Não é de hoje que as superbactérias põem em alerta os sistemas de saúde no Estado. Cada vez que um caso é diagnosticado, acende a luz vermelha para o controle de infecção hospitalar, já que não há tratamento e a única saída é isolar o paciente. Na terça-feira, o Hospital Conceição, em Porto Alegre, emitiu nota confirmando uma ocorrência de infecção da bactéria KPC e informando que teve alta o paciente que tinha NDM-1.
Assinado pelo infectologista Renato Cassol, coordenador do Controle de Infecção Hospital, a nota diz que este ano houve sete casos de KPC e um de NDM-1. Documento obtido por ZH mostra que, na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Conceição, foram registrados nas últimas semanas pelo menos 10 casos de KPC e dois casos de NDN-1.
Procurados por ZH, os gestores da área de infecção hospitalar não se manifestaram. Por telefone, o diretor técnico do GHC, Neio Pereira, diz que não há motivos para fazer alarde, "já que o problema é comum no mundo inteiro", e que o assunto está sendo alvo de uso político de servidores.
Presidente do Associação dos Servidores do Conceição, Arlindo Nelson Ritter diz que é crítico o nível de infecção hospitalar e atribuiu a quantidade de casos às más condições de higiene no hospital. No dia 17 de abril, um grupo de funcionários liderado por Ritter reuniu-se com a presidência da Assembleia para denunciar a situação.
Na semana passada, o assunto ganhou espaço na Tribuna Popular, e hoje será pauta de reunião da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da mesma Casa. O deputado Adílson Troca avaliou a causa como relevante e informou que hoje os deputados irão votar se há necessidade de abrir uma audiência pública para o tema.
Mortalidade é alta em casos de infecção
Segundo o infectologista Adão Machado, o risco de bactérias como a KPC e NDM-1 é a resistência que apresentam a todos os principais antibióticos, tornando difícil e caro o tratamento de infecções por esses microrganismos.
Com relação a risco de vida, ele acrescenta que a maioria dos casos de KPC isolados até o momento no Rio Grande do Sul são apenas colonizantes, ou seja, estavam presentes no organismo mas não causaram doença. Nos casos de infecção, porém, a mortalidade é elevada:
- Isso ocorre devido às poucas opções terapêuticas e ao fato de que a maioria dos pacientes já está debilitada por condições prévias. Além de terem eficácia limitada, os antibióticos disponíveis são caros e custam cerca de R$ 1,4 mil ao dia, com riscos de toxicidade - diz.
Para prestar esclarecimentos sobre a questão, técnicos da Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual da Saúde, da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre e do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) reúnem-se com a imprensa nesta quarta-feira à tarde, no Centro Administrativo Fernando Ferrari, em Porto Alegre.
As diferenças das bactérias
- Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) - É uma bactéria modificada geneticamente e resistente a diversos antibióticos. A transmissão ocorre em ambiente hospitalar, pelo contato com secreções do paciente infectado, quando há quebra de barreiras nos cuidados de higiene e desinfecção. Essa bactéria pode causar infecção hospitalar em pacientes imunodeprimidos, especialmente em UTIs.
- New Delhi metallo-B-lactamase-1 (NDM-1) - A designação NDM refere-se ao nome da cidade (Nova Délhi) onde surgiu o primeiro caso de uma nova metalobetalactamase, capaz de destruir os principais antibióticos. Tem ação semelhante à da KPC, mas parece disseminar-se ainda mais facilmente e tem potencial para contaminar o ambiente externo (águas).
O ALERTA DA ANVISA
- Em 3 de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou nota técnica alertando para a necessidade de medidas de prevenção e controle de infecções por bactérias multirresistentes, tratando o assunto como "um grave problema de saúde pública de âmbito mundial, particularmente pela elevada mortalidade e pelo reduzido número de opções terapêuticas". A Anvisa afirma que as taxas de mortalidade em 30 dias são de 40% a 50%.