Nada como um começo de ano pra gente se reciclar. Não só o espírito, com pensamentos positivos. No meu caso, pelo menos, quero ver se dou, também, uma boa reciclada nas minhas gírias, pra não ficar "pagando mico" na frente dos meus filhos e dos amigos deles, um bando de adolescentes que acha a maior graça do mundo nas expressões que eu ? e muitas outras pessoas que foram jovens lá pelos anos 1980 ?usamos.
Dias desses estávamos caminhando no parque quando o céu ficou pretão, prenúncio de temporal. Como tenho medo de raio e vento forte, disse, distraidamente:
? Vou dar no pira. Daqui a pouco vai desabar um temporal.
? Tu vais dar o quê, mãe? Pira? O que significa isso? (Risos, muitos risos).
? Ué, sei lá o que significa! Todo mundo usa esta expressão. Vocês não?
Não, claro que não. Devo ter tirado essa frase de algum lugar obscuro da minha memória. Ninguém mais fala "dar no pira". Só eu, que de vez em quando desenterro umas expressões lá dos tempos do Ariri Pistola. Viu só? Esta é mais antiga ainda. E quem terá sido Ariri Pistola? Não faço a menor ideia.
Será que por trás de toda a expressão existe sempre uma explicação? Se existe, gostaria de saber o que significa "cor de burro quando foge", por exemplo. Por acaso um burro correndo muda de cor?
Outra que uso frequentemente é "chato de galocha". Olha só que coisa ridícula. E "será o pé do Benedito?". Quem será que inventou isso?
Lembrei de mais uma: coitado, o fulano de tal está "matando cachorro a grito." Pobre do cãozinho! Já pensou como deve ser horrível morrer assim?
E tem também "lá onde o Judas perdeu as botas", quando se fala de um lugar que é longe demais; "sebo nas canelas", como sinônimo de depressa; "pega pra capar", referindo-se a uma grande confusão; "amigo da onça"... São muitas, a maioria, já em desuso.
Bom, chega de lero-lero. Não escrevo mais. Nem que a vaca tussa!