
Um novo decreto municipal, publicado na quinta-feira (2), definiu que o comércio em Farroupilha permanecerá fechado até a próxima terça-feira (7). A restrição em vigor venceria na quinta e o prefeito Claiton Gonçalves (PDT) decidiu prorrogar a medida enquanto elabora um novo documento, em que permitirá o funcionamento de todas as atividades econômicas. Com isso, o chefe do Executivo mantém a promessa de contrariar o decreto estadual que proíbe a abertura do comércio não essencial.
Analisando a realidade local, com medidas restritivas à circulação dos grupos de risco e recomendações sobre a higiene pessoal e dos ambientes, Claiton Gonçalves diz prever o achatamento da curva de infecção pelo coronavírus, o que significa que os contágios ocorrerão de forma distribuída ao longo dos próximos meses. Segundo o prefeito, funcionários que têm maior risco de agravamento da covid-19, como idosos e pessoas com doenças pré-existentes, não poderão trabalhar. Além disso, a recomendação será que todos que circularem pela cidade usem máscaras caseiras trocadas a cada "duas ou três horas".
— As pessoas que estarão circulando não são pessoas a mais circulando. São as mesmas de hoje, que estão indo na quitanda, na fruteira, no mercado — diz o prefeito.
Leia mais
Descumprindo norma estadual, prefeito de Farroupilha diz que permitirá abertura do comércio na segunda
Após 14 dias, moradores da Vila Jansen, em Farroupilha, saem do isolamento total
Conforme ele, 100 servidores do município estão sendo treinados para atuarem como fiscais. A ideia é que eles orientem pessoas do grupo de risco a voltarem para casa quando estiverem nas ruas e o restante da população a usar máscaras. Quem mora com idosos poderá trabalhar normalmente. Para evitar a transmissão, a aposta do prefeito é que todos cumprirão medidas de higiene antes do contato direto com os integrantes do grupo de risco.
Os acessos secundários ao município também serão fechados e, segundo o prefeito, haverá barreiras para avaliar se quem chega à cidade pelas entradas principais — as ruas Pedro Grendene, Barão do Branco e Júlio de Castilhos, além da avenida Santa Rita — está com febre. As aulas permanecerão suspensas até 30 de abril. Para o serviço público, a previsão é o retorno junto com o comércio, mas com redução no atendimento.
Além do contato com o governo do Estado, Claiton Gonçalves diz que vai "aprofundar" nesta sexta-feira a conversa com o Ministério Público, que na quinta-feira recomendou que os prefeitos obedeçam o decreto estadual.
Ministério Público atua para evitar descumprimento de decreto estadual
Prefeitos gaúchos que não cumprirem o decreto estadual que determina o fechamento do comércio e outras restrições durante a pandemia de coronavírus estarão sujeitos à ação na Justiça, que podem resultar até na perda do mandato e prisão. Pressionados por comerciantes, gestores municipais de algumas cidades do interior estão afirmando que pretendem reabrir lojas.
O procurador-geral de Justiça, Fabiano Dallazen, declarou, nesta sexta-feira (3), que os promotores do Rio Grande do Sul estão sendo orientados a buscar a responsabilização dos políticos em caso de descumprimento:
— Se um prefeito deliberadamente descumprir o decreto, que é o mínimo indicado pelas autoridades sanitárias para o momento, nós vamos buscar a responsabilização por improbidade administrativa e mesmo crime de responsabilidade. Vamos levar ao limite se houver resistência para fazer com que seja cumprido.
Em um primeiro momento, segundo a recomendação da chefia do MP, os promotores devem tentar diálogo e buscar uma solução em acordo. Caso haja resistência, seguir para as ações mais incisivas.
Dallazen afirma que sabe dos prejuízos financeiros e que "é uma situação grave", mas entende que os prefeitos não podem ceder a pressão:
— Atribuo isso a uma atitude demagógica para querer colocar a responsabilidade do fechamento em nível estadual, ou do MP. Acredito que, ao fim e ao cabo, vamos iniciar a semana que vem com todos cumprindo o decreto para não haver a necessidade de enfrentamento judicial.
Ainda de acordo com o procurador, há possibilidade de as promotorias locais entrarem na Justiça para sustar decretos dos prefeitos, para obrigar a fiscalização e para buscar a responsabilização do gestor. Em âmbito estadual, a procuradoria dos prefeitos pode denunciar os gestores criminalmente.
Para Farroupilha, Dallazen diz que a promotoria enviou uma série de questionamentos e aguarda resposta. Em caso de não haver retorno positivo, deve avançar nas medidas judiciais contra o prefeito Claiton Gonçalves.
Procuradoria Geral do Estado diz que vai adotar medidas
A Procuradoria Geral do Estado disse que já adota "providências para representar junto ao Ministério Público do Estado, em virtude da questão criminal, e Ministério Público de Contas (que atua junto ao Tribunal de Contas do Estado) para que atuem. Isso sem prejuízo de outras medidas, inclusive judiciais, que a própria PGE pode adotar".






