
Quinta e só, garante o trio. Da conversa na mesa do bar surgiu, a horas tantas e taças de vinho depois, a ideia de celebrar com um tiro único os 35 anos de fraque e samba-canção dos Discocuecas, grupo humorístico-musical que foi, nos estertores da ditadura militar, um fenômeno midiático gaúcho que cruzou o Mampituba.
Beto Roncaferro, João Antônio "Toninho Badarok" e "mestre" Julio Fürst - o quarto elemento, Gilberto "Bagual" Travi, morreu em 2011 - chamam seu "celebration day" de Discocuecas em Conserto, pois o espírito é "consertar" hits onipresentes nas rádios nos anos 1970 e 1980, como É Só Dançar, Doce Balanço e Daysi My Love, que ganharam novos arranjos e adaptações nas letras - Daysi, por exemplo, agora tem perfil no Facebook. O resultado pode ser conferido às 21h, no Teatro do Bourbon Country.
Os Discocuecas surgiram em 1978 na rádio Continental, o porto roqueiro da magrinhagem da Capital. Os quatro amigos decidiram tirar uma onda da febre da discoteca, contar piadas e fazer paródias no programa Curto Circuito. A proposta deu certo, gravaram discos, estrearam a antológica Radionada Esportiva na Rádio Gaúcha, em 1980, viraram astros de comerciais e personagens de HQ e foram contratados por grandes gravadoras nacionais. Com inspiração no grupo performático argentino Les Luthiers, eles anteciparam no Brasil uma proposta musical que, anos depois, ressurgiu com o Casseta & Planeta e chegou ao auge com o Mamonas Assassinas.
- Mas, quando surgimos, se falássemos "bunda", era rolo certo com a censura - diz Julio.
Assista vídeo com depoimentos e uma das canções:
Hey tchê, entre nesta festa!
Os Discocuecas tiveram trajetória regular, em meio às atividades profissionais de seus integrantes, até 1997, quando lançaram o CD Metamorfose com temporada de shows no Theatro São Pedro e anunciaram "férias não remuneradas".
- Nossos programas antigos e as músicas começaram a rodar na internet, e aí filhos queriam conhecer os caras que divertiram seus pais. Esta nova geração que faz humor nas rádios diz que somos referência, o que nos deixa muito contentes - conta Julio Fürst, apresentador da rádio Itapema FM e um dos mais conhecidos comunicadores gaúchos.
Esse reconhecimento foi um estímulo à reunião de hoje à noite, no Teatro do Bourbon Country, que o grupo não planejou registrar para a posteridade.
- Hoje todo mundo faz DVD ao vivo - diz Julio.
- O calor da interação com o público no teatro é único, não tem como reproduzir - completa João Antônio.
Eles ensaiam há dois meses o espetáculo, que, além de novas versões de antigos sucessos, pode contar com músicas inéditas que surgiram no reencontro, reprodução de esquetes clássicos, exposição de fotos, filmes e vídeos no saguão do teatro e uma homenagem ao parceiro Gilberto Travi, responsável por antológicas imitações, como a de Teixeirinha, que vai aparecer em um telão interagindo como os amigos.
- Revirando meus arquivos, descobri muitos filmes em Super-8 intactos - destaca João Antônio, que será protagonista de um dos momentos altos da festa: nas lembranças dos comerciais estrelados pelo grupo, serão mostrados os seus mais de 20 anos como garoto-propaganda das Lojas Tevah, longevidade só comparável ao astro do Bombril.
O estouro dos Discocuecas no Rio Grande do Sul foi ouvido no Rio de Janeiro, de onde a gravadora RCA mandou, em 1979, o contrato para que lançassem o bolachão com as faixas Doce Balanço e Bixo Maluco, compostas pelo baterista Fernando Pezão, ex-Musical Saracura e hoje integrante do Papas da Língua.
- A ideia deles é que a gente fosse uma versão masculina das Frenéticas - diverte-se Julio. - Mas, naquela época de censura, avisaram que nossas músicas, que tinham palavras como "bunda-mole", teriam de sair em disco lacrado, como eram os dos humoristas Juca Chaves e Ary Toledo. Quem diria que depois os Mamonas fariam sucesso cantando "já me passaram a mão na bunda e não comi ninguém".
Mais adiante, gravaram também pela Warner e passaram a circular por programas como o do Chacrinha.
Beto Roncaferro, João Antônio e Julio serão acompanhados no palco por Pezão, pelo tecladista Leo Ferlauto e pela violinista e guitarrista Adrianne Simioni.
Discocuecas em conserto
Quinta, às 21h.
Duração: 1h10min.
Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80), fone 3375-3700.
Onde estacionar: no shopping (R$ 6,50, carro, e R$ 2, moto).
O show: espetáculo comemorativo aos 35 anos do grupo humorístico-musical Discocuecas, que apresenta releitura de seus sucessos e esquetes.
Ingressos: R$ 120 (camarote), R$ 90 (plateia baixa), R$ 80 (plateia alta), R$ 70 (mezanino) e R$ 40 (galeria). Vendas no local, e, com cobrança de taxas, pela Telentrega Branco Produções (fone 3231- 4142) e pelo site www.ingressorapido.com.br .