
Quando a pandemia avançou com força na Serra Gaúcha, em março, forçando a paralisação de atividades para garantir o distanciamento social e evitar o contágio do coronavírus, Evaristo Cagol e Eduardo Pichetti temeram pelo futuro da Lien Artigos Religiosos. Mesmo após o retorno parcial, cerca de duas semanas depois, as incertezas persistiam, pois não havia demanda para a empresa caxiense.
Mas uma luz surgiu quando o telefone tocou em uma manhã no início de junho. Francine Pedron, coordenadora financeira e comercial da Lien, era uma das poucas funcionárias trabalhando naquele dia – muitos ganharam férias neste período já que a fábrica estava praticamente parada. Era um cliente do Rio de Janeiro perguntando se a empresa tinha pinças eucarísticas para vender.
— Enquanto ele (cliente) falava, eu procurava na internet o que era, porque não sabia do que se tratava. Respondi que sim, que fazíamos — conta Francine, atenta à oportunidade que surgia com aquela ligação.
Em 40 anos, a Lien produziu milhares de objetos utilizados em celebrações religiosas, como crucifixos, cálices e castiçais, mas nunca uma pinça eucarística. Foi preciso começar do zero. Um funcionário fez um protótipo em 8 de junho e, dois dias depois, o item entrava na linha de produção da fábrica localizada no Santa Lúcia. Em pouco mais de duas semanas, mais de 1 mil unidades foram vendidas.
— Foi ótimo porque estávamos parados. A gente tinha uma reserva que possibilitou que continuássemos funcionando, mas não sei até quando seria possível — comemora Pichetti, um dos sócios da empresa.
Utilizada pela Igreja Católica em períodos de crise sanitária como a vivida atualmente, a pinça permite que o sacerdote entregue a Santa Comunhão aos fiéis sem tocar na hóstia com a mão, como é feito até então. Na Europa, ela já foi adotada e, com tantos pedidos recebidos pela Lien, logo deve estar presente nas celebrações nos templos brasileiros.
Embora a pinça eucarística não seja utilizada há muito tempo – há registro do uso, por exemplo, durante a peste negra, no Século 14 —, Pichetti espera que as igrejas incorporem definitivamente o hábito.
— Eu acredito que vão manter o uso da pinça depois, porque é bem mais higiênico — diz.
"Foi às cegas, usei a imaginação"

Há 10 anos na Lien Artigos Religiosos, Ederson Pereira, 28, foi o responsável por dar forma à primeira pinça eucarística da empresa. Recebeu as orientações e, mesmo sem nunca ter visto uma na vida, completou o desafio. Depois de um dia de trabalho, entregou o protótipo que serviria de modelo para o novo artigo da fábrica.
— Foi meio às cegas, usei a imaginação — conta.
O projeto foi finalizado pelo designer Maicon Maccagnan e entrou na linha de produção em 10 de junho. O processo envolve várias etapas, desde o corte da chapa, passando pelo banho de ouro até a embalagem. Esse caminho leva pouco mais de uma hora para ser concluído.
— Foi uma coisa nova. Estou me sentindo bem, está vendendo superbem — alegra-se Eder, como é chamado pelos colegas.
Cada pinça custa R$ 140. O maior número de pedidos, conforme Eduardo Pichetti, vem dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, onde a empresa tem diversos clientes. Até semana passada, a Lien ainda não havia vendido nenhuma unidade em Caxias do Sul.
— O bom é que a maioria dos clientes compra a pinça e aproveita para pegar algum outro produto — acrescenta Pichetti.
ETAPAS DA FABRICAÇÃO
Corte da chapa de latão a laser.
Polimento.
Banho de lavagem.
Banho de níquel.
Banho de ouro.
Limpeza.
Colocação da cruz para decoração da peça.
Nova limpeza.
Embalagem.

A EMPRESA
> A Lien foi fundada em fevereiro de 1980 por Evaristo Cagol.
> Em 1982, Eduardo Pichetti, então funcionário da Lien, tornou-se sócio da empresa.
> Quando abriu as portas, ficava no bairro Pio X. Hoje está localizada no Santa Lúcia.
> A empresa produz cerca de 300 diferentes artigos religiosos.
> A fábrica emprega 13 funcionários.




