Há um mês, a comunidade de Agudo presenciou aquele que foi, provavelmente, o maior incêndio florestal da região central do Rio Grande do Sul. Pelo menos essa é a avaliação do professor do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Mauro Schumacher.
Durante cinco dias, o fogo devastou uma área que, acreditava-se, chegaria a 200 hectares, a maioria em mata nativa, no chamado Cerro da Igreja, no interior do município. As chamas só foram controladas com a ajuda da chuva que caiu já no quinto dia de incêndio.
Desde então, em parceria com a prefeitura de Agudo, uma equipe da UFSM, coordenada pelo professor Schumacher, passou a visitar a área para levantar os estragos e também começar um acompanhamento para ajudar na recuperação da floresta, o que deve durar pelo menos cinco anos.
Os pesquisadores irão ao local a partir do ano que vem com uma frequência um pouco menor, de seis em seis meses. As visitas ao Cerro da Igreja vão servir para fazer avaliações e monitorar se a regeneração da área está ocorrendo e como está sendo a evolução. Dependendo dos resultados, será feito um planejamento para caso seja necessário uma intervenção para ajudar nessa recuperação.
– Nunca tivemos um incêndio dessas proporções aqui na região central. Esse é um tempo mínimo, cinco anos, mas pode ser mais. A cada ano que voltarmos vamos ver o quanto já regenerou. Quando vai caindo aquela camada de flores, ali no meio tem sementes, frutos, animais mortos, e quando passou o fogo, muito disso foi destruído. Será que sobrou alguma semente para regenerar ou vamos ter que plantar nativas ali para ajudar a natureza a voltar ao que era antes? – diz Schumacher, que ministra a disciplina de Incêndio Florestal no curso de Engenharia Florestal da UFSM.
Prejuízo "menor"
A segunda visita da equipe ocorreu na última segunda-feira (18), quando se conseguiu dimensionar com precisão o tamanho da área afetada. Inicialmente estimava-se que entre 180 e 200 hectares foram queimados. No entanto, a destruição foi um pouco menor.
– Desse total, 98 hectares foram de floresta nativa. Capões de eucaliptos, foram 3,28 hectares. E lavouras de milho e outras culturas, queimou em torno de 3,9 hectares, então, se tem uma ideia do que aconteceu. Temos classes de incêndio que vão até o índice 5, nós ficamos na classe 4, que vai de uma área entre 40 e 200 hectares – relata Schumacher.
Nova incursão da equipe na área está marcada para a próxima quarta-feira (27). Embora as coletas de materiais do solo ainda sejam preliminares, já se sabe que os danos causados pelo fogo são muito grandes. O incêndio vai prejudicar não só a flora, mas todo o ecossistema da região.
– Há uma destruição muito grande, não só pelos danos à vegetação, mas ao solo, na qualidade da água, aspectos hidrológicos, e também na fauna. Teve animais, insetos, moluscos, mortos pelo fogo.
Ainda não se tem a confirmação, mas a suspeita é de que o incêndio tenha começado com a queima de palha de arroz em lavouras das redondezas. Por isso, os pesquisadores, em parceria com a secretaria de Educação e com a prefeitura de Agudo, vão desenvolver programas para escolas e agricultores no sentido de conscientizar sobre os perigos das queimadas.