Diogo Olivier
Eu não acordava cedo todos os dias, como o meu avô. O seu Luiz despertava quando o galo trepado no primeiro galho da mangueira centenária anunciava o raiar do dia. Nunca encostou a mão em um despertador. Nem precisava. Aquele galo velho tinha uma goela mais vigorosa do que a do Pedro Ernesto e do Marco Antônio Pereira juntas. Se ouvia do outro lado da BR-290, talvez até perto da cidade, lá longe, em Cachoeira do Sul. Depois, o vô tomava chimarrão ao lado do forno a lenha, girava a manivela do poço, nos fundos da casa, para puxar até em cima o balde com água (a melhor água de todos os tempos, podem acreditar), ordenhava a vaca perto do galpão, conferia a ração das galinhas e, somente aí, saía para as lidas campeiras.
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