Certos endereços de Caxias do Sul parecem atrair a violência mais do que outros. São áreas em bairros centrais cuja história recente remonta a roubos e assassinatos, caso da Rua Marcos Moreschi e arredores, no Pio X.
A via que desemboca na igreja sequer figura na lista das ruas mais inseguras da cidade, de acordo com a Brigada Militar. Mas se antes já carregava a fama de ser perigosa entre moradores e comerciantes, tal pecha ganhou mais peso com a morte da estudante Ana Clara Benin Adami, há 11 dias. Nos últimos 10 anos, outras três pessoas perderam a vida durante assaltos em pontos muito próximos de onde a menina foi baleada.
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A lembrança de tantas vidas perdidas se perpetua entre lideranças comunitárias, trabalhadores e moradores mais antigos do Pio X. Pode ser difícil determinar onde é mais fácil ser alvo de bandidos na cidade visto que a criminalidade é sazonal. Mas os casos de roubo a pedestre e a percepção de quem convive nesses trajetos são um parâmetro.
A BM elabora mapeamento mensal sobre os lugares mais visados de acordo com as ocorrências para organizar o policiamento. Como os ataques migram conforme a presença de PMs, o mapa precisa ser atualizado a todo momento. Na prática, um ponto inseguro hoje pode ser terreno de calmaria nos meses seguintes.
Moradores, por sua vez, se baseiam na lembranças, e também na conversa dos vizinhos. É por aí que ruas do Rio Branco, Lourdes e São Pelegrino, além do Pio X, por exemplo, emergem como cenários de mortes emblemáticas durante assaltos e servem para comunidades avaliarem o grau da insegurança que as cerca. Alguns territórios colecionam índices elevados de delitos contra o patrimônio, e outros são temidos simplesmente por conta da proximidade com pontos de tráfico de drogas, pela falta de iluminação ou movimento de público.
A polícia ainda não sabe quem matou Ana Clara e tampouco se o tiro foi resultado de uma tentativa frustrada de assalto, mas é fato que o desfecho potencializou temores no bairro. Mesmo que a Marcos Moreschi só apareça nas estatísticas pelo caso da estudante, poucos se sentem tranquilos para deixar os filhos transitarem sozinhos ou nas transversais.
Ana Clara inclusive havia sido aconselhada pela mãe a evitar a rua no caminho para a catequese depois que informações de um assalto perto da igreja. A opção mais segura seria a paralela Moreira César, trecho onde a BM registra uma incidência maior de criminosos agindo contra o comércio e poucos ataques contra pedestres.
A garota escolheu a temida Moreschi por considerá-la mais curta e teve um fim trágico.
Assim como em outras áreas de Caxias apontadas como perigosas apenas pelos moradores, o subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), major Emerson Ubirajara de Souza, pondera que o temor é sentido por quem testemunhou ou gravou na memória casos de violência.
- Antes ninguém falava sobre essa rua específica do Pio X, ou os casos não chegavam ao conhecimento da BM, mas não havia delitos graves na rua - diz o oficial, comparando a Moreschi com outras nas na lista onde ocorrem mais roubos a pedestre.
Vício em drogas impulsiona a criminalidade
Subcomandante do 12º BPM e experiente no policiamento de rua, o major Emerson Ubirajara de Souza, confirma um crescimento no roubo a pedestre turbinado pelo vício em drogas, tendência verificada nos últimos 15 anos.
- Alguns delitos acontecem onde existe um ponto de venda de drogas. São Pelegrino tem ali perto a Vila do Cemitério. Lourdes tem o Burgo (Jardelino Ramos) e o Primeiro de Maio. São pequenos roubos, alguns visando o celular para trocar por entorpecente - detalha o oficial.
Levantamento da BM aponta que 40% dos casos não envolve arma e o crime é cometido pela força mesmo. Quase metade ocorre em vias públicas e um percentual de 24% são ataques em paradas de ônibus.
- Pode ter a questão da iluminação também, que estimula o ato. Muitas informações são levadas para os encontros do GCI (Gabinete de Gestão Integrada em Segurança Pública).
Ubirajara traz orientações para prevenir a ação dos bandidos:
- Quando possível não andar sozinho ou falar ao celular na rua, ou andar com o fone de ouvido. Segurar a bolsa na frente ou deixar à vista objetos caros. A oportunidade também faz o ladrão.
NÚMEROS DE JULHO