Rogério, da máquina de escrever aos cheques
O equipamento pesado de cor azul clara, repleto de marcas de uso e já sem nome de modelo aparente contrasta com smartphones e computadores de tela plana dispostos sobre as mesas do escritório. Cerca de uma vez por semana, a sala da empresa localizada na região do 4º Distrito, em Porto Alegre, é preenchida pelo característico som de teclas emitido pela antiga máquina de escrever.
Ainda inserida na rotina de trabalho da Comercial Porcelanas e Talheres Knetig, a tradicional Olivetti pode ser considerada a funcionária mais antiga da loja, embora nem o sócio-gerente Rogério Strube saiba precisar o ano em que foi adquirida.
— Estou na empresa há 42 anos. Quando cheguei, ela já era antiga, então, certamente está aqui há mais de 60 anos — admite Strube, 59 anos, que representa a terceira geração à frente da empresa familiar.
O sócio-gerente comenta que o comércio centenário foi se adaptando ao avanço da tecnologia com o passar dos anos e que, mesmo com a chegada do computador, resolveu conservar duas máquinas de escrever. A Olivetti azul que ainda está exposta no escritório é usada apenas eventualmente para o preenchimento de cheques.
De acordo com Strube, o equipamento é o melhor para essa função, mas também faz parte da história da empresa:
— É um objeto que guardamos no coração, que traz muitas lembranças de aventuras que a empresa passou utilizando-a. Tenho um apego sentimental por ela e não pretendo me desfazer.
A máquina desperta a curiosidade de crianças e jovens, que, por vezes, nunca viram ou mexeram em nada do tipo. Em função disso, clientes já pediram para tirar fotos e até mesmo para comprá-la.
— Já tive diversas propostas de compra, mas ela está ali para apreciarmos e para as pessoas reverem suas recordações — relata.
O funcionário que mais utiliza a Olivetti atualmente é André Luis de Souza, 51 anos, responsável pelas demandas financeiras da empresa. Ele foi contratado em 1998, quando estavam iniciando a informatização dos sistemas na loja.
— A minha geração usava muito, só que com o tempo ela foi afastada da rotina. Não fiz o curso de datilografia, mas antes dos computadores só tinham essas máquinas — diz Souza.
Na última quarta-feira (17), quando a reportagem de GZH visitou a empresa, não havia nenhum cheque para preencher. Em função disso, o funcionário digitou algumas frases em uma folha de papel para demonstrar que a Olivetti ainda funciona perfeitamente.
Com quase três décadas de empresa, Maria do Carmo dos Santos, 60 anos, foi contratada na fase anterior à informatização, quando todas as faturas eram digitadas em equipamentos do tipo. Ela fez o curso quando terminou o Ensino Médio, na década de 1980.
— Era caro, mas valia a pena. Tenho o diploma guardado até hoje — lembra Maria do Carmo, divertindo-se.
Apesar das boas lembranças, hoje Maria do Carmo teria dificuldades para utilizar o equipamento antigo:
— Vou ficar catando as letras. É uma máquina bonita, só que a agilidade não se compara, computador é mais rápido.