Milhares de paquistaneses em um bairro de Karachi, que antes era sinônimo de crime organizado e pobreza, se reunirão para torcer pela Argentina na final da Copa do Mundo no Catar-2022 no próximo domingo.
Embora o jogo tenha ocorrido no meio da madrugada desta quarta-feira, uma multidão tomou as ruas de Karachi para assistir Lionel Messi e seus companheiros vencerem a Croácia (3 a 0) na semifinal em um telão.
Vestindo camisas e bandeiras da 'Albiceleste', alguns começaram a cantar e dançar depois que os argentinos garantiram sua vaga na final do Mundial do Catar contra França ou Marrocos.
Houve até queima de fogos de artifício que iluminaram o céu escuro do Paquistão
"A maioria dos jovens se inspira neles", disse à AFP Tahir Khan, técnico de futebol de 40 anos, referindo-se aos astros argentinos da Copa do Mundo.
Messi é inevitavelmente o favorito deles, mas, deixando de lado as rivalidades do futebol sul-americano, eles também gostam do brasileiro Neymar.
"Vejo a maioria dos jovens vestindo camisas de Messi ou Neymar. Até mesmo no fim do jejum do Ramadã, eles usam suas camisas (...) em vez das roupas tradicionais", diz Khan.
Os residentes levaram o clima de Copa do Mundo para Lyari, pintando murais em tamanho real de seus jogadores favoritos, pendurando bandeiras e flâmulas e anotando os resultados em tabelas nas paredes.
A valorização da Argentina, assim como de seus rivais brasileiros, não acontece apenas por causa de suas habilidades no futebol.
"Os países latino-americanos não são tão desenvolvidos quanto os europeus, mas seus jogadores são reconhecidos em todo o mundo", explica Khan.
- Argentina ou Marrrocos? -
Anos atrás, neste bairro de Karachi, gangues organizadas usavam lançadores de granadas e rifles de assalto durante confrontos com forças de segurança, forçando o fechamento de escolas e do comércio.
Mas o pior dessa violência já passou e a tranquilidade crescente permitiu que a criatividade florescesse.
O bairro agora se orgulha de sua reputação de criar jogadores de futebol, boxeadores e, mais recentemente, rappers com consciência social.
O fãs que adotaram a Argentina e o Brasil também travam longas longas discussões entre eles.
"Nós nos identificamos com a cor da pele e o estilo do brasileiro, por isso gostamos mais do Brasil", diz Shahid Saleem, de 45 anos.
"Minha seleção favorita é a Argentina, mas meus dois filhos são torcedores ferrenhos do Brasil. As discussões entre pai e filhos são uma rotina diária", conta ele.
Agora um novo dilema paira sobre Lyari: torcer pela Argentina ou pelo Marrocos, se a zebra do torneio voltar a surpreender, desta vez contra a França, e chegar à final.
Se a façanha se concretizar, o Marrocos se tornará a primeira nação muçulmana a chegar à final da Copa do Mundo, motivo de enorme orgulho entre os torcedores paquistaneses.
"Antes torcíamos para o Brasil, mas eles foram eliminados do torneio, então agora torcemos para o Marrocos porque é um país muçulmano", disse Abdul Ghafoor, de 20 anos.
Saleem resolve o dilema: "As orações de todos os Lyari estão com Marrocos e espero que cheguem à final".
Mas "sou torcedor da Argentina, então deste lado vou rezar pela Argentina".
* AFP