Aviões israelenses bombardearam neste sábado (20) Hodeida, cidade portuária do Iêmen controlada pelos rebeldes huthis, um dia depois de um ataque mortal com drone a Tel Aviv, reivindicado por estes insurgentes.
Segundo especialistas, tratam-se dos primeiros ataques anunciados por Israel contra o Iêmen, um país em guerra, controlado parcialmente por esses insurgentes, apoiados pelo Irã e aliados do movimento islamista palestino Hamas - em guerra com Israel na Faixa de Gaza desde outubro de 2023.
"O balanço de vítimas do ataque israelense em Hodeida é de três mártires e 87 feridos", reportou a agência de notícias huthi Saba, citando o Ministério da Saúde dos rebeldes.
Há meses, os rebeldes huthis realizam ataques no Mar Vermelho e no Golfo de Áden contra embarcações vinculadas, segundo eles, a Israel, em solidariedade aos palestinos de Gaza.
Mas nesta sexta, um ataque com um drone dos rebeldes deixou um morto em Tel Aviv, após ter burlado o sistema de defesa israelense.
"Tenho uma mensagem para os inimigos de Israel: vamos nos defender por todos os meios, em todas as frentes. Qualquer um que nos atacar pagará um preço muito alto", disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em discurso televisionado após os ataques no Iêmen.
"O sangue dos cidadãos israelenses tem um preço", declarou o ministro da Defesa, Yoav Gallant. "O incêndio que queima em Hodeida é visível em todo o Oriente Médio, e seu significado é evidente".
O exército israelense afirmou que seus "aviões de combate atingiram há pouco alvos militares do regime terrorista huthi na região do porto de Hodeida", no oeste do Iêmen.
Este porto, essencial especialmente para a ajuda humanitária, serve como "principal via de fornecimento de armas do Irã ao Iêmen, começando pelo drone utilizado no ataque" a Tel Aviv, acusou o porta-voz do exército israelense, Daniel Hagari.
Mohamed al Bukhaiti, membro do politburo dos huthis, afirmou que Israel "pagará por atacar instalações civis, e responderemos à escalada com escalada".
O Ministério da Saúde chefiado pelos rebeldes informou mais cedo que os ataques haviam deixado "80 feridos, a maioria deles com queimaduras graves".
- Fogo e chamas -
Segundo Mohamed Abdelsalam, alto dirigente huthi, o ataque tinha como alvo "instalações de armazenamento de combustível e uma central elétrica", que fornece energia para Hodeida, "para pressionar o Iêmen a deixar de apoiar" os palestinos.
"Vamos responder a esta agressão (...) Não hesitaremos em atacar alvos vitais do inimigo israelense", ameaçou Yahya Saree, porta-voz militar dos insurgentes.
A TV Al Masirah, chefiada pelos rebeldes, divulgou imagens supostamente de pessoas socorridas em hospitais após os ataques, várias delas com vendas e deitadas em macas.
Um homem entrevistado pela emissora informou que muitos feridos eram funcionários do porto, onde, segundo as imagens, os ataques provocaram um enorme incêndio que se espalhou e liberou uma espessa coluna de fumaça preta.
"As equipes de defesa civil e os bombeiros tentam apagar o fogo que queima nos depósitos de petróleo do porto", reportou a Al Masirah.
Um morador de Hodeida afirmou que "a cidade está às escuras, as pessoas estão nas ruas e se formaram filas em postos de gasolina, que fecharam".
- "Nova e perigosa fase" -
"Reconhecemos plenamente o direito de Israel à autodefesa", declarou um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, ressaltando que os Estados Unidos, aliados de Israel, "não participaram dos ataques" contra Hodeida.
Em dezembro, Washington criou uma força multinacional para proteger a navegação nesta região estratégica e lançou vários ataques contra os huthis no Iêmen desde janeiro, com ajuda do Reino Unido.
A guerra no Iêmen, um país pobre da península arábica, confronta desde 2014 os huthis e o governo apoiado pela Arábia Saudita e provocou uma das crises humanitárias mais graves do mundo.
O porto de Hodeida é um ponto de entrada-chave para o combustível e as mercadorias nas áreas controladas pelos rebeldes, informou Mohamed Albasha, analista em Oriente Médio para a empresa americana Navanti Group.
"Agora, os comerciantes temem que [esses ataques] piorem a já crítica situação humanitária e de segurança alimentar no norte do Iêmen, já que a maior parte do comércio passa por esse porto", afirmou.
Para o movimento islamista libanês Hezbollah, aliado dos rebeldes huthis e que também abriu uma frente contra Israel por causa da guerra em Gaza, os ataques de sábado anunciam "uma nova e perigosa fase de um enfrentamento muito importante em toda a região".
* AFP