Vanessa Kannenberg / Uruguaiana
O gaúcho Jonas Amadeo Lucas, 35 anos, percorre o mundo fotografando animais. No entanto, as lentes do santa-cruzense que mora em Madri, na Espanha, estão voltadas para captar o sofrimento dos bichos criados para morrer. Depois de cinco anos documentado e publicando essas imagens, o trabalho pode o levar a prisão.
Conhecido por Jon Amad, o fotógrafo, cujo trabalho investigativo compreende entrar em fazendas e matadouros para registrar maus-tratos de animais, está sendo acusado de associação ilícita e invasão de propriedade.
- Alegam que o trabalho jornalístico que faço é um crime. Ou seja, o criminoso não é aquele que aprisiona e tortura os animais, é aquele que conta a história para a sociedade - justifica.
Durante os cinco anos em atua como ativista, Amad já passou por mais de 20 países, entre eles Itália, Portugal, Alemanha, Marrocos, Holanda, México, Argentina e Brasil, registrando crueldades.
- O que eu vi foi sempre igual: milhares de maneiras diferentes de discriminar e usar os animais como simples produtos para enriquecer. Já vi lugares onde tudo era pesadelo, com cheiro insuportável, animais vivendo sobre seus excrementos, feridos e loucos - relata o fotógrafo.
Segundo Amad, em 2011, houve mobilização por parte da Guarda Civil espanhola que realizou uma operação chamada de "antiterrorista" na casa de ativistas e seus familiares e terminou na prisão de três ativistas.
Eles são acusados de envolvimento na libertação massiva de visons - mamíferos parecidos com doninhas que, criados em gaiolas, são abatidos e têm a pele usada na confecção de roupas - e de ecoterrorismo, que são práticas ilegais e terroristas para fins de preservação da natureza e dos animais.
Há cerca de duas semanas Amad, único estrangeiro, foi incluído no processo junto de outros 12 ativistas espanhóis.
- O que contece é que os próprios granjeiros soltam os visons para cobrar o seguro e dizem que os culpados são os ativistas. Eu pessoalmente não sou contra a soltura de visons, mas estão me acusando de uma coisa que eu não fiz - defende-se o gaúcho.
Os advogados da campanha "Unidos contra La represión" estão atuando no caso. Eles defendem ativistas de diferentes entidades de animais na Espanha desde 2011, quando milhares de visons foram libertados no país, mas garantem que não têm envolvimento nenhum com o caso. Eles entraram com pedido de anulação dessa acusação, mas ainda não obtiveram resposta.
Segundo nota publicada pelos advogados, o juiz Vázquez Taín apresentou uma carta em que "não argumenta motivos para a imputação, e que figuram inclusos os mesmos nomes associados a diferentes granjas em cidades distintas em um mesmo dia".
O jornal espanhol ABC publicou declaração de Taín em que ele afirma que a ação dos ativistas "não é ecologia, causam terror, e algumas fazendas foram obrigados a fechar, como resultado dessas ações". Para os ativistas, no entanto, as declarações demonstram a "parcialidade" em favor dos criadores de animais e ainda o acusam de pertencer à família de granjeiros.
Zero Hora entrou em contato com o Itamaraty e com a embaixada espanhola no Brasil, mas não obteve resposta.
ENTREVISTA
Jonas Amadeo Lucas, mais conhecido como Jon Amad, 35 anos, ativista gaúcho que mora em Madri, na Espanha
Zero Hora - Qual é o exatamente o teu trabalho?
Jon Amad - Sou fotógrafo investigativo de direitos animais e trabalho para a ONG Igualdad Animal. Não ganho um centavo por isso e dependo de doações. Meu trabalho é totalmente pacifico, busco informar a sociedade do que acontece com os animais sem jamais ter agredido alguém.
ZH - E você trabalha somente na Espanha?
Amad - Não, já participei de investigações em quase 20 países e seguirei fazendo o que é correto para conseguir um mundo mais justo para todos os animais. As pessoas responsáveis pelo sofrimento dos animais jamais serão condenadas por isso. Eu, por mostrar a verdade, sim, poderei passar parte de minha vida em uma prisão.
ZH - Do que você está sendo acusado?
Amad - De associação ilícita e invasão de propriedade, a princípio. Mas somente estará claro quando começar o julgamento. Agora está na fase de investigação.
ZH - Quando essas acusações começaram?
Amad - O caso começou quando em 2007, quando houve liberação de milhares de visons. A partir de então eles começaram a investigar os ativistas que eles pensavam que poderiam ter qualquer coisa a ver. Nos seguiram, grampearam nossos telefones e há dois anos invadiram nossas casas e de familiares para prender 12 de nós e levaram aparelhos informáticos e tudo que encontravam pela frente, como camisetas, adesivos, etc., alegando que seriam prova de que somos perigosos. Pode imaginar?
ZH - Mas a acusação que pode te levar à prisão é recente?
Amad - Sim, o documento oficial foi recebido pelo advogado entre o fim de janeiro e começo de fevereiro. Já entramos com pedido de anulação, mas não recebemos resposta e o mais provável é que me julguem.
ZH - Quando deve acontecer o julgamento?
Amad - Difícil saber. Pode ser agora já ou pode demorar alguns meses.
PARA VER FOTOS DE AMAD
As fotografias que documentam as investigações feitas por Jon Amad estão publicadas em seu site pessoal, o The Animal Day, e no Igualdad Animal, portal da ONG espanhola para a qual trabalha voluntariamente. ZH alerta para a inclusão de imagens fortes.
O fotógrafo gaúcho também tem planos de vir para o Brasil nos próximos meses e pretende realizar conferências sobre direitos animais em diversos Estados. A data e os locais das palestras vão dependem das doações que quer angariar.