Babiana Mugnol
A voz firme que brilhou em casas de shows aos poucos foi perdendo a força em um leito de hospital. Há meses, Maria Elisa Gomes, 77 anos, estava internada no Hospital Geral. Ela morreu às vésperas da virada do ano, no dia 30 de dezembro. Deixa, assim, os moradores do Lar São Francisco, em Caxias do Sul, órfãos da alegria que transmitia, apesar da melancolia inerente aos boleros, músicas italianas e tangos que entoava.
Maria Elisa é a primeira de três personagem da série "Quem canta os males espanta", sobre histórias de pessoas que descobriram no talento musical uma forma de superar desafios da vida. A assistente social Rejane Gattelli de Brito Polidoro recorda de como a voz da idosa chamava atenção:
- Ela encantava até mesmo aquelas pessoas que vinham aqui no asilo para cantar - relata a assistente social.
Por se sentir muito só em casa, Maria Elisa Gomes concordou com a internação no lar da velhice. Durante anos, a solidão foi aplacada pelo aplauso das plateias de casas por onde passou pelo Nordeste e também por Buenos Aires, onde morou com o filho que a acompanhou por anos e a visitava nos primeiros meses de asilo, mas que desapareceu nos últimos tempos.
A administração do asilo tentou localizá-lo, mas a informação que obteve é que ele se mudara sem deixar endereço. Maria Elisa sofria de depressão e demência e foi enterrada no Cemitério Público Municipal pela administração do asilo. Maria Elisa agora é verbo conjugado no passado. Mas a voz da cantora não sai da cabeça de quem um dia já a ouviu.
Alheia a pré-julgamentos, a mulher encarou a vida e combateu a solidão cantando.