
A estrada que une os vizinhos Capão Bonito do Sul, na Serra, e Lagoa Vermelha, no Norte, tem asfalto nas duas extremidades, mas restam sete quilômetros de terra, barro e poeira no meio do caminho. Isso porque, em 1998, o governo estadual iniciou o asfaltamento da RS-461 por Capão Bonito do Sul e, as gestões seguintes, continuaram no mesmo sentido, cobrindo seis dos 17 quilômetros. Em 2011, parte da rodovia estadual foi federalizada e quatro quilômetros da outra extremidade receberam asfalto.
— Não dá para acreditar que deixaram só o meio da estrada sem asfalto. Custava fazer tudo? A estrada frouxa todo o carro. Se for novo, já sai desse trecho batendo tudo — observa o agricultor Nativo Guindani, 60 anos.
O produtor de soja e milho vinha de Lagoa Vermelha na quarta-feira (19) e festejou ao chegar no asfalto depois de enfrentar os quilômetros de terra que custam R$ 120 mil por ano à prefeitura de Capão Bonito do Sul em manutenção. Em agosto, o município assinou acordo de cooperação com o Estado para poder aplicar recursos na via.
— Sofro com a pressão popular. As pessoas não entendem que a estrada é estadual. Então, decidimos assumir de vez — argumenta o prefeito Felippe Junior Rieth (PDT).
Como ocorre nos demais municípios sem acesso asfáltico, o que chega na cidade tem preço mais alto. Já a produção, precisa ser escoada com valor mais em conta para compensar o custo do frete e tornar o produto competitivo no mercado. Com 1.654 moradores, Capão Bonito do Sul tem 74% da população trabalhando no campo, em 600 propriedades produtoras de cereais. É o terceiro maior PIB per capita entre os 54 municípios sem asfalto, com R$ 81.518,20 de riquezas geradas nas lavouras, especialmente.
Quando o acesso à cidade é por chão batido, a prefeitura pode oferecer pavilhão, isenção de impostos que nada adianta. O município sai do planejamento de qualquer indústria.
MARCELO ARRUDA
Presidente da Comissão dos Municípios sem Acesso Asfáltico da Famurs
O governo do Estado informa que a meta é concluir 10 acessos municipais neste ano, incluindo o de Caraá a Santo Antônio da Patrulha, entregue neste mês, e os de Muliterno, Boqueirão do Leão, Sério e Sertão Santana. Pinhal da Serra e Capão Bonito do Sul estão na relação de obras sem fonte financiadora, portanto, sem previsão de conclusão. Conforme o secretário de Logística e Transportes, Juvir Costella, "o trabalho está sendo feito passo a passo, atendendo, em um primeiro momento, obras que reúnem as melhores condições técnicas e financeiras para serem finalizadas".
Além de recursos próprios e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), o Estado conta, para 2020, com R$ 19 milhões de emendas parlamentares da bancada federal gaúcha, em Brasília, para acessos municipais. As rodovias que receberão esses recursos estão sendo avaliadas.

Conforme a Confederação Nacional do Transporte (CNT), 12,4% das rodovias brasileiras eram asfaltadas em 2019, tornando o país menos competitivo em relação a outros e encarecendo os produtos internamente. O custo operacional de transporte rodoviário aumenta significativamente conforme as condições do pavimento. Em relação a uma rodovia em ótimo estado, os custos de transporte aumentam 18,8% em rodovias com boas condições, 41% em rodovias com estado regular, 65,6% em estradas com situação ruim de conservação e 91,5% em rodovias cujo estado do pavimento seja péssimo.
Ricardo Portella Nunes, coordenador do Conselho de Infraestrutura (Coinfra) da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), explica que na Região Sul, 52% da malha rodoviária foi considerada regular, ruim ou péssima, gerando custo 28,6% maior do que o esperado em transporte:
— Esse aumento de gastos é referente ao transporte de cargas em malha pavimentada, que representa pouco mais de 12% do total de vias no país. Esse aumento é, portanto, ainda maior quando se leva em conta o transporte de cargas em estradas sem asfalto.
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