Frescor que vem do subsolo
O maior vilão da conta de energia elétrica, especialmente no verão, é o ar condicionado - responsável por 20% do consumo residencial. Pensando nisso, um grupo estudantes e professores da UFSM decidiu usar a energia geotérmica, o calor da terra, para refrescar ou aquecer os ambientes.
A superfície do solo é naturalmente aquecida pelo sol, mas, a 15 metros de profundidade, a temperatura é sempre de 19,5ºC, em Santa Maria. E é essa temperatura debaixo da terra que vai ajudar a resfriar ou aquecer a superfície. Quem explica é o pós-doutor em Fontes Alternativas de Energia pela Colorado School Of Mines, nos Estados Unidos, Félix Alberto Farret. Para usar essa energia, precisa-se de uma mangueira de jardim, uma bomba de 14 watts e um ventilador de 35 watts. A mangueira é enterrada em 15 metros de profundidade. Outra parte fica do lado de fora, onde uma pequena serpentina de cobre ou alumínio, a bomba e o ventilador são instalados.
A água fica circulando dentro da mangueira, embaixo da terra e dentro da casa, com o auxílio da bomba. O ventilador ajuda a distribuir e acelerar a troca de calor. O sistema desenvolvido pelo grupo pode ser construído com cerca de R$ 1 mil.
- Com a bomba e o ventilador temos um gasto de 50 watts. Um ar condicionado gasta, em médio, 1,5 mil watts, 30 vezes mais - destaca Farret, que é professor do curso de Engenharia Elétrica da UFSM.
A energia geotérmica tem várias vantagens: a emissão de gases poluentes é praticamente nula, a área necessária para a instalação de uma usina é pequena e ela ainda pode abastecer comunidades isoladas. O professor também sugere que o mesmo sistema pode ser construído em rios e no mar, onde a temperatura na profundidade também é baixa e não varia.
- Esse sistema pode resfriar uma casa pequena ou um prédio inteiro. Nossa expectativa é que daqui uns 30 anos ele já seja comum nas novas construções civis - afirma.
Lâmpada para limpar água
A economia de energia elétrica através de fontes alternativas também pode acontecer de forma indireta: economizando água ou mantendo os ambientes de uma casa mais aquecidos ou refrigerados, por exemplo. Usado já em algumas empresas do Canadá, o sistema elaborado pelo professor do curso de Engenharia Química da Unifra, Rodrigo Salazar, promete deixar a água limpinha apenas com o uso de uma lâmpada ultravioleta.
É um substituto do cloro, mas que não deixa gosto nem cor na água.
A lâmpada fica dentro de um cano de PVC. Em uma das pontas entra a água não-potável, que passa pelo tubo, sofre um processo de redução da carga orgânica e desinfecção com o uso de reagentes e radiação, e sai do outro lado pronta para beber. Em uma hora de tratamento, é possível reduzir 45% da carga orgânica e fazer a desinfecção completa da água.
- O uso doméstico é viável, basta acoplar na torneira. Algumas empresas canadenses já a usam para limpar a água dos banheiros - garante o professor.
A energia do azulejo
Há quatro anos, o professor do curso de Engenharia de Materiais da Unifra Rubens Camaratta estuda uma forma de produzir energia solar eficiente e de baixo custo. Ele criou um azulejo fotovoltaico, que funciona como célula solar e que pode ser colocado em pisos e paredes. A fachada só precisa ser ventilada, ou seja, o azulejo não pode encostar na alvenaria. Feito de cerâmica comum, ele tem várias camadas de semicondutores, sensibilizadores e eletrólitos. Ainda não existe um cálculo, mas o fato é que este tipo de sistema será muito mais barato do que as células solares comuns de hoje, fabricadas com silício monocristalino.
- Estou estudando cada camada aos poucos, mas acredito que até o fim do ano esteja tudo concluído. Depois, só precisamos de alguma empresa que tenha interesse em comprar a ideia e fabricar em grande escala - afirma o professor.
Estudante de Engenharia de Materiais da mesma instituição, Fabrício Ravanello Mariosi está trabalhando em um isolante térmico e acústico feito de vidro moído reciclado e carbonato de cálcio. Leve e barato, ele reutiliza materiais que, muitas vezes, são descartados e poupa recursos naturais, o que pode ajudar a manter a casa menos quente ou menos fria, evitando o uso de ar-condicionado ou aquecedor.
O campeão da economia
Que tal fazer uma viagem de Santa Maria a Porto Alegre com apenas um litro de gasolina? Um protótipo desenvolvido por estudantes e professores do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (Ctism) já consegue a façanha. Por enquanto, ele é usado apenas em competições, mas pode virar comum nas ruas nos próximos anos, com a evolução da tecnologia.
- Nós gostamos de conforto, de ar-condicionado, de direção hidráulica e de potência de motor, mas tudo isso consome combustível. Futuramente, a gasolina pode ficar tão cara, que, com certeza, vai valer a pena abrir mão de alguns luxos - afirma o professor e diretor do colégio, Luciano Caldeira Vilanova.
Na última Maratona Universitária de Eficiência Energética, em São Paulo, o carro modelo V-2 atingiu a marca de 171 quilômetros por litro (km/l) na categoria Etanol, e o carro "Otto", 303 km/l, na categoria Gasolina. Os resultados garantiram ao grupo o terceiro lugar na competição. Os veículos são 20 vezes mais econômicos que carros populares 1.0, por exemplo. O professor explica o que garante tanta economia:
- O carro não desperdiça energia porque o motor se desliga quando não está em uso (parado numa sinaleira, por exemplo). Além disso, o motor é pequeno, o carro tem espaço para um passageiro, e tudo isso influencia na economia.
Vilanova observa que o protótipo, que atinge uma velocidade máxima de 60 km/h, ainda pode demorar para se tornar viável para o uso diário, mas com a modernização dos sistemas, tudo é possível.
Economia sustentável
Protótipo feito por equipe da UFSM consome só um litro de gasolina para ir de Santa Maria até Porto Alegre
Ideias brilhantes para poupar: O caminho da inovação é reduzir o gasto com eletricidade e combustível
Alessandra Noal
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