A mesma linha, a mesma estação, a mesma plataforma. Vinte meses depois de 51 pessoas morrerem no centro de Buenos Aires, em uma das maiores tragédias ferroviárias da Argentina, um trem apinhando de passageiros vindo dos arredores da capital argentina não freou ao chegar à Estação Once e invadiu em oito metros a plataforma número 2.
O trauma revivido na capital argentina na manhã de sábado feriu 99 pessoas e reacendeu a polêmica sobre a situação do transporte na Argentina e as críticas contra o governo de Cristina Kirchner em um momento crucial para o futuro do kirchnerismo.
O acidente do fim de semana é o terceiro na mesma linha nesse período - em 13 de junho a 30 quilômetros da capital outro choque provocou três mortos. O país está a uma semana de eleições legislativas nas quais analistas indicam que a corrente de Cristina tende a ser enfraquecida. Para completar, a presidente convalesce de uma cirurgia no crânio e, segundo recomendação médica, não pode sequer ler jornais.
Após a tragédia de 22 de fevereiro de 2012, Cristina nacionalizou a gestão do transporte ferroviário, usado diariamente por 2,7 milhões de pessoas para se deslocar entre Buenos Aires e a região metropolitana. Anunciou uma troca de composições, todas em péssimas condições, por trens fabricados na China e prometeu uma "revolução ferroviária".
As autoridades que investigam as causas do acidente ontem ainda tentavam recuperar o conteúdo das câmeras de segurança instaladas no interior da cabine do motorista em busca de provas. Fontes ligadas à investigação disseram à agência oficial Télam que o maquinista "roubou e tentou destruir" o disco rígido que contém a gravação da câmera antes de ser levado ao hospital onde foi atendido por politraumatismos. O maquinista foi agredido e insultado por várias testemunhas.
Logo após a notícia do choque, a oposição exigiu hoje a renúncia do ministro do Interior e Transporte, Florencio Randazzo. "Randazzo e (o ministro argentino de Planejamento Federal, Julio) De Vido devem renunciar. Demonstraram ser no mínimo ineficazes para melhorar o sistema e irresponsáveis no manejo dos subsídios", disse no Twitter a candidata a deputada Margarita Stolbizer.
Em entrevista, o secretário de Segurança Nacional, Sergio Berni, declarou que o ministério dos Transportes está fazendo grandes esforços para melhorar o serviço, mas deixou uma indireta no ar.
- Sempre que há eleições ocorrem coisas que deixam dúvidas, como operações políticas. Não quer dizer que foi uma operação ou sabotagem, mas perto das eleições sempre acontecem coisas que depois são difíceis de explicar. Por sorte, não tivemos que lamentar mortos e os feridos são leves.
Autoridades afirmam que trem estava em boas condições
Às 7h25min de sábado, o trem vindo dos arredores de Buenos Aires chocou-se contra o para-choque da plataforma 2 da estação Once, causando pânico entre a multidão. Imagens do choque mostram pedestres que quase foram atropelados quando o trem invade a área de espera.
- Vi que o trem chegava, que não freava e então escutei uma explosão muito forte e muitos gritos - relatou uma das testemunhas do acidente, que não acreditava que estivesse acontecendo "outra catástrofe".
O ministro dos Transportes, Florencio Randazzo afirmou que a composição havia passado por todas as revisões técnicas e se submetido a uma revisão integral na última terça-feira. Também assegurou que o trem entrou no terminal a uma velocidade maior que a permitida e que o sistema de GPS tinha indicado que as paradas anteriores haviam sido realizadas "sem inconvenientes", descartando falha no sistema de frenagem.
Em relação ao maquinista, Randazzo disse que o exame de rotina feito antes da jornada de trabalho para indicar o consumo de bebida alcoólica tinha dado resultado negativo e que "em momento algum foram comunicadas falhas à torre de controle" ao longo da viagem.
A linha recebe em média 300 mil passageiros por dia.
Assista ao vídeo do momento da colisão: