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Ídolo em diversas partes do mundo, ex-campeão do Pride e do UFC, Rodrigo "Minotauro" Nogueira concedeu entrevista a ZH para falar sobre o campeonato de muay thai e MMA amador realizado na academia Team Nogueira Porto Alegre, ocasião em que um repórter sedentário se habilitou para lutar, equipamentos de segurança foram dispensados e a ambulância não levou feridos ao hospital.
O caso foi revelado na série de reportagens Submundo das Lutas. Em pouco mais de 30 minutos de conversa, Minotauro afirmou que seu trabalho é sério e que o seu objetivo é formar "cidadãos" e "campeões". Ele ainda disse que irá antecipar o checklist de atletas nas próximas competições amadoras para reforçar a análise das condições de luta dos inscritos.
Como você avalia o torneio estímulo que ocorreu na Team Nogueira Porto Alegre?
A gente tem experiência, trabalha com isso há 12 anos, nunca ninguém se acidentou com gravidade. Todas as vezes que alguém machucou dedo, pé, levamos no médico. Damos todo atendimento. Todo evento nosso tem ambulância e checklist. O repórter se inscreveu no evento, só que ele não fez o checklist com a arbitragem, que ia dizer se ele tinha condição, ia perguntar sobre a academia, a faixa. Ele não chegou a ir nesse ponto. Ele se inscreveu e foi embora. Foi assim que eu soube.
Na verdade, o repórter foi até a Team Nogueira dias antes do campeonato e fez a inscrição em 78 segundos. Pediram apenas o nome, peso e altura.
Você fez uma pré-inscrição.
No dia do campeonato, o repórter foi lá cedo, pela manhã, fez a pesagem e foi qualificado para lutar. Depois, foi chamado para o combate. Não havia checklist sendo feito com nenhum atleta, ninguém pediu absolutamente nada. É normal essa facilidade para fazer inscrição em campeonato de MMA?
Para inscrição de amador, sim. O rapaz que iria lutar contigo era um estreante também. E como o cara era estreante, o Lindomar Silva não tinha nenhuma luta de MMA. Um cara de dez lutas vai enfrentar outro de dez lutas. A estreia dele pode ser a sua estreia. Você se qualificou como estreante. A gente até está criando um negócio aqui no Brasil de classificar o MMA pela cor da camiseta. O mais novo vai lutar com o mais novo. São quatro graduações, quatro cores, como se fosse uma faixa, para não haver desnível técnico entre os competidores. O franqueado dono do evento, o Rafael (Chiavaro, proprietário da Team Nogueira Porto Alegre), disse que iriam fazer um checklist com você, que você não ia passar para lutar sem experiência alguma. Você fez uma pré-inscrição. Você não fez uma inscrição.
Veja o vídeo que mostra o campeonato na Team Nogueira:
O atleta que enfrentaria o repórter faria estreia no MMA, mas ele é atleta da Team Nogueira....
Amador. Ele é amador. Segundo o franqueado, ele tem menos de um ano de treino. Isso qualifica ele como amador.
Ele foi escalado para lutar no início do ano em um evento de semiprofissionais e profissionais, mas acabou machucando o joelho. Também já é cadastrado no Sherdog, site que reúne o cartel de atletas profissionais e semiprofissionais de todo o mundo. Mesmo não tendo estreado, ele não é iniciante. O repórter disse na inscrição que tinha três meses de treino. Não há desnível?
Ele é estreante, ele não tem luta profissional. Foi má fé da sua parte, de você se habilitar a entrar no evento, a gente acreditou na tua palavra. Você é um cara de maior e é responsável por você. Teve má fé sua de falar que já era praticante de arte marcial. Não teve má fé do evento em te aceitar. Você foi na maldade para fazer essa matéria. Se um cara entrar na farmácia e pedir um remédio, ele vai ter de apresentar uma receita. Você disse que tinha professor, que já treinava, que já era habilitado a fazer arte marcial. Diz a legislação do Rio Grande do Sul que precisava de médico, de juízes, de uma federação. Estava tudo legal. A gente luta para que a legislação regularize isso. É necessário que tenha mais regulamentação para a integridade física do atleta. Eu preservo isso porque sou atleta também. Mas você se inscreveu dizendo que estava apto a lutar. Ninguém te obrigou. Se botassem um cara de dez lutas para lutar com você, ou se colocassem um cara de 100 kg contra outro de 70 kg, aí fugiria das regras. Eu acho que o evento estava todo na regra. Eu não vi uma coisa tão gritante nesse evento. Vou ser sincero, a gente acreditou na sua palavra. Eu fiz um evento amador aqui no Rio de Janeiro em setembro desse ano e um atleta profissional se inscreveu como amador. O cara mentiu. O que a gente pode fazer? Mesma coisa que aconteceu com você. Você mentiu.
