
Enquanto escrevo, mastigando castanhas-do-pará, constato que, de repente, se multiplicaram as lojas de grãos pela cidade. São muitas! Acho isso bom: sinal de mais informação sobre alimentação natural e de mais gente sintonizada num estilo de vida saudável. Lembro que natureza e saúde se conectam na percepção do corpóreo signo de Virgem, cuja imagem tradicional retrata uma donzela segurando um feixe de trigo.
A virgem simboliza a terra fértil, pronta para produzir, enquanto o trigo na mão é fruto de um literal manuseio da natureza, na forma de alguma técnica. Entre outras associações míticas, essa imagem também é relacionada à deusa romana Ceres, que presidia as plantas e a agricultura e que originou a palavra “cereal”. Sim, uma barrinha de cereais evoca a deusa Ceres! Grãos, em geral, são regidos por Virgem. E cultivar o trigo e transformá-lo em pão é exemplo de técnica virginiana.
A natureza dá a Virgem um modelo de ordem a ser imitado. Animais e plantas costumam interessar, assim como tudo o que deixa o organismo mais pleno e funcional. Na natureza, uma floresta é a somatória de incontáveis relações ecológicas, em que cada parte se conecta com o todo e cada detalhe tem sua função. Nosso corpo também é um organismo gigantesco feito de inúmeras conexões entre os órgãos e aparelhos. Conhecer essas funções e interações é tarefa para Virgem, signo da saúde. E aproximar-se do espelho da natureza é uma boa meta.
Ainda mastigando castanhas, penso no Dia da Árvore e lembro-me de quando conheci as castanheiras, numa viagem à Amazônia. Dos lados da rodovia, notei umas árvores imensas, espaçadas e solitárias, em meio às pastagens sem fim. Depois fui saber: eram castanheiras, que tinham escapado do desmatamento por serem protegidas por lei devido à iminente extinção. Mas aquelas já não produziam castanhas: sem o entorno da mata, não atraíam mais o marimbondo mangangá, o agente polinizador. Estavam vivas, mas estéreis pela ação humana! Essa informação doeu feito a famosa picada do tal marimbondo!
Nativa da Amazônia, a castanheira é conhecida como “rainha da floresta”, por seu grande porte e por dar sustento a tantas populações locais que vivem da extração dos frutos. A castanha-do-pará, ou castanha-do-brasil, é apreciada no mundo todo por seu valor nutricional e farmacêutico. Já tentaram levar mudas para outros cantos, como Antilhas, Malásia e Austrália, mas não deu certo. Elas precisam da exata combinação de fatores que somente o bioma amazônico possui.
A generosa castanheira é prova do quanto a natureza é perfeita ao estabelecer relações de ordem e equilíbrio entre tudo o que é vivo. A cutia, por exemplo, é um roedor que se alimenta de castanhas e que costuma enterrar algumas para comer depois. Só que a cutia termina se esquecendo dos locais, e novas castanheiras nascem das sementes enterradas. Por conta disso, quem vive da castanha não deve caçar cutias.
Em essência, Virgem rege um manuseio da natureza que respeite sua ordem maior. Não vale derrubar centenárias castanheiras para vender sua nobre madeira, o que fez o Brasil perder para a Bolívia o posto de maior exportador de castanhas. Não vale trocar a floresta por pastos e roças de soja, de olho ganancioso num crescimento econômico suicida. Mais que nunca, a agricultura deve ser sustentável.
Neste 2019, a entrada do Sol em Virgem foi sincrônica a notícias terríveis de incêndios criminosos na Amazônia e aos efeitos reais de tais desastres na forma de névoas sombrias sobre os centros urbanos. Alterar um bioma que responde por 40% do território brasileiro não impacta somente na destruição da maior biodiversidade do planeta. As águas evaporadas da floresta costumam viajar pelo céu do Brasil, como rios voadores, para chover bem longe dali. Não se altera isso impunemente. Convém repetir: não se altera isso impunemente!
E paro por aqui. A castanha-do-brasil está deliciosa, mas um insistente pigarro de revolta travou minha garganta.