O primeiro-ministro do Quirguistão, Kubatbek Boronov, renunciou nesta terça-feira (6) em meio aos distúrbios e protestos que deixaram ao menos um morto e centenas de feridos, após as eleições legislativas de domingo cujos resultados foram anulados.
Boronov, próximo ao presidente Sooronbai Jeenbekov, foi substituído por um político libertado da prisão na segunda-feira pelos manifestantes, Sadyr Japarov, anunciou a assessoria de imprensa do Parlamento.
"Esta decisão foi tomada em uma reunião extraordinária" do Parlamento, cuja sede foi ocupada pelos manifestantes, o que levou a reunião a ser realizada em um hotel, acrescentou.
Pouco antes, a comissão eleitoral desta ex-república soviética da Ásia central anunciou que os resultados das eleições legislativas "foram invalidados".
Esta decisão ocorreu após uma madrugada de fortes protestos, na qual os manifestantes invadiram a sede do governo e também libertaram da prisão o ex-presidente Almazbek Atambayev, rival de Jeenbekov.
O presidente, de 61 anos e eleito em 2017, anunciou que havia ordenado às forças de segurança que não atirassem contra os manifestantes e que pediu à Comissão Eleitoral Central que "examinasse cuidadosamente todas as irregularidades e, se necessário, anulasse os resultados das eleições", o que aconteceu poucas horas depois.
O controverso resultado das legislativas, com vitória dos partidos favoráveis ao presidente, levou milhares de opositores às ruas da capital Bishkek. Eles pediram a renúncia do presidente e a convocação de novas eleições.
Os confrontos com a polícia terminaram com pelo menos um morto e 686 feridos, segundo porta-vozes do Ministério da Saúde.
- Rússia preocupada -
Na tarde desta terça-feira, os confrontos pareciam se espalhar para outras regiões, embora o presidente afirme que tem a situação sob controle.
Jeenbekov é próximo da Rússia, cujo governo se diz "preocupado" e pediu às forças políticas do Quirguistão que "permaneçam na constitucionalidade" para encontrar "rapidamente uma solução". A base militar russa neste país anunciou que reforçou sua segurança.
Os Estados Unidos também pediram nesta terça que se evite a violência e se busque uma solução pacífica no Quirguistão, ao mesmo tempo em que admitiram sua preocupação pela gestão das legislativas de domingo.
"Pedimos a todas as partes que se abstenham de exercer a violência e resolvam a disputa eleitoral pela via pacífica", disse um porta-voz do Departamento de Estado.
Embora a situação esteja mais tranquila nesta terça do que na noite anterior na capital, os manifestantes mantiveram o controle da sede do governo e outros prédios públicos.
Diante dos assaltos, muitos comércios permaneceram fechados. Segundo a imprensa local, houve distúrbios em algumas províncias com várias minas de ouro e de carvão, importantes fontes de renda para o Estado, que foram controladas ou paralisadas pelos assaltantes.
- "Restaurar a lei" -
A manifestação foi convocada por cinco partidos que não alcançaram os 7% necessários para entrar no Parlamento.
Atambayev estava à espera de um julgamento sob acusações de organizar confrontos e assassinato, vinculadas à sua prisão em 2019, quando uma onda de violência também ameaçou desestabilizar o país.
Os manifestantes libertaram Atambayev "sem fazer uso da força nem de armas", afirmou à AFP um de seus apoiadores, Adil Turdukuov.
Esses protestos lembram os de 2010 e 2015, que derrubaram as autoridades, acusadas de corrupção e concentração de poder e que também foram marcados por assaltos.
Nesta terça, vários líderes da oposição, entre eles um ex-primeiro-ministro, anunciaram que formaram um "conselho de coordenação" destinado a "restaurar a estabilidade e a lei".
Rodeado por governos autoritários, o Quirguistão, um país pobre, é uma exceção democrática na Ásia central, embora as transições políticas sempre tenham sido agitadas.
* AFP