
No mais recente decreto determinando as flexibilizações durante a crise do coronavírus, o governo do Estado anunciou a liberação para o setor da construção civil. A prefeitura de Caxias do Sul alinhou-se ao posicionamento e autorizou o retorno de 25% dos trabalhos em canteiros de obras na cidade a partir desta segunda-feira (6).
De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Caxias do Sul (Sinduscon), atualmente, o setor conta com cerca de 4 mil trabalhadores atuando no município. Nem todos devem retornar ao trabalho, entretanto.
— Estamos promovendo a conscientização aos nossos trabalhadores, pois queremos que a cidade volte, mas com segurança. Nossos empreiteiros e donos de construtoras têm de estar conscientes que pessoas no grupo de risco, idosos, não podem trabalhar — ressalta o presidente do Sinduscon, Rodrigo Postiglione.
A volta plena do setor, no entanto, depende de toda a cadeia que envolve a construção civil. Por isso, segundo Postiglione, a dinâmica de retorno é ainda incerta.
— A retomada não tem nem como ser imediata. Tem de fazer mobilização de todos os canteiros, recuperar todos os materiais, equipamentos. Levar tudo de volta o que precisamos remover dos canteiros nesse período e depender das concreteiras. Já me informei que materiais de construção vão trabalhar pelo sistema de pedidos e entrega, e as concreteiras também, embora com efetivo reduzido. Temos quatro ou cinco (concreteiras) que já não davam conta de nos atender um dia antes, acredito que agora possam levar mais de uma semana — explica.
Ainda assim, o presidente do Sinduscon destaca a importância da retomada para a própria sobrevivência dos trabalhadores, cuja média salarial da mão de obra é estimada em R$ 2 mil mensais.
— Nossos funcionários cobravam, eram eles que queriam voltar. Tem toda a questão da segurança, mas no momento que passam esses procedimentos, o nosso técnico de segurança da obra tem a confiança do nosso funcionário. A gente sente que eles querem se aproximar para terem a informação mais segura. É algo positivo, porque quando passamos a questão da saúde, higiene, como vão se proteger, eles entendem e levam para a família porque sabem que é uma informação certa, não é duvidosa — avalia Postiglione.
São aproximadamente mil empresas do setor atuando na cidade atualmente, conforme o Sinduscon.
Retomar tempo pedido, mas com cautela
A construção civil depende, na maioria dos casos, de condições climáticas favoráveis. Por isso, o período de suspensão dos trabalhos nas duas semanas em que prevaleceram dias de sol pode ser considerado perdido, do ponto de vista econômico.
— Agora entraremos período de inverno, perdemos cerca de 15 dias de tempo bom, tempo de trabalho. Então, se pegarmos semana de chuva não poderemos trabalhar, a não ser se forem obras cobertas — comenta o presidente do Sinduscon Caxias, Rodrigo Postiglione.
Ainda assim, o anseio de recuperar a parada não deve se sobrepor aos cuidados com a saúde. Postiglione reitera que a liberação da atividade também não deve ser vista como a garantia de que os riscos estão minimizados:
— Tem de ficar bem claro que o decreto só nos dá permissão de início de retomada gradual, ele não extingue a doença. Temos responsabilidade em transformar o nosso colaborador em um agente de saúde. Temos de mostrar para eles como se protege desses vírus.
Ele reforça ainda as recomendações para empresários, proprietários de empreiteiras, construtoras e chefes de obra:
— Temos de colocar na rua só quem tem condições, ninguém do grupo de risco. E quem não está consciente da situação também não está liberado, porque vai prejudicar todo mundo.
Saúde como prioridade
Quando o decreto determinou a paralisação das atividades, a Construtora Mesquita precisou interromper três obras, sendo uma de grande porte. Na visão do sócio proprietário da empresa, Maicon Mesquita, mesmo que gere impacto financeiro, a medida teve efeito positivo de resguardo num momento que demandava cautela.
