Os últimos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde indicam que Passo Fundo supera a média nacional nos casos de tuberculose, doença infecciosa transmitida pelo ar que acomete o pulmão.
Em 2022, a cidade registrou 78 diagnósticos, uma média de 39 casos a cada 100 mil habitantes. Os casos superaram em 34% os de 2021, além de ser a maior incidência desde 2020 no município. No Brasil, foram 36,3 diagnósticos a cada 100 mil habitantes.
Os dados de 2023 só devem ser publicados por volta de agosto. O motivo: a alta subnotificação, dificuldade no diagnóstico e demora do tratamento tornam a tuberculose uma das doenças mais complexas para se identificar e tratar na rede pública de saúde. O longo protocolo medicamentoso e alta taxa de abandono do acompanhamento fazem com que o levantamento de prevalência da doença esteja sempre com cerca de um ano de atraso.
Apesar dos dados antigos, a tendência é que os indicadores sigam essa média ou sejam ainda maiores por causa da grande subnotificação por trás da doença.
— Às vezes falta a procura pelo atendimento ou não é feito o diagnóstico correto, o que gera essa subnotificação. E a alta incidência acontece por se tratar de um município grande, com vulnerabilidade social, aumento das pessoas em situação de rua, além do presídio, onde é esperada uma alta de casos — afirmou a enfermeira e coordenadora do Serviço de Atendimento Especializado (SAE), Seila de Abreu.
A região de saúde do Planalto, que abrange Passo Fundo e outros 27 municípios, está entre os índices de cura mais baixos. Em 2021, menos da metade das pessoas que contraíram a doença obtiveram melhora do quadro. Na maioria das vezes, o problema se dá pela não conclusão do tratamento, que dura no mínimo seis meses e envolve quatro medicamentos antibióticos.
Segundo os dados do Ministério da Saúde, 2018 foi o ano com mais casos a cada 100 mil habitantes: 54. De 2019 para 2020 há uma queda significativa, provavelmente causado pela pandemia, que interferiu na notificação de diversas doenças. A curva volta a subir a partir de 2022 (veja no gráfico).
Cidade é foco
Por causa do número de casos, Passo Fundo se encaixa nos municípios prioritários para intensificação das ações de controle da tuberculose no Brasil. Os critérios são estabelecidos pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), do Ministério da Saúde. Outras 11 cidades gaúchas constam na lista. São elas:
- Alvorada
- Caxias do Sul
- Canoas
- Gravataí
- Novo Hamburgo
- Pelotas
- Porto Alegre
- Rio Grande
- Santa Maria
- São Leopoldo
- Viamão
Juntos, os municípios representam mais de 70% da carga de tuberculose no RS, conforme a Secretaria Estadual da Saúde. A doença tem relação com os determinantes sociais. A falta de emprego e renda, insegurança alimentar, más condições de moradia e falta de acesso aos serviços de saúde podem influenciar o adoecimento.
— Em Passo Fundo, a maior incidência está nas classes média baixa e baixa, com predominância do sexo masculino e diversas faixas etárias. Mas, em 2023, observamos um aumento significativo em crianças de idade escolar — pontua a enfermeira.
População mais afetada em Passo Fundo
- Usuários de drogas: 50%
- População Privada de Liberdade (PPL): 20%
- Em situação de rua: 10%
- Diabéticos: 10%
- HIV/Aids: 10%
Sintomas e transmissão
Os principais sintomas suspeitos de tuberculose são tosse por mais de três semanas, sudorese noturna, emagrecimento e febre. A transmissão se dá pelo ar, através de gotículas de fala, espirro ou tosse.
Conforme Seila, quem tiver os sintomas deve procurar uma unidade de saúde, para que seja realizada uma avaliação. Em caso de resultado positivo, o tratamento é feito na própria UBS gratuitamente.
No Brasil, a tuberculose é a principal causa de óbito em pessoas que vivem com HIV/Aids. O motivo: a contaminação é frequente em soropositivos por se tratar de uma doença oportunista. Mesmo assim, qualquer pessoa pode ter a doença em algum momento da vida.
— Apesar de haver um público mais vulnerável a doença, qualquer pessoa pode tê-la, já que a transmissão acontece pelo ar. Muitas vezes a bactéria permanece latente no organismo por 10 ou 15 anos e só aparece em um momento de baixa imunidade — alerta a enfermeira.