Nathália Carapeços
Passos e vozes quebraram o silêncio que geralmente se perpetua pela madrugada nas dependências do Theatro São Pedro. Parecia assombração, mas não era. Neste fim de semana, um grupo de escritores passou uma noite no local para se inspirar: queriam criar histórias que dessem arrepios nos leitores.
Tu Frankenstein 4 é um evento que vem se consolidando na programação da Feira do Livro nos últimos anos. A residência literária que ocorreu na virada de sábado para domingo é a terceira realizada pela organização desde 2013 - mesmo que o número quatro no nome sugira algo diferente. Na verdade, a inspiração do projeto vem do famoso sarau literário noturno realizado em 1816, na Suíça, quando Mary Shelley teria dado vida à narrativa que, depois, se tornaria Frankenstein. Esse, portanto, teria sido o encontro precursor dos demais realizados em Porto Alegre.
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O grupo se dividiu entre os que preferiam observar o teatro na penumbra e os que escolheram o conforto do foyer, com luz mais intensa e muitas mesas e cadeiras. De imediato, os estrangeiros Gard Sveen e Leena Lehtolainen, que se juntaram aos brasileiros na empreitada, acomodaram-se e já começaram a digitar em seus notebooks.
- É um lugar inspirador. Consegui me concentrar para montar uma história que deve misturar Finlândia e Brasil - adianta a finlandesa.
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O silêncio predominante era violado volta e meia por passos até a mesa com pães e bebidas ou pelos sussurros entre os escritores. Havia também um intenso fluxo de pessoas que iam à varanda com vista para a frente do teatro - aparentemente, ajudava a engrenar o processo criativo. Radicado em Porto Alegre, o americano Christopher Kastensmidt passou por ali, porém, não estava sofrendo com a falta de ideias. Já foi logo avisando, decidido:
- Não vou escrever horror, vou ir para o lado da fantasia. Me inspirei nessas histórias estranhas que acontecem à noite aqui.
Mas nem só de escritores era feito o grupo de participantes. Alguns ilustradores também estavam presentes, com desafio semelhante ao dos autores. A profissão paralela exercida por um dos desenhistas, Eduardo Monteiro, chamou atenção: fotógrafo criminalístico.
- Essa minha outra função em parte dificulta e em parte facilita o processo criativo. Desenvolvemos certa insensibilidade. Mas também percebo que o mundo não precisa muito de fantasia para se tornar algo a se temer - explica Monteiro.
Por volta das 2h da manhã, uma pianista convidada tocou músicas no foyer. Enquanto uns seguiam escrevendo como antes, outros preferiam acompanhar o recital que duraria cerca de 15 minutos. Nesse horário, poucos escritores já haviam finalizado o processo. Um dos primeiros foi Mouzar Benedito, que se despediu dizendo:
- A minha história tem quase uma Cleópatra gaúcha. Uma mulher sedutora. Mas não vou contar mais nada, só isso - confessou, entre risos.
Como de costume, o material produzido nessa noite integra uma antologia que deve ser publicada em 2016. Na Feira deste ano, foi autografada a coletânea do ano passado.
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