Todo dia 20 de setembro, o arquiteto e designer Marcelo Covolan, 49 anos, se reúne com um grupo de amigos para celebrar o aniversário da Revolução Farroupilha. Mas o principal motivo do encontro, para Covolan, não é cultuar a história ou as tradições gaúchas, e sim socializar com a turma do município de Farroupilha, na Serra. O designer se orgulha de ser gaúcho e considera importante preservar os costumes da terra, mas não se vê como frequentador de um CTG ou participante de eventos gauchescos.

 

– Me sinto gaúcho e acho que a gente tem de se enraizar em algo. Gosto da música e da prosa missioneiras, mas acho que tu não precisa estar pilchado para aproveitar as boas coisas da nossa cultura. Não gosto das restrições (do movimento tradicionalista) – analisa.

 

A estante de Covolan, que se define como um gaúcho “meio-termo” no espectro definido pela pesquisa a respeito dos rio-grandenses, é um retrato do perfil heterodoxo de quem se vê meio filho da terra e meio cidadão do mundo. Ao lado do CD autografado do cantor nativista Mano Lima está a coleção da banda inglesa de heavy metal Black Sabbath. A vocação cosmopolita o levou a morar fora do Estado, cerca de 10 anos atrás, mas o apego à terra natal lhe deixava emocionado cada vez que, mesmo sendo gremista, via uma camisa do Inter na distante Austrália – onde ficou estudando inglês.

COMO ESTÃO DISTRIBUÍDOS?

Me sinto gaúcho e acho que a gente tem de se enraizar em algo, mas tu não precisa estar pilchado para aproveitar as boas coisas da nossa cultura

– Se eu via alguém com uma camiseta de time gaúcho, mesmo sendo do Inter, já me aproximava. É difícil morar longe, sem muitos amigos – conta Covolan.

 

Apesar das agruras, o designer da Serra cogita voltar a morar em outras paragens – projeto que seria impensável para um Gaúcho Fiel. A disposição de partir decorre das dificuldades para encontrar trabalho no Estado. Como sua principal área de atuação é no setor calçadista, projetando novos modelos, a migração de indústrias para outras regiões do país e o aprofundamento da crise econômica lhe deixaram sem trabalho.

– Cogito morar no Exterior, sim. Já faz dois anos que estou desempregado – lamenta.

 

Seja durante o curto exílio voluntário ou mesmo após o retorno ao pago, o designer se manteve pouco íntimo de alguns dos hábitos mais arraigados entre os conterrâneos. Embora aprecie um bom churrasco, o gaúcho intermediário não costuma tomar o mate amargo cantado em prosa e verso Estado afora.

 

– Bebo chimarrão quando me oferecem, mas não faço em casa – diz o gaúcho disposto a partir do Estado de mala, mas sem cuia.

Quando morou na Austrália, Covolan sentiu saudade do rincão a ponto de se aproximar de quem estivesse com a camisa do time rival

GAÚCHO NÃO PRATICANTE

Na estante de discos de Covolan, Mano Lima e

Black Sabbath

EXPEDIENTE

Reportagem: Juliana Bublitz e Marcelo Gonzatto

Imagens: Fernando Gomes e Omar Freitas

Design e infografia: Thais Longaray e Thais Muller

Edição de vídeos: Luan Ott

Edição digital: Rodrigo Müzell

DOSSIÊ

GAÚCHO