Você falou que quando o sujeito vai na farmácia comprar um remédio, ele tem de apresentar uma receita. No caso do lutador, para ele se inscrever num campeonato amador, não teria de apresentar o equivalente à receita, que seria autorização de um professor, academia ou federação para não ficar essa situação de que a pessoa apenas paga e luta?
Realmente ele teria de ter uma autorização do professor. Só que a legislação não diz isso. Não tem nada escrito. É amador, não é profissional. Para ser profissional, aí tem de ser capacitado. Amador não necessariamente precisa de experiência. São estreantes.
Mas justamente por ser amador não precisaria da autorização?
Você mentiu. Mentiu falando que era capacitado e que você treinava. Você mentiu. Você quer colocar a culpa no evento, mas eu acho que a culpa foi sua. Você é responsável por si mesmo. É como se você tivesse falsificado uma receita. Eu acho que você deveria ser preso!
VÍDEO: repórter vira professor de muay thai por R$ 1.448
Considerando que o MMA, assim como o futebol, exerce um fascínio sobre jovens que querem crescer como atletas, não deveria ter a Team Nogueira um mecanismo para coibir esse tipo de pessoa fascinada que conta uma história para lutar mesmo sem estar preparada?
Claro. Olha só, a gente faz um trabalho super sério. A nossa intenção é profissionalizar cada vez mais o esporte. Eu entendo que você quer precaver, sua intenção é que não ocorram mais acidentes como o dessa menina (Maria Luiza Ramos, em estado vegetativo desde 2011, depois de um campeonato amador de muay thai na Sociedade Hebraica, em Porto Alegre). Vocês querem falar e, até de uma certa forma, ajudar o esporte. O esporte é amador ainda, é novo, mas a gente tem muita experiência em eventos, nunca machucou ninguém, nunca deixamos de prestar socorro. Criamos vários campeões mundiais. Anderson Silva, todos esses campeões vieram de eventos da gente. Trabalhamos criando atletas para representar o Brasil. A gente não age de má fé com os atletas. Temos projetos sociais. São 850 crianças de todas as comunidades do Rio de Janeiro. Nosso tipo de arte marcial é mais educativo. Termina as aulas, tem o momento em que o mestre fala sobre educação. Não é selvageria, entendeu? A intenção é promover atletas. Levar atletas do Rio Grande do Sul a serem campeões mundiais. Pegar um garoto de uma comunidade, tirar da favela e levar para fazer uma luta em Vegas (Las Vegas, EUA). A intenção é a melhor possível. Esses garotos veem isso como uma grande oportunidade de vida. É a oportunidade de muito garoto de dar uma guinada na vida dele.
VÍDEO: jovem fica em estado vegetativo após campeonato de muay thai
No campeonato na Team Nogueira, alguns atletas sofreram lesões. Um fraturou o nariz. Outro lutou sem proteção, sofreu golpes e desmaiou. O proprietário da empresa de ambulância confirmou que a ordem dos organizadores era de não parar o campeonato. Por isso, a ambulância não podia sair do local. Essa mesma pessoa disse que um competidor teve de ser levado ao hospital por amigos, em carro particular. Isso está correto?
A gente sabe que a ambulância tem de levar a pessoa para o hospital. Isso é fato. Se foi feito isso (proibir ambulância de sair), foi erro. O certo é que a ambulância leve. (Assessor de Minotauro interrompe e passa a responder a pergunta). Aqui é o Pedro Marques falando. A gente conversou com o Rafael Chiavaro e ele afirma que isso não existiu. Se isso acontece em outros eventos, a gente não pode responder. A ambulância que estava ali não tinha por parte da organização e da Team Nogueira Porto Alegre essa orientação de não levar. Até porque isso coloca em xeque os profissionais de saúde que estão ali. Quem tem de dizer se o atleta tem de ir ou não (ao hospital), é o profissional de saúde.
É possível praticar muay thai ou MMA de forma segura e sadia?
Claro, 92% dos nossos alunos não querem ser competidores. Não necessariamente precisa competir para ser faixa preta. Tem de passar no teste, atender padrões técnicos, ter presença nas aulas. Quase 30% dos professores da nossa franquia tem alguma formação em Educação Física. Na nossa academia, ninguém chega e sai na porrada. Você é preparado, muitas das aulas que fizemos não tem sequer contato. Agora temos 8% que querem lutar, mas a nossa intenção é formar cidadãos.