Em Paris, almocei no Breizh Café, no Marais, um restaurante bretão que é simplesmente o meu lugar favorito para comer crepes. Como se não bastasse a comida ser excelente, o Breizh oferece uma carta extraordinária de sidras secas artesanais, muitas das quais não estão disponíveis nos Estados Unidos. É uma alegria para qualquer apreciador de sidras.
Uma carta como a do Breizh Café demonstra como a humilde maçã é apreciada em regiões como o noroeste da França e o norte da Espanha. Mesmo que os Estados Unidos ainda não tenham abraçado as bebidas de maçã com um entusiasmo à altura, não se engane: um renascimento americano da sidra está bem encaminhado. Muitos restaurantes já servem boas sidras, enquanto lojas de vinho e mercearias têm expandido suas ofertas.
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Cinco anos atrás, com exceção das oferecidas por alguns poucos produtores como West County e Farnum Hill, era difícil encontrar sidras secas. A maioria das sidras americanas era adoçada de modo a agradar uma clientela que prefere bebidas enjoativas. Felizmente, o público das sidras secas tem crescido, já que, tal como a cerveja, o conteúdo de álcool dessas bebidas varia bastante, de cerca de cinco até oito por cento. Prova deste renascimento é que participei de um painel de degustação nos Estados Unidos e provei 20 rótulos, sendo que havia ainda alguns de sobra.
A Stella Artois Cidre e outras grandes marcas que se renderam aos sabores com sidra: prova de que o desejo pela bebida só cresce
Se houve uma bebida nacionalmente representativa na América colonial, ela sem dúvida foi a sidra, o suco fermentado de maçãs, peras e outras frutas pomoideas. Entretanto, a popularidade da sidra diminuiu no final do século 19, quando os imigrantes alemães trouxeram ao país o gosto pela cerveja, bebida que poderia atender mais facilmente uma nação que estava em vias de deixar de ser rural e se transformar em urbana.
A maçã, naturalmente, continuou popular, pelo menos como alimento. No entanto, as maçãs como alimento e as maçãs para a produção de sidra podem ser tão diferentes quanto as uvas de mesa e aquelas para a produção de vinho. As melhores sidras exigem uma maior proporção de taninos e sabores agridoces. Morder uma maçã adequada para a fabricação de sidra pode ser um choque por conta de sua adstringência; ela tem poucos vestígios dos sabores doces e frescos que existem em qualquer variedade de maçã que uma professora gostaria de receber.
Em regiões europeias onde se produz sidra, centenas de maçãs diferentes são cultivadas para a fabricação da bebida, e misturadas em busca da complexidade. Ao longo do tempo, muitas espécies se transformaram ao ponto de os agricultores não conseguirem mais identificar todas as maçãs sob seus cuidados. Nos Estados Unidos, muitos pomares cultivados para a fabricação de sidra desapareceram durante a Lei Seca, que foi o que realmente matou a sidra no país. Quando a Lei Seca terminou, uma nação sedenta saiu em busca de satisfação imediata. As cervejas e os destilados eram de fácil fabricação, enquanto que os novos pomares, assim como novas vinhas, precisavam de no mínimo cinco anos para se tornarem produtivos.
Com o tempo, a sidra passou a se referir ao suco de maçã doce, não fermentado. A bebida fermentada tradicional se tornou rara e, eventualmente, surgiu a denominação "sidra forte" para diferenciá-la. Talvez as indicações mais claras de que o desejo americano pela sidra está crescendo são os esforços das empresas para entrar no mercado. A Stella Artois, cervejaria de propriedade da Anheuser-Busch InBev, agora vende a Stella Artois Cidre. Outra marca da Anheuser-Busch, a Michelob, agora vende Ultra Light Cider. Enquanto isso, a MillerCoors comprou a Crispin Cider Co. no ano passado, e a Angry Orchard Cider é a marca que mais cresce da Boston Beer Co., produtora da Samuel Adams.