
A aula do segundo período de uma turma do 2º ano do Colégio Padre Rambo, em Porto Alegre, mal tinha começado quando um barulho interrompeu a chamada conduzida pelo professor de Educação Física. O que, inicialmente, parecia o ruído de um rojão lançado no auditório do segundo andar era, na verdade, o disparo de um revólver. O tiro acidental descarregado por um aluno de 19 anos atingiu de raspão uma estudante de 15 anos, ferida no ombro esquerdo. A instituição de Ensino Médio fica na Avenida Bento Gonçalves, bairro Partenon, zona leste da cidade.
Maiter Sousa de Moura, 19 anos, foi preso como responsável pelo disparo. Ele havia ingressado na escola neste ano e não tinha passagens pela polícia. Um adolescente de 17 anos também foi apreendido, suspeito de ter escondido a arma - um revólver calibre 38. Eles foram encaminhados ao Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca) para prestar esclarecimentos. O jovem detido disse que estava mexendo na arma dentro da mochila quando o revólver disparou acidentalmente.
- A arma disparou acidentalmente dentro da sala. Eu nunca tinha ido para a escola armado, achei a arma na rua antes de entrar no colégio - alegou Maiter.
No Deca, onde prestou esclarecimentos, Maiter admitiu que disparou acidentalmente o revólver
Foto: Ronaldi Bernardi, Agência RBS
No tumulto que seguiu o disparo, Maiter teria descido para o pátio da escola e entregado a arma a um amigo de outra classe, que escondeu o revólver. Logo após o acidente, as aulas da manhã foram suspensas, e os cerca de 400 alunos do turno, liberados. Conforme a direção do colégio, os trabalhos na instituição só devem ser retomados na quinta-feira. Abalada, a vice-diretora do Colégio Padre Rambo, Dinora Trojan, disse que é a primeira vez que uma situação como essa ocorre no local:
- Esta não é a rotina da nossa escola. Em 15 anos que trabalho no colégio, nunca havia acontecido nada parecido. Enfrentamos as dificuldades normais de uma escola pública, mas não temos uma rotina de violência.
A menina ferida recebeu atendimento médico e passa bem. Aos cerca de 35 alunos que estavam dentro da sala onde houve o disparo, restou o susto do episódio.
- O professor estava fazendo a chamada, e ouvimos um barulho muito alto. Todo mundo se assustou, mas voltamos ao normal. Ninguém ia imaginar que era um tiro. A minha colega reclamou de dor no ombro, e um outro colega achou o projétil no chão. Foi quando vimos o braço dela sangrando e todo mundo começou a correr - relatou uma menina de 15 anos.
- Deu para perceber que ele (Maiter) ficou apreensivo. Nunca pensei que ele viesse armado para o colégio. Ele é bem tranquilo, só não vem muito na aula, mas, quando vem, fica mais na dele - contou um colega da mesma classe.
Coordenadoria aponta que caso foi exceção
Titular da 1ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), responsável por 258 escolas da Capital, Rozane Dalsasso salienta que esse caso foi uma exceção no Colégio Padre Rambo. A professora, que esteve no local durante a manhã com a assessoria jurídica da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), diz que serão aguardadas as conclusões do inquérito e, paralelamente, a direção será orientada a aplicar penalidades se forem confirmadas as participações dos dois estudantes.
- A escola é o local da paz, é um centro de cultura e conhecimento que tem de ser respeitado. A comunidade está abalada com o acontecimento, pois a violência da rua está entrando na escola. E temos que evitar isso - relata a coordenadora.
A instituição solicitou apoio na realização de palestras que tratem do tema. A coordenadoria conta com um comitê de prevenção à violência escolar. Conforme o delegado regional de Porto Alegre, Cléber Ferreira, é provável que a investigação sobre o caso seja aberta na 11ª Delegacia da Polícia Civil.
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