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Um encontro na véspera da eleição argentina, em uma casa de campo no reservado condomínio Pacheco Golf Park (município de Tigre, ao norte de Buenos Aires), serviu para o delineamento da espinha dorsal do que será o governo de Mauricio Macri, que sucederá 12 anos de poder kirchnerista (conservador liberal, Macri enfrentou o peronista conservador Daniel Scioli, candidato governista de ocasião).
Exemplo do que ocorrerá sob Macri: o Brasil e a questão financeira, na relação com os credores internacionais, serão tratados como as prioridades mais urgentes para um país cujas reservas em moeda forte estão quase zeradas. Três parlamentares do núcleo duro de Macri se reuniram com 10 jornalistas de veículos internacionais para conversar sobre o governo que provavelmente tenha a vitória eleitoral confirmada neste domingo. Entre os veículos brasileiros, estavam apenas Zero Hora e a Globo News. Havia também representantes de Estados Unidos (CNN), Grã-Bretanha (Financial Times), Espanha (El Pais), Chile, Holanda, Itália e Uruguai.
Os parlamentares presentes eram a deputada Patricia Bullrich, que será a líder da bancada macrista (confira entrevista em vídeo abaixo), o deputado Eduardo Amadeo e o senador Federico Pinedo. A conversa, de cerca de três horas, resultou em uma série de revelações. De certa forma, foi quase como se o próprio Macri estivesse ali falando de seu eventual futuro governo. Aliás, talvez ele evitasse ser tão enfático em alguns temas. Leia, em tópicos, o que os macristas do primeiro time disseram:
Acompanhe o repórter Léo Gerchmann, enviado especial de ZH, no Twitter:
Como foi a campanha?
Nas palavras de Eduardo Amadeo, "a campanha negativa foi fatal para Scioli". Mas, como pondera Patricia Bullrich, "eles não tiveram outra alternativa no segundo turno". O fato é que o núcleo duro macrista faz a seguinte avaliação, amparadas em pesquisas internas: o número de pessoas que rejeitam Macri foi diminuindo e aumentando os que rejeitam Scioli quando Macri foi para os bairros pobres e se aproximou de pessoas carentes. Nesse momento, foi criado o antídoto contra o que os parlamentares definem como "jogo sujo" de Scioli, que procurou etiquetar Macri como o "filhinho de papai", como se ele próprio, Scioli, não fosse filho também de próspera família do meio empresarial. Outra avaliação da campanha: Scioli perdeu muitos votos quando viajou para a Itália, a descanso, quando houve uma inundação na província de Buenos Aires, da qual ele é o governador. Macri é o prefeito da cidade de Buenos Aires, a capital federal, e ficou próximo das vítimas da enxurrada. Ali, também mostrou um lado popular e não elitista.
Como será para governar sem maioria?
Há uma aposta do núcleo duro no seguinte fenômeno: com Cristina Kirchner longe do poder, muitos peronistas, até mesmo os de corte kirchnerista, tratarão de buscar novas alianças. Os três parlamentares chamam a atenção para a possibilidade de o "kirchnerismo" ficar sem um condutor. E mais: uma oposição raivosa poderia deixar com Sergio Massa (dissidente do kirchnerismo que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais) a condição de opositor moderado, o que cai bem ao gosto do eleitorado. Patricia faz a seguinte declaração:
- Cristina deixaria o La Cámpora (grupo da sua base liderado pelo filho Máximo Kirchner) bloquear estradas e se desgastar enquanto outros agem com inteligência e faturam a simpatia da população? - pergunta a deputada.
Quais serão as prioridades de Macri?
Piñero diz, de forma enfática:
- As prioridades serão o Brasil e as finanças.
Em outras palavras, caso seja eleito, Macri fará sua primeira visita internacional à presidente brasileira Dilma Rousseff. E lhe pedirá que evite uma desvalorização do real prejudicial à economia argentina. Sim, ele realmente fará sua primeira viagem ao Brasil, para buscar uma aproximação. E pedirá que o Brasil não desvalorize a moeda, o que inibiria o comércio bilateral. Sobre as finanças, Macri procurará os credores internacionais para renegociar a dívida, uma vez que o governo enfrenta um desacordo com os fundos especulativos e provoca temores em quem poderia investir no país. Patricia conta que, por conta da insegurança que isso provoca, o Japão, por exemplo, diminuiu de 150 para 50 as empresas na Argentina. A indefinição com os credores internacionais, na visão dos parlamentares, inibe investimentos externos.
Política externa
É provável que a mulher de Leopoldo López, o preso político mais famoso da Venezuela, venha neste domingo a Buenos Aires e acompanhe a contagem dos votos com os apoiadores de Macri. Isso é sintomático. Caso continuem situações como a dos presos políticos na Venezuela, Macri pedirá o cumprimento da cláusula democrática no Mercosul. A Venezuela, nesse caso, seria afastada. Os três se repetem ao enfatizar: não querem que a Venezuela seja "modelo de democracia" na América Latina.
Caso Nisman
Serão aprofundadas as investigações sobre a morte suspeita do procurador que iria denunciar a presidente no dia seguinte por supostas relações promíscuas com suspeitos iranianos no atentado terrorista à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia). Patricia é a parlamentar que mais atuou nesse caso. Diz que certamente aparecerão novas provas, cuja apresentação vinha sendo evitada. E fala em retomar também as investigações do próprio Nisman sobre o que seria o acobertamento do governo a supostos terroristas iranianos. Patricia aposta no surgimento, entre outras provas, de gravações comprometedoras. A deputada ainda diz que o governo macrista "deixará a Justiça trabalhar livre".
- Já no dia 23 (a segunda-feira, um dia após a votação deste domingo), os processos começarão a andar mais rapidamente na Justiça - diz ela.
Malvinas
O objetivo é fazer com que as negociações retornem ao estágio pré-guerra (ocorrida em 1982, quando o regime militar já sofria desgastes e apelou para um fato político de impacto, sofrendo com a reação militar britânica). O grupo sustenta que, apesar da ditadura, antes havia o clima para um acerto, talvez com o estabelecimento de um prazo para a transição do atual status até a saída britânica. Seria um "tempo de passagem". Fala-se, ainda, em coadministração argentina e britânica.