Confira um passeio pelos principais espaços:
1. Origem
A mostra tem início em um túnel e busca provocar diferentes sentidos do visitante para remetê-lo ao oceano. O azul das profundezas aquáticas vem acompanhado do som e até mesmo do cheiro do mar - uma máquina reproduz suaves sensações olfativas durante o percurso. O espaço pretende destacar a coragem dos imigrantes judeus europeus ao viajarem rumo ao desconhecido no início do século 20, entre eles o pai de Scliar, que chegou ao Brasil com sete anos. Uma tela roda filmes da época e fotografias que documentam como era a chegada desses imigrantes, que buscavam no Brasil melhores condições de vida.
- Nos textos sobre sua vida, era comum Scliar relatar essa travessia, por isso resolvemos começar por aqui - conta o curador Carlos Gerbase.
2. Bom Fim
A representação do mar desemboca em um mapa do Bom Fim, tradicional bairro de Porto Alegre onde Scliar cresceu. A partir do traçado das ruas, algumas placas luminosas na altura do olhar do visitante apresentam fotos e textos de lugares importantes na formação do jovem Scliar. O Clube de Cultura de Porto Alegre e a Associação Italiana mereceram atenção como pontos de encontro da intelectualidade de esquerda da época. Os extintos bar João, bar do Serafim e cinema Baltimore eram também lugares visitados com amigos e parentes. Sobre o bairro, Scliar certa vez escreveu: "Não tenho qualquer dúvida de que tornei-me escritor ali, ouvindo as histórias que meus pais narravam com tanto prazer e que falavam do sonho de ser brasileiro".
3. Casa
Um grande mural apresenta um pouco do lar no qual o escritor cresceu no Bom Fim. Ali figuram réplicas de objetos como cama e fogão a lenha no estilo usado pelos imigrantes judeus da época, além de uma coleção de livros lidos por Scliar em sua infância, sendo duas influências definitivas na carreira do escritor: as obras de Monteiro Lobato e a coleção Tesouros da Juventude. No mesmo espaço, o visitante ainda encontrará 13 gavetas nas quais estão desde bilhetes escritos para os pais até documentos e fotos antigas originais. Algumas revistas ilustram uma lembrança marcante do cotidiano do pequeno Scliar: as discussões em torno da II Guerra Mundial, que, mais tarde, seriam trabalhadas em livros como O Exército de um Homem Só (1973).
4. Ficcionista
Este segmento apresenta objetos pessoais de Scliar ligados ao ofício da escrita, como uma de suas máquinas de escrever e cadernos de anotações, originais de diferentes títulos, um mural com capas e a lista completa de seus quase 40 livros de contos e romances para o público adulto. Entre os originais expostos, estão diferentes versões de O Centauro no Jardim (1980) e Cenas da Vida Minúscula (1991).
Anotações em diferentes papéis dão conta de demonstrar que Scliar escrevia constantemente, não importando o material que tinha por perto: há receituários médicos e talões de cheque abarrotados da caligrafia do escritor.
O visitante poderá acessar os livros em uma pequena biblioteca com cem exemplares ou por 10 tablets que estão à disposição dos visitantes. Há cadeiras e pufes para a leitura.
5. Personagens
Oito totens, cada qual montado a partir de duas telas verticais, apresentam 15 personagens do homenageado. São diálogos retirados de obras representativas selecionadas pela professora Regina Zilberman e encenados por atores como Zé Victor Castiel, Mirna Spritzer e Rafael Tombini. Entre os livros escolhidos, estão Max e os Felinos (1981), A Mulher que Escreveu a Bíblia (1999) e Os Vendilhões de Templo (2006).
Os vídeos, exibidos ininterruptamente, têm em torno de quatro minutos e contam com direção e roteiro de Carlos Gerbase:
- Como roteirista, quase não interferi no texto, fiz apenas alguns cortes. Esteticamente, buscamos algo que remetesse ao realismo mágico que se faz presente no autor.
Além dos totens, todos os vídeos podem ser conferidos nos 10 tablets à disposição dos visitantes.
6. Médico
Formado em 1962 pela UFRGS, Scliar se especializou em saúde pública, foi professor na UFCSPA e escreveu duas dezenas de títulos ligados ao ofício de médico. Neste setor da exposição, um mural apresenta as capas dos principais livros do autor nesta área, imagens da época de estudante e uma gravação de seu discurso de formatura feita pelo ator Zé Victor Castiel. "A medicina só será verdadeira quando os cursos de aperfeiçoamento forem acessíveis a todos; quando a formação universitária for dirigida no sentido de uma maior ligação com a realidade brasileira, ao invés de representar um isolamento dos problemas de nosso povo", diz o texto.
7. Vida pessoal
Além de fotos do escritor com Judith, sua mulher por 45 anos, com o filho, Beto, amigos e familiares, esta área da exposição exibe também as maiores conquistas do escritor, como troféus dos prêmios Açorianos e Jabuti e o fardão original usado por ele na Academia Brasileira de Letras. O mesmo espaço ainda apresenta aos visitantes mais uma faceta do escritor: seu trabalho como cronista, mostrando em painel as capas e a lista de seus livros no gênero.
8. Sala de projeção
Duas obras audiovisuais se alternam em uma sala escura, convidando o visitante a uma parada na exposição. O documentário Caminhos de Scliar, dirigido por Cláudia Dreyer, foi feito especialmente para a exposição e apresenta cerca de 20 minutos com depoimentos de amigos e familiares a respeito da vida pessoal e da carreira do escritor. Já o curta-metragem No Amor, dirigido por Nelson Nadotti em 1981, é uma adaptação do O Mistério dos Hippies Desaparecidos, publicado por Scliar em Os Mistérios de Porto Alegre (1975). O filme conta a história de um grupo de artesãos do centro da Capital que passa a ser organizado por um jovem empresário que vê maior potencial produtivo no grupo.