Fundada em 1960, pela primeira vez em sua história a Universidade Federal de Santa Catarina teve uma formanda vestida com beca branca durante a colação de grau. Nesta quinta-feira (4), Cynthia Luiza Ribeiro do Amaral formou-se em Serviço Social e subiu ao palco com vestes brancas em respeito ao seu processo de formação espiritual no candomblé.
No dia em que defendeu seu trabalho de conclusão de curso, Cynthia entrou em "preceito" – termo usado no candomblé para classificar a fase de preparação dos candomblecistas para receber seu orixá e dar seguimento ao seu desenvolvimento espiritual. Neste período, os adeptos da religião têm de respeitar uma série de ritos, entre eles o de usar roupas brancas diariamente e cobrir o cabelo durante um ano.
Quando soube que a formatura seria no período do seu "preceito", Cynthia procurou à UFSC para defender sua ideologia religiosa e o desejo de participar da cerimônia. A questão foi deliberada por meio da Secretaria de Cultura, Arte e Esportes, em reuniões com participação da vice-reitora da instituição, Joana Célia dos Passos. A vestimenta foi confeccionada especialmente para a formanda, que foi uma das oradoras da turma.
"Eu me questionava sobre como iria me formar de roupa preta e como eu faria com o aparamento na cabeça. Eu não gostaria que num momento tão especial desses eu tivesse que abrir mão de alguma coisa que também é tão especial para mim", disse Cynthia à comunicação social da UFSC.
Ao subir no palco vestida de branco, sob aplausos de amigos e familiares que também vestiam roupas na mesma cor, Cynthia deu um importante recado de diversidade cultural e combate à intolerância religiosa. Seu orixá é Oxumarê, cujo história retrata movimento e transformação, dois conceitos típicos e importantes no curso que escolheu, Serviço Social.
"Nesse momento que a gente vive, de tanta guerras em termos de ideologia, é um momento que a gente tem para a universidade pública se posicionar enquanto uma produtora de saber, como formadora de opiniões", afirmou a formanda.