Sei que o chique agora é ser low profile... é viver a vida de uma maneira mais zen... mais relaxada... inspirando e expirando calmamente, prestando atenção neste exercício vital.
No papel é tudo muito bonito. Os anúncios e comerciais não se cansam de repetir:" relax... relax... relax...
Quem não quer ser assim, um ser iluminado e cheio de paciência, que parece não se irritar com nada? Eu gostaria muito de seguir esta filosofia, mas não dá. Não consigo. Nem aula de ioga deu jeito. Tentativa frustrada. Meditação me dá nos nervos.
E parece que não sou só eu que estou precisando passar alguns meses com os monges budistas lá no alto do Himalaia aprendendo a controlar meus impulsos e me tornar uma pessoa melhor...
Dia desses compartilhei no Facebook uma ilustração que mostrava um motorista espertinho furando fila em um congestionamento. E escrevi embaixo: eu não dou passagem. Se quiser que passe por cima. Depois, fiquei pensando: será que peguei pesado demais? Afinal, sempre fui a favor da direção defensiva ? e a pratico, na grande maioria das vezes: mantenho distância do carro da frente, só ultrapasso em locais permitidos, sempre dou sinal quando vou dobrar uma esquina, e todas as outras regrinhas básicas de bom comportamento no trânsito.
Mas manter o bom humor e a calma quando alguém quer fazer a gente de bobo, aí já é demais. E é isso o que estes motoristas que furam fila pensam: esses otários que fiquem aí, esperando. Ah, não.
Bom, postei no Facebook e, enquanto pensava se tinha ou não feito a coisa certa ? porque poderia parecer que eu estava incitando uma revolta dos motoristas obedientes às leis ? dezenas de pessoas postaram comentários do tipo: "eu também morro de raiva desses caras" e coisas semelhantes. Respirei aliviada. Não sou só eu que me irrito com gente metida a espertinha.
Aqueles que querem levar vantagem em tudo são os piores tipos de pessoas para lidar. No trânsito, são os que que cortam tua frente, transitam pelo acostamento, furam fila nos congestionamentos, estacionam em lugares destinados a cadeirantes e, quando flagrados, dizem: "ah, mas eu só fiquei parado ali um minutinho. Eu já estava voltando". Não é de ficar com raiva?
Os metidos a espertinhos nos perseguem, também, na fila do supermercado. Sábado de Carnaval, mercado lotado. Procuro um caixa um pouco mais vazio e entro na fila. Na minha frente, um cara de uns 40 anos, com um fardinho de cerveja. "Vai ser rápido", penso. Pouco antes de chegar a vez dele, vem um outro homem, com um carrinho lotado de carnes, refrigerantes, pães, limão, cachaça e outras coisas para o churrasco carnavalesco da turma. Ou seja: o primeiro homem ficou guardando lugar na fila para o amigo. E a nós, que estávamos há um tempão ali, só restou respirar fundo e esperar.
Lembrei de outra irritaçãozinha constante: chego na loja, e a única atendente está de papo no telefone. E continua, continua, continua. Parece que você faz parte dos móveis do lugar, ou ficou invisível, porque ela não te vê. Lá pelas tantas, ela olha para você e diz:
? Só um pouquinho, nega, já te atendo. É pra matar.
Acho que preciso urgentemente de um retiro espiritual!
Dai-me paciência!
Viviane Bevilacqua
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