
Nesta passagem do Sol por Touro, concluí a leitura do livro Rei Morto, Rei Posto, da inglesa Mary Renault. É uma magnífica versão romanceada do mito do herói grego Teseu, aquele que matou o Minotauro no labirinto da ilha de Creta. Esse mito costuma ser associado ao signo de Touro. A cobiça do rei cretense Minos, ao não sacrificar um certo touro prometido ao deus Poseidon, provocou sua ruína. Afrodite, deusa do amor, fez com que a mulher de Minos ficasse louca de paixão pelo tal touro. Consumado o desejo bestial, a rainha deu à luz um monstro de corpo humano e cabeça de touro, devorador de gente. Típico castigo dos deuses pelos excessos dos mortais. No caso, a possessividade extremada, a ganância.
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No romance de Mary Renault, Creta era um império que subjugava militarmente Atenas e outros reinos, obrigando-os a enviarem rapazes e moças para dançarem na arena entre touros selvagens – o que, na versão do mito, seria o equivalente a serem mortos pelo Minotauro. Creta, a dança ritual e os temas corporais da narrativa me reportaram a outro romance ambientado na mesma ilha grega e que é um dos meus livros do coração, já lido e relido: Zorba, o Grego, de Nikos Kazantzakis. O personagem do título é um velhote rude, que passa a trabalhar para um intelectual inglês, herdeiro de uma mina em Creta. Zorba é sensual, prático, amante da vida e dos prazeres, em contraponto à metafísica angustiada de seu patrão. Quando alegre, Zorba dança; quando triste, dança também, expressando a alma no corpo.
O livro virou filme de sucesso em 1964, com um magistral Anthony Quinn vivendo Zorba. É famosíssima a cena em que ele ensina seu chefe a dançar, à beira-mar. Zorba simboliza a essência do signo de Touro. Ele sente a existência na pele e busca a paz no viver simples, apesar dos inevitáveis sofrimentos. Zorba nos ensina a usufruir o presente, mas sem ganâncias e apegos. O exuberante amor dele pela vida nos contagia. Ah, por essas estranhas coincidências, o ator Anthony Quinn, o eterno Zorba, era um taurino!







