"Testo meus limites todos os dias", diz empresário de Caxias que contraiu paralisia infantil 

Ao longo da vida, desafios profissionais e pessoais costumam marcar (e moldar) a trajetória da maioria das pessoas. Para o empresário Emilio Finger, 53 anos, eles apareceram bem cedo.

Quando ainda tinha seis meses de vida, o diretor da franquia da Racon Caxias contraiu paralisia infantil. A doença afetou os movimentos das pernas e de um dos braços de Finger. Desde então, com foco e coragem, o empresário vem encarando de frente suas limitações:

– Tenho os meus limites, mas testo eles todos os dias e negocio com eles a cada instante. Tentando, caindo, levantando, mas não desistindo. Alguns se tornaram limites que eu não consegui ultrapassar, mas nem por isso eu transformei minha vida em uma frustração – ensina.

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Para compartilhar sua história de superação, Finger palestra nesta quarta-feira na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC), a partir das 19h30min. A palestra se chama Gestão com Coração, já que o empresário conta como geriu a vida equilibrando a razão e a emoção:

– Se fosse pensar só na emoção, possivelmente eu seria um menino frustrado. A emoção disse para aquele menino que ele queria andar muito de bicicleta e nunca conseguiu. Mas nem por isso ele deixou de mergulhar em profundidade de 50 metros, nem por isso ele deixou de jogar futebol (e muito bem), nem por isso deixou de caminhar 10 quilômetros. A frustração em alguns momentos não transformou a minha vida em uma infelicidade – resume.

O Pioneiro conversou com Finger – que é formado em Gestão de Vendas e pai de Rafaela, 22 – sobre alguns dos temas que serão abordados na palestra. Confira trechos da entrevista:

Pioneiro: Como efetivamente transformamos sonhos em objetivos?
Finger: Acreditando neles. Você não consegue transformar nada do que você sonha se você não acreditar. No meu caso, a minha família foi quem me ensinou a sonhar. Como você estimula uma criança que não mexe um braço e duas pernas a sonhar? Me ensinaram fazendo eu acreditar, porque tudo o que eles faziam por mim eles faziam com muito amor. A melhor forma de fazer mais e melhor é fazer com muito amor. Você não tenha dúvidas que as pessoas que amam o que fazem vão mais longe, vão ter mais sucesso, vão ser mais felizes. Não existe um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho. Não tem outro jeito. Não existe 'vou ser feliz quando casar', 'vou ser feliz quando me formar'. Se você se casou e depois de alguns meses viu que não era aquilo, e isso é natural, você se separa. Então quer dizer que nesse momento a tua felicidade foi embora para sempre? Claro que não! É esses enfrentamentos do dia a dia que levo na palestra.

Embora a gestão com o coração, que é o tema da palestra, se refira à sua vida como um todo, os ensinamentos se encaixam muito bem também no meio profissional, certo?
Sim, levamos tudo isso pro profissional! Sempre digo que liderança consiste em liderar você próprio. Não tem outro jeito de fazer uma boa liderança se você não for o líder de você mesmo. O verdadeiro líder não tira nada de ninguém, ele faz as pessoas doarem o seu melhor. Só assim é que elas estão felizes, não é obrigando a fazer nada. Muitos líderes dizem: 'você tem de deixar seus problemas pessoais em casa'. Não existe isso! Imagina minha filha com febre em casa e eu vou trabalhar. Pronto, entrei na empresa, não lembro mais da minha filha. Se algum líder impor isso pra você, ou acorda o líder, ou acorda você. Cai fora que aí não é teu lugar. Esse líder não vai deixar você crescer nada. Ele não vai deixar você almejar nada. O verdadeiro líder é aquele que sente. Que verdadeiramente tem seus sentimentos apurados.

Esse momento de retração econômica e de escândalos na política tem trazido muita angústia para o mercado de trabalho. Qual conselho você daria para os profissionais lidarem melhor com tantas inseguranças?
Muitas das nossas inseguranças existem porque verdadeiramente não acreditamos naquilo que queremos. Se nós acreditamos que vamos ter um país melhor, nós vamos ter um país melhor! Mas ele tem que começar por nós. Não adianta ir para as ruas pedir a cassação de uma presidente, se continuarmos estacionando em vagas para deficientes físicos. Não adianta pedir por um país melhor, se continuarmos burlando pequenas leis porque achamos que elas são pequenas. Leis grandes ou pequenas são iguais. Os meus sonhos e os meus desejos não podem ser considerados melhores do que os seus porque tenho mais ou menos do que você. É preciso respeitar a individualidade das pessoas. Enquanto não respeitarmos isso, vamos continuar pensando que meu sonho é melhor do que o do outro. Essa conta não fecha. Por isso que se você quer um país melhor, um emprego melhor, comece por você.

Isso tem muito a ver com coragem, que é outro assunto da sua palestra. Como que se trabalha essa questão?
A coragem não pode ser medida pelo tamanho do desafio. A coragem tem que ser medida pelo desejo e vontade que você tem para enfrentar os desafios. Porque se for pra medir pela dificuldade, nós começaremos a dizer que algumas coisas não precisam de coragem para serem feitas. E como dizer que eu tenho mais coragem que você? Não existe isso! O que é muito fácil para mim, pode ser muito difícil para você.

A falta de paciência, muitas vezes, atrapalha esse enfrentamento de desafios?Sim, costumo dizer que as pessoas confundem paciência com desistir. Pensam 'demorou demais, então vou desistir porque não deu certo'. Paciência não é parar, nem desistir. Paciência é simplesmente ir mais devagar com nós mesmos. Queremos tudo do dia para noite. Tem uma frase muito bonita que diz: 'a paciência é o intervalo entre a semente e a flor'. A juventude, principalmente, não tem mais paciência para esperar o resultado da determinação dos seus sonhos.

E como se desenvolve a paciência?
Com muita persistência. Você já pensou se aquele menino, quando contraiu paralisia infantil, não tivesse paciência, coragem e todo o resto que comentamos? Ele possivelmente estaria em uma cadeira de rodas.