Quem disse que para ser fashion ou ter a casa decorada é preciso gastar muito? Ou que não há solução para aquela roupa que ficou linda na loja, mas depois, na hora de estrear, não ficou tão legal? Os brechós, cada vez mais comuns na internet ou fora dela, estão aí para provar que bom e barato podem sim andar juntos - são dezenas de grupos, alguns com mais de 10 mil participantes. Na onda do consumo consciente, a regra é desapegar de tudo que não é mais usado e poderá ser útil para outras pessoas. E, claro, dar uma ajuda para o bolso também.
Helena Jungblut, moradora de Venâncio Aires, sempre foi apaixonada por comprar roupas. O problema era conciliar o gosto pessoal com o que seu bolso podia pagar. A solução encontrada? Em 2012, junto com um grupo de amigas, decidiu criar um perfil no Facebook para que as pessoas pudessem comprar, vender e trocar roupas, sapatos e acessórios. O Bazar do Desapego, Quem Pega? hoje conta com mais de 2,1 mil integrantes.
- O que sempre busco são peças diferentes, com valor menor do que em uma loja convencional. Como os brechós estão na moda, muitos estão colocando os preços lá em cima - diz Helena.
Comportamento está ligado à cultura atual
Esse hábito de consumir artigos usados tem a cara da Geração Y, analisa Ilton Teitelbaum, professor de Publicidade e Propaganda da PUCRS e pesquisador de tendências de mercado:
- Temos as culturas do desapego, de reaproveitar e não desperdiçar, do consumo digital, de que meu patrimônio é a minha experiência, de compartilhar. Soma-se a isso algo que é fato já há bastante tempo: a onda de ciclos retrô. Temos um ambiente favorável para a proliferação dos brechós virtuais.
Quem costuma frequentar o bairro Bom Fim, em Porto Alegre, já sabe que no segundo sábado de cada mês é dia de Brique do Desapego. Instalado no Bar Ocidente, o evento, que nasceu no Facebook, reúne cerca de 30 expositores por edição. Sara Cadore Luz, criadora do brechó, conta que a ideia nasceu a partir de uma postagem na rede social, em abril de 2012, na qual dividia uma aflição:
- Carregava uma certa culpa. Comecei a me perguntar como alguém podia acumular tanta coisa. Acho que nós não soubemos lidar com essa onda de consumo, do acesso muito facilitado. Quando me dei conta, tinha um excesso de tudo, já não tinha nem mais onde usar. Eu tinha roupa nova que ainda estava com etiqueta.
A venda dos produtos usados é, também, uma boa fonte de renda para quem pretende se desfazer daquela peça de roupa ou dos sapatos que só ocupam espaço em casa. No embalo, ganham vez também os sites de classificados, muitos deles com anúncios grátis.
- O brasileiro está se acostumando que pode ganhar um dinheirinho vendendo roupas que não usa mais para comprar algo novo - diz Ana Julia Ghirello, vice-presidente e diretora de produto do site de classificados Bom Negócio.com - os anúncios de roupas, sapatos e acessórios significam cerca de 5% das mais de 4 milhões de ofertas.
Frequentadora assídua de brechós online, Carla Azambuja, também de Venâncio Aires, procura seguir algumas regrinhas básicas na hora de vender ou comprar:
- Sempre peço para olhar o produto pessoalmente e ver se
realmente condiz com o que está na foto. Converso com a pessoa no bate-papo do Facebook para estreitar um pouco a relação.
Segundo Teitelbaum, mesmo em um mercado informal como o dos grupos, a mediação das relações é fundamental para que o consumidor se sinta seguro no momento de adquirir um produto.
Preste atenção
Os negócios feitos em grupos nas redes sociais ou sites de classificados na internet estão cobertos pelo Código de Defesa do Consumidor. A oferta deve descrever exatamente o produto, inclusive seus eventuais defeitos, e o vendedor, mesmo que seja pessoa física, é responsável pelo que vende. Em caso de algum problema na negociação, é possível recorrer aos órgãos de defesa do consumidor, explica a diretora-executiva do Procon Porto Alegre, Flávia do Canto Pereira.
Dicas para quem vai comprar
-Procure avaliações de outros compradores ou busque informações em sites.
-Faça perguntas sobre o produto antes de fazer uma compra.
-Nunca pague antecipadamente, não importa o quão confiável o vendedor parece ser.
-Encomendas com porte pago pelo vendedor não estão isentas de riscos. Verifique o conteúdo do pacote antes de pagar.
-Não compre itens que parecem bons demais para serem verdadeiros, como carros ou computadores muito baratos.
-Peça a nota fiscal para não correr o risco de comprar algo roubado.
-Procure sempre conversar com o vendedor e encontrá-lo em um lugar público.
Dicas para quem vai vender
-Prefira receber em dinheiro, na hora da entrega.
-Nunca envie o produto sem finalizar os termos do pagamento.
-Evite receber pagamentos em cheque, já que não se pode ter certeza de que tem fundos.