Ninguém mais adequado que o próprio autor do projeto de lei contra o uso de estrangeirismos no Estado para apontar como podem ser traduzidas palavras em inglês já incorporadas ao dia a dia da população brasileira. Aprovada na terça-feira pela Assembleia Legislativa, a proposta que obriga a utilização de versões em português para termos estrangeiros depende da sanção do governador Tarso Genro.
Em uma conversa rápida com zerohora.com - na linguagem jornalística, um ping-pong; nas palavras dele, um bate-pronto -, o deputado Raul Carrion substituiu expressões como shopping center por centro comercial, hambúrguer por bife de carne moída e site por sítio.
Encontrou termos equivalentes no português para quase todas as palavras - por mais estranho que eles possam soar em um primeiro momento. Com exceção de Wi-Fi, que ficou sem resposta.
Confira o ping-pong - ou bate-pronto - com o deputado
Zerohora.com - O senhor vai continuar usando smartphone ou vai ser um telefone inteligente?
Raul Carrion - Vou ter um telefone inteligente. Se a empresa quiser chamar de smartphone, ela pode chamar. É problema dela, mas tem que traduzir.
ZH - Quando chegar ao aeroporto, antes de embarcar, o que o senhor vai fazer no lugar do check-in?
Carrion - Eu vou fazer a confirmação da minha passagem e do meu voo.
ZH - E vai continuar indo ao shopping center fazer compras?
Carrion - Eu vou aos centros comerciais da minha cidade, porque acho que estamos no Brasil. Quando eu estiver nos Estados Unidos, eu vou a um shopping center. Aqui eu vou a um centro comercial.
ZH - E depois da sessão, vai se reunir com os colegas em um happy hour?
Carrion - Não. Se nós nos reunirmos, vai ser em uma reunião ou vai ser em um encontro para troca de ideias.
ZH - Nestes encontros vai ter cheeseburger?
Carrion - Não. Aliás, eu não como. Sabe que estes negócios de cheeseburger e tal, que na verdade são bifes de carne moída, fazem um mal danado à saúde. Isso foi comprovadíssimo. Tem levado à obesidade e a uma série de problemas. Acho até que, traduzindo bem o que que é, talvez as pessoas deixem de comer tanto.
ZH - Por último, o senhor vai ler esta entrevista na Zero Hora online com seu notebook por meio de uma conexão WI-FI?
Carrion - Não preciso, porque a gente entra na internet, termo já consagrado, e tem em tempo real o acesso a notícias, etc, etc... Aliás, nós (PCdoB) temos um importante sítio, vermelho (www.vermelho.org.br). Nele, tem as notícias em tempo real - o online no inglês.
ZH - Mas o senhor tem um notebook?
Carrion - Não. Eu tenho um destes computadores portáteis que inclusive carrego em viagem, etc, etc... Sei que chamam de notebook, mas não tem problema.
O que prevê o projeto aprovado
Institui a obrigatoriedade da tradução de expressões ou palavras estrangeiras para a língua portuguesa, em todo documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação por meio da palavra escrita sempre que houver em nosso idioma palavra ou expressão equivalente.
Em casos excepcionais, em que não houver na língua portuguesa palavra ou expressão equivalente, o significado ou tradução da palavra ou expressão estrangeira deverá estar escrito. A tradução deve ser do mesmo tamanho que as palavras em outro idioma expostas no texto.
Todos os órgãos, instituições, empresas e fundações públicas deverão priorizar na redação de seus documentos oficiais, sítios virtuais, materiais de propaganda e publicidade a utilização da língua portuguesa
O que precisa para entrar em vigor
Para entrar em vigor, o projeto de lei aprovado precisa ser sancionado pelo governador Tarso Genro. Após a sanção, o poder Executivo terá de regulamentar a fiscalização da lei e instituir sanções a quem descumpri-la.
Resta a ainda saber qual será a base de dados para a fiscalização, já que muitos termos, como internet e mouse, já foram incluídos em dicionários, como o Aurélio, na forma que se apresentam no idioma de origem.
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