Rosane de Oliveira
Todos os discursos na convenção nacional do PSDB, no domingo, miram na mesma direção: a certeza de que a presidente Dilma Rousseff não chegará ao final do mandato.
Do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao candidato derrotado na eleição passada, Aécio Neves, passando pelo governador Geraldo Alckmin e pelo senador José Serra, todos dizem, nas linhas ou nas entrelinhas, que o governo Dilma está com os dias contados por uma conjunção de fatores que se convencionou chamar de tempestade perfeita.
A tempestade perfeita combina as crises política e econômica com a ameaça de rejeição das contas de campanha pelo Tribunal Superior Eleitoral, baixa popularidade da presidente e a incapacidade de reação do Palácio do Planalto. Isolada do PT, Dilma depende de aliados que não se jogariam no fogo por ela.
Bem ao contrário, fazem jogo duplo: ocupam cargos, usufruem do poder, mas não estão fechados com o governo e conversam com a oposição sobre uma eventual aliança em caso de impeachment ou de rejeição das contas.
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No discurso, Aécio disse que não perdeu a eleição para um partido político, mas para uma "organização criminosa":
- Esse grupo político que está aí caminha a passos largos para a interrupção do seu mandato - discursou Aécio, presidente reeleito do PSDB.
Os líderes tucanos deram a entender que não tomarão a iniciativa de propor o impeachment, mas que, se Dilma cair, o partido estará pronto para assumir seu papel na condução do país.
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O cenário preferido dos tucanos é aquele em que o TSE rejeita as contas de Dilma, porque, nesse caso, cairia também o vice-presidente Michel Temer. Nesse cenário, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), assumiria a Presidência do país e novas eleições teriam de ser realizadas em quatro meses. Em caso de impeachment, só Dilma perderia o mandato, que seria completado por Temer.
No calendário da crise, o dia mais esperado pelos opositores é o 14 de julho, data prevista para o depoimento do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC, ao TSE. Como Pessoa já declarou que doou dinheiro desviado da Petrobras para a campanha de Dilma, os tucanos consideram seu depoimento crucial para a possível rejeição das contas.