
As pesquisas eleitorais são um importante instrumento na cobertura jornalística durante períodos próximos à data da votação. Também servem como parâmetro para partidos políticos avaliarem suas campanhas e para os eleitores analisarem as chances de o candidato de sua preferência vencer.
Muitas dúvidas cercam a realização das pesquisas eleitorais. A principal delas refere-se ao número de entrevistados pelos institutos - geralmente entre 1 mil e 4 mil eleitores. É possível realizar uma estimativa de intenções de voto analisando as respostas de uma amostra infinitamente menor do que o número de eleitores? De acordo com especialistas em estatística, sim.
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Zero Hora elencou algumas questões sobre a realização dessas pesquisas. As respostas são baseadas em explicações de especialistas em estatística e pesquisa de opinião pública. Colaboraram com as respostas: Márcia Cavallari, vice-coordenadora do comitê de opinião pública da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), Hélio Radke Bittencourt, professor do Departamento de Estatística da Faculdade de Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Willian Barros, professor-adjunto do Departamento de Matemática e Estatística da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
Como são definidas as pessoas que responderão à pesquisa?
Isso varia conforme o instituto de pesquisa. Existem inúmeras possibilidades. A mais utilizada no caso das eleições é a definição de uma amostra - parte da população que é consultada - não-probabilística, que estabelece cotas (gênero, classe social, faixa etária, escolaridade etc) para estimar a população de eleitores. Por exemplo, se o número de eleitores mulheres for de 55% e de homens 45% em uma determinada região, essa amostra deve seguir um percentual semelhante, para simular com mais precisão. Esse mesmo modelo também serve para as cotas de classe social e faixa etária. Ou seja, se o número de votantes entre 18 e 25 anos representa 30% dos eleitores de uma área específica, ela deve estar presente em uma porcentagem semelhante no levantamento.
Outro importante fator de definição é a regionalização. No caso de um país, as principais capitais devem ser consultadas, além de outras cidades escolhidas de forma aleatória. Quando a pesquisa é estadual, da mesma forma, os municípios de maior porte têm de estar contemplados no levantamento e os menores são, usualmente, definidos por sorteio.
Como os entrevistadores realizam a abordagem e fazem as entrevistas?
Há duas possibilidades: domiciliar e em pontos de fluxo. Na domiciliar, o entrevistador bate de casa em casa e vê se as pessoas estão de acordo com as características solicitadas (conforme as cotas de amostragem). O entrevistador assinala as respostas. No ponto de fluxo, o modelo de entrevista é semelhante, a diferença está na abordagem, que é feita às pessoas que passam pelo local. Os questionários têm duas perguntas principais, uma espontânea (sem indicar os candidatos) e outra estimulada (com as opções que o eleitor tem para votar). A espontânea pergunta: "Se as eleições fossem hoje, em quem você votaria?". A estimulada questiona: "Se as eleições fossem hoje e os candidatos fossem estes, em quem você votaria?". Cabe salientar que quando os candidatos são indicados pela pesquisa, ela se apresenta em formato circular, semelhante a uma pizza. Isso faz com que não haja uma ordem, uma sequência, que possa influenciar na decisão do entrevistado .
A maioria das pesquisas eleitorais consulta entre 1 mil e 4 mil eleitores. Como é possível essa amostra representar, por exemplo, a população brasileira, que tem mais de 2 milhões de pessoas?
De acordo com os especialistas, as pesquisas são uma representação amostral do momento, calculadas com base na margem de erro e na confiabilidade. Elas estão sujeitas a erros, mas a tendência é que se aproximem da intenção real dos eleitores. Cabe às instituições realizar uma amostragem bem representativa, que viabilize estimar os valores com maior precisão.
Por que não podemos comparar as pesquisas de institutos diferentes, mesmo quando a data de realização é a mesma?
São vários os fatores que diferenciam uma pesquisa da outra: a metodologia utilizada pelos institutos, o tipo de amostragem (critérios de definição dos entrevistados) e as regiões em que os dados foram coletados.
Como são feitas as checagens após as entrevistas?
Todos os levantamentos devem, segundo o código de ética das empresas de pesquisa, verificar cerca de 20% do trabalho realizado. Ou seja, se 1 mil pessoas são entrevistadas, 200 devem ser consultadas para verificar se, de fato, aquelas foram suas respostas. Para isso, existe a figura do "checador", que aborda algumas pessoas que foram entrevistadas e confirma se os dados batem com aqueles que foram informados pelo entrevistador.
O que é a margem de erro e como ela é definida?
A margem de erro é definida antes da contratação das pesquisas. O contratante pede ao instituto que realize um levantamento seguindo parâmetros que determinem um X de pontos percentuais para mais ou para menos. Com base nesse dado, o instituto define o tamanho da amostra. Quanto maior o número de eleitores consultados, menor é a margem de erro. Segundo os testes e simulações realizados pelos especialistas, a amostra para analisar 200 milhões ou 100 mil eleitores não é muito diferente, visto que o número é considerado como "população infinita". Para que uma pesquisa em que a margem de erro caia de 2% para 1%, o número de entrevistados teria que aumentar quatro vezes, o que significa um custo maior.
O que é o nível de confiabilidade?
O nível de confiabilidade, assim como a margem de erro, é definido antes da contratação das pesquisas. O cálculo realizado para chegar a esta porcentagem também se baseia no tamanho da amostra consultada. Isso significa que, se o nível de confiabilidade for de 95%, em um universo de 100 pesquisas, 95 delas devem apresentar resultados que estão dentro da margem de erro. Cinco delas podem indicar intenções de voto fora do esperado.
*Zero Hora