Cinco dias depois do terremoto que devastou o sudoeste do Haiti, as autoridades enfrentam o desafio de entregar ajuda humanitária de forma segura às centenas de milhares de vítimas, algumas das quais vivem em áreas isoladas.
"Temos ao redor de 600.000 pessoas diretamente afetadas e que precisam de ajuda humanitária imediata", disse Jerry Chandler, diretor de proteção civil do Haiti, no Centro de Operações de Emergência Nacional em Porto Príncipe.
"Tivemos que encontrar meios para garantir a segurança, o que continua sendo um grande desafio. Sabemos que havia um problema no nível da saída sul de Porto Príncipe, em Martissant, mas este problema aparentemente está resolvido, já que temos conseguido passar nos dois últimos dias", explicou.
- Trégua informal -
Desde o começo de junho, o trânsito seguro era impossível em dois quilômetros da estrada que atravessa Martissant, bairro pobre da capital haitiana, assolado por confronto entre quadrilhas.
Após o terremoto, cessaram os disparos esporádicos e os ataques ao acaso contra veículos, sem que tenha sido realizada nenhuma operação policial para recuperar o controle do bairro, segundo as autoridades.
Embora esta trégua informal imposta pelos grupos armados seja um alívio para os serviços humanitários, a distribuição de ajuda aos desabrigados não deixa de ser complicada.
"Ocorre que enfrentamos populações um pouco frustradas e impacientes, que causam problemas e precisamente bloqueiam os comboios", disse Jerry Chandler.
"A ideia é poder chegar o mais rapidamente possível e atender a maior quantidade de pessoas", acrescentou.
- Montanhas e desaparecidos -
A mais de 200 km dali, na pequena localidade de Maniche, os moradores esperam o apoio de que tanto precisam após o terremoto de magnitude 7,2, que deixou pelo menos 1.941 mortos e mais de 9.900 feridos.
"Todas as instituições que haviam estão em ruínas. Não temos igrejas, o salão paroquial, o dispensário desabaram totalmente...", enumera, desolada, Rose Hurguelle Point du Jour.
Geordany Bellevue compartilha desta angústia e está especialmente preocupado com as áreas isoladas de sua comuna.
"Nas montanhas houve muitos deslizamentos de terra, que mataram e feriram muita gente. Alguns estão desaparecidos. Não temos capacidade de ir buscá-los nos cumes", diz.
"Já é complicado receber ajuda aqui no centro de Maniche e quando isto acontece, nunca chega às vítimas de áreas isoladas", lamenta, lembrando a gestão da ajuda humanitária após a passagem devastadora do furacão Matthew em 2016.
* AFP