Redação Donna
Transformada em memorial em 2002, a casa onde os Meneghel viveram guarda fotos, objetos (um bercinho e uma classe escolar são algumas das relíquias) e lembranças dos tempos em que Xuxa brincava pela Avenida Rio Grande do Sul com os irmãos e viajava com a família para os veraneios nas margens do Rio Uruguai. Nas salas e nos quartos da casa construída nos anos 1950 há ainda painéis e figurinos cedidos pela produção de Xuxa.
A cada quatro anos, o acervo é substituído e renovado. Um pórtico em cor de rosa é o cartão de boas-vindas da rua. O local recebe uma média de 40 visitantes por dia e é o principal ponto turístico da cidade.
Mesmo estampando essas homenagens à filha ilustre, Santa Rosa tem uma relação de altos e baixos com Xuxa. Um passeio pelo memorial revela a má conservação da casa, que já apresenta infiltrações. Os tótens que ostentam fotos da apresentadora ao longo da avenida estão danificados, alguns escondidos pelos galhos das árvores. Nas ruas, falar de Xuxa nem sempre é uma unanimidade. Alguns a admiram. Outros afirmam que ela não se importa com Santa Rosa.
Inaugurado com a presença da estrela e de sua filha, Sasha, o memorial é administrado pela prefeitura de Santa Rosa e recebe apoio da Xuxa Produções. Um dos representantes de Xuxa, Rogério Rahier, visita o local com frequência e se reuniu, recentemente, com a nova administração.
? Não estamos satisfeitos com o memorial, do jeito que ele está. A cidade precisa aproveitar melhor o fato de ela ter nascido aqui ? comenta Rahier.
O secretário de cultura de Santa Rosa, Anderson Farias, garante que um projeto de restauração da casa será iniciado ainda neste ano, para deixar a casa dos Meneghel mais parecida com o que era em 1963. Também afirma que a prefeitura buscará meios de valorizar mais o conteúdo do memorial, tornando-o interativo.
Durante três anos, o aniversário de Xuxa foi comemorado com festa nas ruas de Santa Rosa. No ano passado, uma equipe da Rede Globo instalou-se na cidade e transmitiu, ao vivo, a festa no programa TV Xuxa. Uma multidão se reuniu diante do pórtico para cantar parabéns à conterrânea com o repórter Fly. Ao ver que se tratava de Santa Rosa, a apresentadora levou um susto.
? Nossa, que emoção, que coisa linda! Gente, olha só, eu nasci ali! Tenho muito orgulho de dizer que sou do interior do Brasil ? exclamou.
O sucesso do evento no ano passado não garantiu sua realização no cinquentenário. Uma das organizadoras, a psicóloga Darla da Rosa, resolveu não tomar a iniciativa de capitanear a festa neste ano. Compromissos de trabalho e pessoais, além da dificuldade de angariar recursos, a fizeram recuar.
? O aniversário é um gesto de carinho que vamos voltar a fazer. Mas neste ano não foi possível ? lamenta Darla.
Estudioso da carreira de Xuxa e, principalmente, de sua ligação com Santa Rosa, o jornalista Claudiomiro Sorriso afirma que a cidade está, aos poucos, perdendo o vínculo com ela. Segundo ele, por se tratar de um município do interior, o aproveitamento turístico da fama da santa-rosense ainda é tímido.
? Falta ligar de maneira mais eficiente o nome da cidade com o de Xuxa. Mas acho que vamos caminhar para isso ? diz.
Presença no cotidiano de Santa Rosa
Sentado na poltrona da sala, seu Hilário Christofoli, 80 anos, se aquece ao sol da tarde enquanto aguarda qualquer um que queira saber das suas histórias. Morador da Avenida Rio Grande do Sul, foi vizinho da família Meneghel. Mal a repórter senta à sua frente, ele já se põe a contar do tempo em que Santa Rosa "era uma picada" e da amizade que tinha com "o pai dela".
? Eu me lembro dela pequenininha, brincando aí na rua. Depois se mudaram daqui, nunca mais vi. Fomos saber deles de novo quando a guria ficou famosa ? relembra.
A filha dele, Liana Batista, tem a mesma idade da irmã mais velha de Xuxa, Mara. As duas brincavam quando pequenas, escanteando a caçula dos Meneghel.
? Ela era pequena, a gente não queria brincar com ela ? diverte-se.
No dia em que a família se mudou para a Vila Militar de Santa Rosa, Liana foi junto, dormir na casa nova da amiga. Depois disso, pouco se viram, em função da distância. Quando foram de mudança para o Rio de Janeiro, as amigas nunca mais se falaram.
? Fomos amigas de infância, mas nunca mais nos vimos. As pessoas se afastam, uma pena.
Assim como a família de seu Hilário, muita gente mais velha guarda lembranças dos Meneghel e da caçula que adorava se fantasiar para o Carnaval - chegou a ser rainha infantil da cidade. E mesmo quem não a conheceu homenageia a conterrânea da maneira que pode. Prova são os estabelecimentos comerciais com o nome de Xuxa. Talvez um dos maiores seja uma revenda de carros, no Centro.
Poucos integrantes da família permanecem em Santa Rosa. Quase todos - irmãos, tios, sobrinhos, primos - foram morar no Rio de Janeiro para trabalhar com Xuxa. Um dos que permanecem é Paulo Meneghel, 66 anos, o irmão caçula do pai da artista. Nunca quis deixar o interior e as pescarias nas barrancas do Uruguai, sua grande paixão.
? Falo pouco com ela, é uma pessoa ocupada. Falo mais com o meu mano. Mas tenho carinho por ela. Dia desses, mandei pelo correio uma caixa de butiás, que ela adora.