Imagem: VG Waymer/The New York Times :: Vestir duas calças ao mesmo tempo? Essa é a tendência da vez nas ruas de Nova York :: “Não sou uma angel”: com Ashley Graham, campanha de lingerie plus size valoriza o corpo natural :: Para comer bem na Capital: novo polo gastronômico traz 9 (em breve 11) restaurantes para todos os gostos
Por Caroline Tell,
The New York Times
Quando Emily Satloff quer se hidratar durante o pilates, ela bebe água de uma garrafa repleta de cristais de quartzo rosa e ametista. Seu objetivo? Acrescentar uma dose de cura ao seu exercício.
– Eu me sinto mais calma quando bebo água da minha garrafa com cristais – afirma Satloff, designer da linha de joias Larkspur & Hawk.
Antes de se deitar, Nadine Abramcyk, uma das fundadoras da Tenoverten, um salão de manicure natural de alto padrão, coloca seu iPhone em modo avião e o cobre com cristais de shungite para reduzir a radiação. Ela descobriu o ritual em uma pesquisa do Google durante uma noite de insônia.
– Eu não consigo me desligar totalmente. Estava dormindo com o celular ao lado da cabeça e acordando o tempo todo – afirmou Abramcyk. – Agora, durmo muito melhor.
Ana Zawacki alinha os cristas em torno da lareira do quarto todas as vezes que a lua muda de fase. Ela também segura cristais de pirita e citrino quando tem uma reunião importante.
– Eles me ajudam a manifestar meus objetivos e estabelecer minhas intenções para o dia – afirma Zawacki, que faz publicidade de restaurantes.
Os cristais, que costumavam ser o hobby da turma hippie, nunca desapareceram totalmente, mas agora estão se tornando praticamente tão comuns quanto beber sucos verdes e fazer ioga. Em algum lugar entre os incensos, os banhos de som e os adaptógenos, os cristais são o mais novo acessório emprestado das filosofias médicas orientais a entrar no mercado de produtos de luxo, com mulheres tão ansiosas para comprar um quartzo rosa gigante quanto a nova sandália da Gucci.
Embora praticamente não existam evidências científicas que comprovem a eficácia dos cristais, eles são exaltados como benéficos para a cura física e emocional. Ao que parece, atraem pessoas em busca de paz neste mundo caótico: são uma forma de equilibrar a ansiedade causada pela chegada constante de novidades e o medo de ficar por fora das novidades do Instagram.
Ruby Warrington, autora do livro Material Girl, Mystical World: The Now Age Guide to a High-Vibe Life (Menina Materialista, Mundo Místico: O Guia da Nova Era das Altas Vibrações, em tradução livre), que traça a origem do boom dos produtos de bem-estar de luxo, sugere uma teoria.
– À medida que nossas vidas vão se tornando cada vez mais ligadas à tecnologia, estamos à procura de práticas que nos reconectem com a humanidade ou com a Terra – acredita. – Especialmente em tempos de incerteza, os cristais são uma forma fácil participar de um movimento New Age que ganhou roupagem moderna.
Warrington citou Gwyneth Paltrow como o modelo do novo movimento do bem-estar de luxo. Seu recente encontro Goop Health, que contou com palestras de profissionais de medicina holística, terapias com cristais e fotografia da aura, teve os ingressos esgotados em poucos dias. Obviamente, já não é o bastante ter um cabelo brilhante e a barriga torneada; nossos chacras precisam ficar alinhados e nossos caminhos energéticos precisam ser limpos.
– É ótimo ter bugigangas feitas por estilistas famosos – afirma Warrington. – Mas o que elas valem se não são capazes de nos trazer a verdade e a felicidade?
No novo estúdio de Taryn Toomey em TriBeCa, onde ela comanda uma popular academia de ginástica, a Class, pedaços grandes de quartzo adornam sua mesa. Turmalina e hematita enfeitam as janelas do estúdio, e pedaços de ônix circundam os computadores no fundo do prédio. Cada cristal foi deliberadamente colocado para ajudar os clientes a liberar energias negativas e contribuir para sua limpeza mental, enquanto fazem alongamentos e polichinelos. Dentro de caixas de vidro na parede, ficam expostos os pingentes de cristal desenhados por Toomey, vendidos pelo estúdio por até US$ 2.800.
Ao projetar a academia, Toomey buscou a colaboração de Rashia Bell e Elizabeth Kohn, fundadoras da empresa de design Cristalline. Elas acreditam que, ao entender a energia de uma sala, é possível criar um espaço belo e funcional. Para fazer isso, elas usam o quê? Cristais!
"Trata-se do conceito de cura das casas por meio dos cristais, trazendo uma melhora no fluxo e na energia", afirma Bell, que também é curandeira. "Nós ajudamos as pessoas a criar um espaço que seja um reflexo de quem elas são e de quem gostariam de ser."
Bell e Kohn montaram uma rede de cristais sob o assoalho do estúdio. A periferia conta com pedras mais escuras, como turmalina, hematita e pirita, que de acordo com elas bloqueiam as energias negativas e os campos eletromagnéticos produzidos por objetos eletrônicos. O centro da sala abriga cristais mais claros, como o quartzo transparente, o quartzo rosa e a ametista, que de acordo com a crença contribuiriam para limpar, acalmar e apoiar.
"Às vezes, em nosso trabalho, os maridos tiram sarro das nossas sugestões", revela Kohn. "Taryn foi a cliente ideal."
Tracie Martyn, cujo salão de tratamentos de pele é o predileto das celebridades em Nova York, lançou recentemente a Complexion Savior Mask, que utiliza um extrato concentrado de cristais de malaquita. Um dos fundadores do salão, Marius Morariu, acredita que a pedra verde é capaz de aumentar os níveis corporais de glutationa reduzida, um antioxidante que melhora e clareia a pele.
No Akasha Holistic Wellbeing Center, do Hotel Café Royal, em Londres, Bernice Robinson massageia o rosto, o pescoço e o decote das clientes com a superfície lisa de um quartzo rosa ou de uma ametista. Em seguida, aplica os cristais a pontos de pressão do corpo.
– Você entra em um estado de relaxamento mental, corporal e de alma – explica Robinson, que é "mestre" de reiki e curandeira. – Isso permite uma abordagem profunda do bem-estar físico e anatômico da pele. Não precisamos de máquinas, nem de agulhas.
Mas antes que alguém troque tratamentos médicos por pedaços de hematita, fique sabendo que os cristais não possuem qualquer benefício médico comprovado. Para quem acredita, seu valor pode ser o de aliviar o espírito, o que já é o suficiente para essas pessoas.
– O engraçado é que em geral sou meio cética – afirma Toomey. – Mas acredito no poder do desejo e, não importa se os cristais funcionam de verdade, ou não. O que importa é a intenção.
Para Abramcyk, o quartzo rosa que fica embaixo do seu colchão serve como um lembrete para manter o coração aberto. Ela não quer saber se aquilo funciona cientificamente.
– Se o cristal me faz pensar que preciso manter o coração aberto, então ele já está fazendo seu papel – revela. – Ao invés de colocar um post-it no espelho, esse é um lembrete elegante e sutil para mim mesma.
Leia mais