Difícil permanecer tranquilo quando, em nervosos recados pelo telefone, uma voz feminina avisa que os chefes do crime organizado nos presídios decidiram fazer um "ataque" em massa à Porto nem tão Alegre assim. Quem tem filho jovem saindo para a balada, tem medo.
O recado impressiona, inclusive aos que têm mais de 30 anos de cobertura criminal, como este colunista. Mesmo sabendo que a bandidagem gaúcha é rachada, cheia de rivalidades e jamais conseguiu organizar ataques sistemáticos, como os já ocorridos em outros Estados. Mesmo lembrando que os boatos arrasa-quarteirão coincidem com a semana da maior greve já feita pelos policiais gaúchos (só coincidem?).
Até pela greve policial - suspensa sexta-feira, mas que pode retornar em decorrência da falta de pagamento de salários - é correto imaginar que os criminosos estão se achando. Aproveitam o momento de fragilidade dos policiais, sem salário e desanimados, para escolher alvos e correr pelas cidades. Menos mal que policial que honra o cargo abraça a profissão a qualquer hora. Prova disso está nos PMs baleados por bandidos sexta-feira, no cumprimento do dever.
As estatísticas comparando crimes antes e depois da paralisação policial ainda não foram divulgadas, mas já se sabe que roubos e assassinatos cresceram exponencialmente.
Mas, muito além de números, o que assusta é a ousadia. Dois supermercados em áreas movimentadas foram assaltados com a clientela ainda dentro. Um pub de luxo foi saqueado. Policiais fardados foram baleados. Transeuntes levaram tiros. Clientes do comércio foram vitimados por arrastões. Por trás de tudo, uma palavra: desrespeito. A bandidagem perdeu o freio. Muito pela paralisia oriunda do desânimo que contamina as decisões governamentais, nesses tempos de cofres vazios e esperanças também.
*Zero Hora