Nílson Souza
O que mais me impressiona na entressafra técnica por que passa o futebol brasileiro é a dificuldade dos nossos jogadores para bater escanteios.
Tudo bem que lhes falte habilidade para dominar a bola em movimento, para driblar o adversário, para dar um toque de calcanhar como outro dia tentou constrangedoramente o jovem centroavante do Grêmio. Talvez a garotada esteja sendo promovida cedo demais, antes de dominar bem os fundamentos do controle, do passe, do lançamento. Isso é compreensível. Afinal, como aqueles que se destacam um pouquinho são vendidos para o Exterior, os clubes se veem obrigados a promover cedo jovens que sequer mostraram serviço nas categorias de base.
Mas cobrar escanteio não é coisa de outro mundo. A bola fica ali, paradinha, sem nenhum adversário por perto para atrapalhar. Tem a bandeirinha, é verdade, mas a maioria dos jogadores coloca a bola no limite do limite da marca, quase fora do triângulo demarcatório.
Aí o cara corre e... chuta rasteiro, ou muito baixo, sempre fácil para o corte do zagueiro. Desaproveita uma das raras chances de criar perigo de gol. O que fazem os treinadores que não colocam o chutador a cobrar 125 escanteios por treinamento? Enquanto o cara não acertar pelo menos 10 na marca do pênalti, não vai embora do treino.
Já nem falo do trabalho que deve ser feito com atacantes e zagueiros cabeceadores, pois isso é outra história. Se os times começarem a acertar os escanteios já teremos um grande avanço. Tenho também uma tese sobre a necessidade de retorno dos peladeiros, aqueles jogadores que driblam, driblam e não chegam a lugar nenhum.
Mas pelo menos driblam. Hoje ninguém mais dribla. Nem tenta. É só passe de primeira. Invariavelmente, no pé do adversário. Então, enquanto não recuperarmos o drible, a ousadia, a invenção, a técnica e tudo aquilo que um dia diferenciou o futebol brasileiro, que pelo menos comecemos a acertar os escanteios.
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