A paisagem continua exuberante e desafiadora. Aos poucos, porém, começa a transformação da estrutura dos parques nacionais da Serra Geral e Aparados da Serra, em Cambará do Sul.
Há quatro meses sob administração da iniciativa privada, a visitação nos cânions Fortaleza e Itaimbezinho conta agora com ampla sinalização, monitores em todos os trechos e equipes de socorro.
Com investimento inicial de R$ 6,4 milhões até janeiro, a Urbia Cânions Verdes fez as primeiras melhorias e projeta inovações para o segundo semestre, com turismo de aventura e a construção de um restaurante em formato de torre panorâmica.
Com 30 mil hectares, os parques formam um dos principais cartões-postais do Rio Grande do Sul, atraindo cerca de 250 mil visitantes anuais. Mas ao vislumbrar toda a imponência da natureza, o turista não tinha nem sequer um banheiro ou bebedouro à disposição nas trilhas. O cenário começou a mudar em outubro, quando a Urbia assumiu a operação dos serviços após vencer licitação pagando outorga de R$ 20 milhões ao governo federal.
Por enquanto, a maior parte das estruturas é provisória. Todavia, a escassez era tamanha que o pouco já feito faz diferença. No Fortaleza, havia somente um servidor na entrada do parque, responsável pela abertura da porteira e contagem dos visitantes. Uma pequena edícula servia de recepção e banheiro.
Agora, há funcionários cuidando da administração e venda de ingressos, operários construindo um posto de atendimento e um contêiner com banheiros. A estrada interna continua um desafio para carros de passeio, mas toda a área do estacionamento foi terraplanada e, ampliada, tem guias para orientar a melhor posição para os automóveis, de forma a livrar bancos e capôs da incidência de sol forte.
O espaço atrás dos carros, onde turistas improvisavam banheiro, deixando papel higiênico espalhado pelo chão, está limpo e demarcado com cordas e tocos de madeira. Dois bombeiros civis e uma ambulância garantem atendimento em caso de emergência e uma lancheria oferece bebidas, lanches industrializados e souvenir, com mesas ao ar livre. Há internet e energia elétrica gerada por painéis solares.
A maior diferença é de pessoal. Com 40 monitores equipados com rádio e kit de primeiros socorros, é praticamente impossível escapar ao olho humano dentro dos parques. Se até então não havia guias ou brigadistas, agora para onde se olha é possível avistar algum funcionário de uniforme verde. Eles são orientados a não interferir nos passeios dos turistas, permitindo uma visitação autoguiada. Contudo, estão aptos a prestar informações sobre fauna, flora, cuidados essenciais nos trajetos e até explicar como lavas vulcânicas derramadas há 120 milhões deram origem aos vales escarpados.
Nas bordas do perau, foram instaladas cordas e cabos de aço que, presas a estacas de ferro, delimitando a aproximação para evitar riscos de quedas. O mesmo ocorreu na cachoeira do Tigre Preto, onde a inexistência de alertas ou contenção permitia a chegada ao topo da queda d’água, a 800 metros de altura. A travessia do Rio da Pedra também foi sinalizada, com cones cor de laranja indicando o caminho mais seguro. Feita com pedras e tocos de árvores, a escadaria natural foi remodelada e parte do trajeto recebeu cascalho para dificultar derrapagens e entorses de tornozelo, antes comuns no local.
— Nunca tinha vindo e estou achando tudo muito bonito. Estamos impressionados como em todos os lugares há segurança e pessoas dando instruções. É raro locais com a natureza tão preservada e todo mundo muito entusiasmado — diz o industrial Marcelo Pimenta, mineiro de Belo Horizonte em sua primeira visita ao Fortaleza.
No Itaimbezinho, a situação é semelhante. O estacionamento foi ampliado, as trilhas sinalizadas e todos os mirantes reformados. As estruturas de madeira, de onde é possível avistar o abismo, a cachoeira Véu de Noiva e o voo de urubus planando ao sabor das correntes de ar, estavam carcomidas pelo tempo e pela intempérie. As tábuas foram trocadas, pintadas e receberam concreto novo nas fundações, além de telas para evitar escorregões ou mesmo o escape de turistas. Há contêineres com banheiros e lancheria, bombeiros equipados com quadriciclo e mais uma ambulância.
O prédio de dois andares onde funciona a sede do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) está sendo reformado e irá abrigar um centro de atendimento. Ao redor, oito mesas de piquenique recebem a visita diária de gralhas-azuis, já condicionadas pelas sobras de comida. Com 3,2 quilômetros de extensão, a Trilha do Cotovelo recebeu banheiros e uma tenda para reposição de água no meio do caminho, mas ainda preserva um cemitério de viaturas do ICMBio com cinco caminhonetes e duas vans abandonadas.
O terceiro ponto de visitação, o posto do Rio do Boi, é o único que ainda não recebeu melhorias. As obras estão sob análise do ICMBio, responsável pela fiscalização ambiental e por autorizar as ações da Urbia. A primeira, já aprovada, é de modernização na sede da instituição, com troca dos móveis e ampliação do estacionamento. Atualmente, há pelos menos 24 processos de intervenção da Urbia aguardando liberação do ICMBio.
— Eles conversam conosco sobre cada passo e vamos discutindo juntos o melhor caminho. A concessão vem na tentativa de melhorar a experiência do visitante. O ambiente natural é o chamariz e nossa expectativa é oferecer as condições ideais para que ele perceba tudo que a natureza oferece — afirma a chefe da unidade, Sonia Klinker.
Projetos
Conforme as regras da concessão, há 56 intervenções obrigatórias e investimento de R$ 33 milhões ao longo dos 30 anos do contrato. A Urbia, porém, estima um aporte de até R$ 260 milhões, entre investimentos e operação. A ideia é criar novas trilhas, oferecer esportes de aventura, como corridas no mato, passeios de bicicleta, rapel, arvorismo, tirolesa e pêndulo humano, além de opções com mais conforto e luxo, como glampings, hotel e restaurantes com sabores típicos da região.
O objetivo da empresa é fazer dos cânions uma atração turística internacional, triplicando o número de visitantes em seis anos. Com a oferta de serviços mais qualificados, a intenção é seduzir turistas que gastem mais dentro do parque e na região, beneficiando toda a cadeia de negócios. Dessa forma, a Urbia também pretende reduzir a dependência de bilheteria para um patamar de 30% do faturamento. Atualmente, o ingresso de R$ 50 por pessoa é praticamente a única fonte de arrecadação e ainda não garante uma operação superavitária. Com 120 funcionários, a empresa gastou até agora R$ 5 milhões em salários, encargos, consultorias e outras despesas administrativas.
— A gente entende que, dos produtos turísticos da Região Sul, este é o de maior apelo internacional por causa da importância única que tem no mundo, um geoparque prestes a ser reconhecido pela Unesco. E o turista internacional fica mais tempo, gasta mais. Então, daqui a dois, três anos, acreditamos que não só os parques vão mudar, mas também a própria cidade vai se tornar mais próspera e melhorar toda sua estrutura de serviços ao turista — comenta o diretor comercial da Urbia, Samuel Lloyd.
Como visitar
- Parque Nacional da Serra Geral (cânion Fortaleza): quarta a segunda-feira, das 8h às 17h
- Parque Nacional Aparados da Serra (cânion Itaimbezinho): terça-feira a domingo, das 8h às 17h
- Quanto: R$ 50 por pessoa para um dia de visitação e R$ 80 por pessoa para dois dias
- Ingressos e informações: canionsverdes.com.br