— Vi muitos lugares abertos nesse período. O pessoal não respeita muito, prioriza o lado financeiro e esquece que prejudica todo mundo. Eu tenho dois filhos pequenos, só de pensar em passar para um filho, o psicológico fala mais alto — avalia.
Para o retorno, Maicon e o pai Osnildo, também sócio da empresa, articulam uma retomada com mudanças, com pessoal reduzido. Ao todo, outros oito trabalhadores colaboravam frequentemente com os dois.
— Tentaremos tocar eu, meu pai e um servente e ver como podemos ajudar o pessoal que trabalha com a gente. Todos são MEI (microempreendedor individual), então acredito que vão ter subsídio do governo, mas vamos ajudar — ressalta Maicon.
As próprias obras precisarão ser analisadas caso a caso:
— Em uma das residências, os proprietários são dois idosos. Fica complicado retomar agora. Vamos ter de fazer planejamento para cada trabalho — complementa.
Sobre os impactos financeiros da parada e de um arranque mais vagaroso aos negócios, Maicon conta que a família tem um planejamento de segurança, justamente visando imprevistos.
— Eu e meu pai nunca gastamos tudo que ganhamos. Trabalhar com obra é muito variável, às vezes tem, às vezes não tem. Temos caixa que não mexemos e serve para essas horas. Pessoal quer ir para a praia todo ano, trocar de carro sempre. O meu carro é o mesmo desde sempre, é um dinheiro que consigo economizar para ter um caixa. Mesmo assim, a gente tem 60 dias de caixa, depois começa a ficar complicado — salienta.
ORIENTAÇÕES

Para orientar trabalhadores da área, o Sinduscon lançou uma cartilha com diretrizes de segurança em saúde. Confira alguns pontos principais abaixo. O material completo pode ser conferido neste link.
> Instalar lavatórios com água e sabão no hall de entrada da empresa com instruções sobre a higienização correta das mãos.
> Fornecer sanitizantes (álcool em gel 70% ou outros adequados à atividade) em diversos pontos da obra.
> Orientar empregados e demais colaboradores sobre a necessidade de distanciamento físico e social dentro e fora da obra.
> Estabelecer política de flexibilidade de jornada para que os empregados não sejam expostos a meios de transporte lotados, possibilitando que se desloquem, ao menos, em horários fora do pico de uso de transporte público em dias úteis.
> Estabelecer política de flexibilidade de jornada para que trabalhadores atendam familiares doentes ou em situação de vulnerabilidade à infecção pelo coronavírus, de forma a obedecer a quarentena e demais orientações dos serviços de saúde.
> Não permitir circulação de crianças e demais familiares dos trabalhadores nos ambientes de trabalho.
> Estar atento às medidas de distanciamento na realização de processos construtivos que envolvam aglomeração, como a concretagem.
> Proteger os trabalhadores acima de 60 anos de idade, portadores de doenças crônicas como diabetes e deficiências pulmonares, mulheres grávidas, entre outros — recomenda-se teletrabalho ou afastamento temporário.
> Dar preferência ao fornecimento de alimentação por marmita para evitar a aglomeração nos refeitórios, ou, caso não seja possível, dividir o horário da refeição e descanso em turnos.
> Incentivar a troca diária dos uniformes e o não compartilhamento dos mesmos, antes de higienizados.
> Orientar e fiscalizar a higienização dos equipamentos de proteção individual e coletivo, assim como os demais equipamentos de uso comum, como pontos eletrônicos e catracas de acesso.
> Determinar aos gestores de contratos e aos subcontratados que notifiquem qualquer afastamento que ocorrer por suspeita da covid-19.
> Limitar a quantidade de pessoas utilizando elevadores fechados (até 2 colaboradores) e nas cremalheiras (até 4).
IMPORTANTE: Tendo em vista que o empregador é responsável pela salubridade do ambiente laboral, caso identifique que algum dos empregados está descumprindo as ordens de higiene e segurança do trabalho, é possível que se aplique as penas de advertência, suspensão e, havendo reincidência, como última medida, a dispensa por justa causa, sendo indispensável que haja ampla divulgação das novas normas/ políticas internas a serem adotadas.