Feminista, vegetariana, defensora dos direitos LGBT, a estudante de Relações Internacionais Laura Berger, 26 anos, passa longe do movimento tradicionalista e de seus ideais. Questiona as celebrações da Semana Farroupilha e a devoção ao Hino Rio-grandense. Diz respeitar quem faz da pilcha o elemento definidor de sua identidade, mas não se vê metida em um vestido de prenda e muito menos exaltando o famoso “orgulho gaúcho”.

 

– Considero a cultura do CTG heteronormativa. É uma forma de reafirmar o poder do homem e a ideia da mulher feminina. Não tenho nada contra as pessoas que cultuam esses valores, mas eu não me identifico com isso – pondera.

 

Natural de Novo Hamburgo e moradora de Porto Alegre desde os cinco anos, Laura fez dois mochilões pela Europa em 2012 e 2014. Percorreu mais de uma dezena de países e voltou convencida de que o Rio Grande do Sul não é o centro de tudo. Não descarta a possibilidade, um dia, de viver fora do Brasil. Hoje, se pudesse, se mudaria para São Paulo para tentar a sorte na metrópole.

COMO ESTÃO DISTRIBUÍDOS?

Não acho que o Rio Grande do Sul é melhor em tudo e não me identifico com os valores tradicionalistas. Se pudesse, viveria em São Paulo

– É uma cidade global. Lá, as pessoas não julgam as outras como aqui. Têm a cabeça mais aberta – opina.

 

Com piercing no nariz e 13 tatuagens espalhadas pelo corpo, Laura chama a atenção por onde passa. Repudia padrões de comportamento preestabelecidos e, por isso, não depila as axilas. Usa a bicicleta como meio de transporte diário e é cicloativista convicta. Todas as quintas-feiras à noite participa do Pedal das Gurias, movimento que reúne meninas para pedaladas coletivas nas ruas da Capital.

 

– Para mim, ser gaúcha é morar em uma cidade caótica, insegura, onde ninguém se respeita, onde existe preconceito de gênero e até preconceito contra quem anda de bicicleta. Sou a ovelha negra da família por ser muito crítica, mas essas coisas precisam ser ditas e discutidas – defende.

Há dois anos, a estudante decidiu banir a carne do cardápio, inclusive o tradicional churrasco aos domingos, um dos ícones do gauchismo. Agora, se prepara para dar mais um passo: tornar-se vegana (não consumir nenhum produto de origem animal).

 

– Decidi fazer isso por uma questão de ética, em respeito aos bichos. Não é que não goste de carne, mas posso viver sem – argumenta.

 

Isso não significa que Laura tenha abandonado todos os hábitos que considera típicos do Estado. Há pelo menos dois dos quais não abre mão.

 

– Tem coisas da cultura gaúcha que eu adoro, como tomar chimarrão e comer bergamota no sol. Não sou tão radical assim – brinca.

Na Capital, Laura se considera a ovelha negra da família e está prestes a virar vegana, mas não abre mão do chimas e da berga

GAÚCHO DESAPEGADO

Laura questiona

a exaltação do "orgulho gaúcho"

EXPEDIENTE

Reportagem: Juliana Bublitz e Marcelo Gonzatto

Imagens: Fernando Gomes e Omar Freitas

Design e infografia: Thais Longaray e Thais Muller

Edição de vídeos: Luan Ott

Edição digital: Rodrigo Müzell

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