mas eu não quero que ele retorne. Se as escolas reabrirem, ele é um dos que não vai. E, pelas pesquisas que estamos fazendo, por meio dos grupos de redes sociais, a maioria das pessoas é contra, inclusive esses que são favoráveis ao final do isolamento. Querem que retorne às empresas, mas não querem os filhos na escola — expõe.
Também à frente do movimento, o analista de sistema Jonatan Costa, que criou o abaixo-assinado online, preocupa-se com a filha Amy Ludke da Costa, 11, que tem asma crônica, e com o filho Aron Ludke da Costa, sete. Ambos são estudantes da Escola Municipal Arnaldo Ballvê.
— A minha filha é asmática e já ficou internada duas vezes. Em uma delas, foram 15 dias no hospital. Então, é a preocupação de preservar a vida da minha filha para que ela não corra esse risco e não traga essa doença para casa — conta.
Há pais de todas as classes sociais mobilizados na causa e a preocupação não é apenas com os filhos. O medo é que, com o retorno, as crianças estejam expostas a um vírus que está causando milhares de mortes pelo mundo.
— Tu chegas de manhã, vai mandar teu filho para a escola e não sabes se ele vai voltar infectado ou com possibilidade de morte. Além de poder trazer o vírus para os familiares, podem estar correndo risco de morte. Por isso, a mobilização está tendo uma adesão muito grande — expõe Jonatan.
Por fim, o objetivo deles é um só:
— Manter a segurança das crianças porque a gente sabe que, indiferente de colégio público ou particular, o vírus pode atingir tanto um quanto o outro — defende Keli.

Por necessidade, outros pais acreditam que o retorno deva ocorrer
Com posicionamento diferente dos que se mobilizam contra o retorno das atividades escolares, há pais que acreditam no retorno em caso de necessidade, por exemplo, daqueles que precisam voltar ao trabalho e não podem ficar com as crianças. É o caso do otorrinolaringologista Marcio Broliato, pai de Laura, 4, que frequenta a Escola de Educação Infantil Risque e Rabisque.
— Quem está voltando a trabalhar tem que deixar as crianças na escola, porque não tem onde deixar. Então, é melhor deixar em uma escolinha do que com os avós, que são do grupo de risco. No entanto, quem tem a possibilidade de ficar com os filhos, que está trabalhando em casa, acho que podem permanecer em casa — defende.
Em um possível retorno das atividades, Broliato explica que levaria a filha à escola algumas vezes na semana. Mas que, no momento, ele e a mulher, Sadiana, estão conseguindo se organizar para ficar com ela. Ele entende que os riscos para as crianças não são tão grandes:
— Como médico, tenho lido bastante sobre o assunto. E essa doença tem uma taxa de mortalidade muito pequena em crianças. É quase nula. Então, acho que o problema não seria esse, não vejo nenhum temor no retorno das crianças.
A enfermeira Marina Gorgem também defende o retorno. Ela é mãe de Rafael, 9, estudante do Colégio Madre Imilda.
— Acho que, se tiver as medidas corretas, acredito que pode ter o retorno às aulas — defende.
Marina defende que deve haver uma orientação para que as crianças e responsáveis tenham maior cuidado e segurança num possível retorno:
— Acho que teria que ter uma orientação dos pais e dos professores para o uso da máscara. E como eles já têm a base, todos que estão no 1º, 2º, 3º ano já são crianças inteligentes, podem usar máscara, manter o distanciamento de 1,5 metro e, claro, muita higiene no local — fala.