
Signo do mundo interior, Câncer também rege o passado. Porque somos frutos do que guardamos em nosso arquivo de vivências, conscientes ou não. Caranguejos simbólicos, somos produtos do que nossas pinças prenderam antes na carapaça que agora nos define. Mas também somos aquosos – e líquidos devem fluir, no impulso deste signo que começa uma estação. Então, o que levar ou deixar? O que lembrar ou esquecer? A partir do que somos, o que podemos ser?
De início, somos a promessa do óvulo original: heranças de pai e mãe, rescaldos de avós e bisavós, recortes em carne e sonho de uma linhagem ancestral. Somos abrigo de antigas imagens vertidas em novos anseios; velhos mitos em inéditas roupagens. Mas também podemos ser o que liberta e rompe; lemes de outras rotas de redenção e cura.
Somos a sobra luminosa ou sombria de uma onipresente infância: afago e tapa, aconchego e abandono, inocência e violação. Somos o eco de todas as dores do crescer. Mas, ainda que borrachas não apaguem rasuras da alma, sempre poderemos ao menos esboçar um novo desenho a partir das cicatrizes. E ser o que der, apesar de.
Somos veredas do fluxo cíclico das emoções. Somos todo o sentimento, do êxtase ao pavor, passageiros involuntários de um barco na corredeira incerta dos dias. Dante do medo certo, nossas tenazes instintivas cravam vínculos, no afã da segurança. É quando, cegos de amor, grudamos no que amamos com as unhas da dependência. Mas, superado algum rancor, haverá sempre o tempo de perceber que amar é deixar ser, é deixar ir. Porque toda água flui nos declives do tempo.
Sensível signo da Lua, Câncer é a reafirmação continuada de nossa condição de seres famintos e carentes, mas também a construção gradual do que nos nutre e amadurece. É o querer e o suprir, o receber e o doar. É o passado que não passa, mas, também, a semente de um futuro alicerçado num afeto possível, ciente do que deve ser preservado.
Câncer é o útero do ser individual que terá expressão logo a seguir, em Leão. É a Lua como suporte do Sol, é alma grávida do espírito.
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