
Mestre em direito desportivo, Gustavo Lopes Pires de Souza é colunista do site da Universidade do Futebol e defende a liberação do álcool nos estádios.
Torcedores ingressam em estádios da Dupla com bebidas alcoólicas e drogas
Por que o senhor é favorável à liberação da bebida?
O primeiro ponto é jurídico. Existe um fundamento que o pessoal usa de que o Estatuto do Torcedor proibiria, mas não é verdade. A interpretação é, ao meu ver, equivocada. Se o entendimento é de que o consumo vai causar violência, então teria de se proibir a entrada do torcedor alcoolizado. Há outra questão que é comprovada: quando não se pode beber dentro do estádio, bebe-se do lado de fora. Assim, o torcedor bebe mais rápido e em maior quantidade. E deixa para entrar no estádio na hora do jogo, o que causa tumulto.
O MP costuma citar a redução na incidência de violência desde a proibição.
Ano passado, o Brasil foi o segundo país do mundo que mais matou por causa do futebol. Contar o número de ocorrências em dias de jogos é extremamente questionável, até porque essa redução se dá por outras razões. Tivemos um período de crescimento econômico que reduziu as desigualdades sociais. O público e as circunstâncias que se tinha antes não são as mesmas de hoje.
O senhor acredita que é a lei é falha?
Muita gente consegue burlar. O caminho para o combate à violência não é a proibição. Tiraram, por exemplo, os mastros das bandeiras. A violência continuou. As organizadas têm uma série de restrições. A violência continuou. A sensação que eu tenho é de que o Estado, em vez de assumir seu papel de regulamentador, acaba proibindo. É muito mais fácil criar um vilão do que estudar e atacar as verdadeiras causas. Quantas campanhas se fez de conscientização? Temos poucos exemplos, como o da torcida mista aí do Rio Grande do Sul.
O fator econômico, com o interesse dos clubes, pode pesar para uma futura liberação?
Ele sempre tem um papel importante, mas não acredito que seja preponderante. Hoje esse movimento vem mais da percepção de que não há relação entre a violência e a bebida. Tivemos a Copa do Mundo com o álcool liberado e nenhum grande incidente. A Copa foi o golpe de misericórdia na proibição. Fez-se 64 partidas, com estádios lotados e sem violência.