
Quem circula pelos supermercados e feiras de Caxias do Sul pode até não ter percebido, mas o quilo da uva está mais barato do que no ano passado. De acordo com a última cotação semanal da Ceasa Serra, o quilo da variedade Niágara é comercializado a R$ 4,33, valor 30% menor que os R$ 6,19 cobrados no mesmo período de 2024.
Historicamente, a última semana de janeiro é o período com a maior oferta da fruta e, consequentemente, é a época de encontrá-la com o valor mais baixo nos estabelecimentos. Por isso, o quilo da uva não deve baixar mais que os R$ 4,33 cobrados em média pelos produtores.
Quem trabalha com a agricultura aponta que a redução no preço do quilo da fruta se deve ao aumento na safra em relação ao ano passado. De acordo com a Emater, os produtores de uva esperam colher 45,8% mais do que na safra de 2024, considerado um ano ruim para a agricultura devido aos efeitos do excesso de chuva e que deixou a fruta mais escassa.
— O clima foi o fator preponderante. Tem mais oferta de uva e isso ajuda no preço. No ano passado, muitos produtores perderam quase metade da safra, precisando aumentar o preço para suportar as perdas. Desta vez, é uma safra dentro do normal, e isso ajuda com que o preço despenque. A qualidade também chama a atenção. Choveu menos, as horas de calor colaboraram e temos uma fruta maravilhosa para o consumidor — explica o gerente operacional da Ceasa Serra, Alceu Thomé.

Mesmo assim, o quilo da fruta neste ano é maior do que em 2023, quando o preço médio foi calculado em R$ 3,25.
A redução no preço não é uma exclusividade da fruta símbolo da região.
Ainda conforme a cotação semanal da Ceasa, dos 40 produtos pesquisados, 33 apresentaram queda no preço nesta semana em relação ao mesmo período de 2024. Destaque para as hortaliças, como tomate e repolho, que chegaram a ficar até 200% mais baratos.

"A mão de obra está muito cara", diz produtor
Cerca de 30% dos 120 mil quilos de uva plantadas pelo viticultor David Piccoli são destinados para a venda in natura. O restante vai para a produção de vinhos e sucos. A decisão muitas vezes se deve ao custo com a mão de obra para a colheita da fruta - que acaba sendo incorporado na hora de definir quanto cobrar do consumidor pela fruta.
Na prática, a uva que vai para a venda em supermercados e feiras depende de mais atenção e cuidado - qualidades que acabam não sendo tão necessárias para os cachos que serão fermentados para a produção de bebidas.
— Não está ruim o preço, mas não pode baixar mais que R$ 4. Se não, vai valer mais a pena botar na cantina para fazer vinho. A mão de obra (para a colheita) está muito cara e isso impacta no preço. Pagamos R$ 20 a hora (para colher a uva). Para quem trabalha pode não parecer muito, mas para quem paga é muita coisa — explica ele, que tem propriedade em Monte Bérico.
Diferentemente da Niágara, as variedades Itália e Rubi, classificadas como finas, ficaram mais caras. Em 2025, o quilo é vendido, em média, a R$ 11,83, um pouco maior que os R$ 11,25 comercializados em 2024. Essas variedades são o carro-chefe da propriedade de Maicol Venturin.
A família investiu na cobertura das videiras, o que impede que eles fiquem reféns do clima.
— A nossa uva para consumo in natura é de cultivo protegido, ou seja, a gente consegue ter uma safra padrão, sem altos e baixos. Por isso, conseguimos manter o preço igual e até um pouco menor. A Niágara, como está em excesso, baixou de 10% a 20%. A uva de mesa se manteve. Cobramos entre R$ 5 e R$ 6 o quilo para a Niágara e a uva de mesa entre R$ 14 e R$ 15 — explica.

Uva nas praças até abril
Também é possível encontrar a uva em três bancas instaladas pela prefeitura de Caxias do Sul em praças de Caxias do Sul. Uma delas é administrada pelo produtor Ademir Zanrosso, da Linha 40, que espera comercializar mais de 35 toneladas da fruta somente na Praça Dante Alighieri.
— Foi um ano tranquilo. Dois anos atrás tivemos estiagem, investimos em irrigação. No ano passado, foi o inverso com excesso de chuva. Esse ano, graças a Deus, foi bem tranquilo, com frio e colocar na hora certa, chuva regular, primavera excelente — explica.
A oferta de uva é tão grande que ele estima seguir na praça até abril - no ano passado, as vendas se encerraram ainda em março. O quilo da uva Niágara custa R$ 7,50 e as uvas de mesa chegam a custar R$ 12. É praticamente o mesmo preço do ano passado. O valor é definido pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SMAPA).
— A gente colhe todo dia, coloca na câmara fria para suportar o calor. É um trabalho minucioso. Temos que levar em conta a temporada da comercialização. A uva é a fruta de Caxias, do gringo. Tem muita procura — afirma.

Encontrar uma uva de qualidade direto do produtor é um dos benefícios apontados pelos aposentados Wolmer Soares da Silva, 65 anos, e Ledi Santos Silva, 62. Moradores do Centro, eles desembolsaram cerca de R$ 23 e levaram duas sacolas com uvas de diferentes variedades, que pesaram cerca de três quilos.
— Aqui, ela (uva) é mais fresquinha, tem mais qualidade. Às vezes, a gente vai no mercado e elas estão amassadas, soltas. Aqui o preço é razoável, vale mais a pena — disse Ledi.
Benefícios elogiados também pelo empresário Rafael Facchin, 39.
— Estava pelo Centro e, como o acesso aqui é facilitado, a gente sente que está mais próximo. O preço é bom — afirma.