Conhecer Manaus não estava nos meus planos. Fui à cidade a trabalho, por três dias. Pouco tempo para conhecer uma capital tão rica em história e atrações naturais - o suficiente para que eu me apaixonasse e prometesse voltar.
O primeiro impacto é do alto - aquele mar de floresta visto da janela do avião. Mas nada se compara ao que se sente ao entrar na Amazônia, o que é possível com a ajuda de agências ou contratando barqueiros.
Estive na capital do Amazonas em um mês de julho. A época de chuvas já havia terminado, mas os rios ainda estavam cheios, facilitando os passeios de barco por igarapés e igapós. Nesses caminhos de água que invadem a vegetação, você se sente abraçado pela Floresta Amazônia. Vez ou outra, um macaco salta de galho em galho.
É nesse passeio que se conhece a vitória-régia, observa parte do cotidiano de ribeirinhos em suas casas flutuantes e a produção de pirarucu em cativeiro. Considerado um dos símbolos da bacia amazônica, o peixe é a principal fonte de renda de
boa parte das famílias locais, mas a pesca extrativista vem reduzindo o número de animais. A criação em cativeiro é apontada como uma alternativa sustentável.
Nesse mesmo barco, você chega ao encontro das águas - onde os rios Negro e Solimões se unem para um espetáculo único. Com características diferentes, as águas dos dois rios - que também têm temperaturas diferentes - seguem lado a lado, sem se misturar, por cerca de seis quilômetros, até formar o Amazonas.
A visita à floresta faz com que você se pergunte: como eu não vim aqui antes? O destino não está entre os preferidos dos brasileiros - menos ainda de quem mora no sul do país. Mas é bastante procurado por estrangeiros, o que se percebe rapidamente em uma volta de barco ou pelo Centro Histórico da cidade.
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O QUE VER
Encontro das águas
O escuro Rio Negro e o barrento Solimões se juntam para formar o Amazonas em um fenômeno natural conhecido em todo o mundo. Características como velocidade, temperatura e níveis de acidez são diferentes, fazendo com que as águas dos dois rios corram cerca de seis quilômetros lado a lado antes de se transformar no Amazonas. Você coloca a mão na água e sente a diferença de temperatura entre o Solimões, frio, e o Negro, mais quentinho _ e observa os botos que aparecem no caminho. Ao circular pelos rios, você também conhece um pouco da vida ribeirinha: o barco como meio de locomoção, as casas, as igrejas e até escolas flutuantes, erguidas sobre um sistema que evita alagamento durante as cheias.
Mercado municipal Adolpho Lisboa
Construído em 1883 às margens do Rio Negro (no auge do ciclo da borracha) em estilo art nouveau, lembra o mercado de Les Halles, em Paris. Tem pavilhões em alvenaria e ferro fundido. Tombado como patrimônio nacional, o local possibilita um dos contatos mais genuínos com o povo, sua cultura e seus costumes.
Arquitetura e história
Circular por Manaus proporciona uma aula de história a céu aberto. É repleta de lembranças do período em que a borracha movia a economia. Você pode visitar o Palacete Provincial, antiga sede do governo onde hoje funciona um centro cultural, com pinacoteca e museu. Outra opção é o Palácio Rio Negro, que tem uma pinacoteca com obras clássicas de artistas locais, além de pinturas e réplicas de ocas indígenas. Foi erguido no auge do ciclo da borracha. O Palácio Rio Branco, antiga sede da Assembleia Legislativa, abriga biblioteca e salas expositivas dedicadas à memória do Poder Legislativo estadual e à história política do Amazonas.
Teatro Amazonas
Um dos mais belos e imponentes teatros do Brasil, o Amazonas, construído no ciclo da borracha, tem visita monitorada. A fachada é neoclássica. No espaço mais luxuoso do prédio, o salão nobre, é possível apreciar pinturas no teto, do italiano Domenico de Angelis, que criam uma ilusão de ótica que dá movimento aos personagens. Outra maneira de conhecer a construção é assistindo a uma das peças ou shows.
Dica: o desenho original das famosas ondas do calçadão da Praia de Copacabana, no Rio, fica em Manaus, no Largo São Sebastião, onde está o teatro. As ondulações em preto e branco representam o encontro das águas dos rios Negro e Solimões e foram feitas em 1901 - as da cidade fluminense surgiram na década de 1920.
Bosque da ciência
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) mantém o Bosque da Ciência, uma área aberta onde é possível ver animais como o peixe-boi e a ariranha, fazer trilha em área de mata preservada e conferir curiosidades, como a maior folha do mundo. Com sorte, pelo caminho, você encontra tamanduás (que ficam soltos no Inpa), bicho-preguiça ou macaquinhos. Trata-se de uma reserva dentro da cidade.
Manaus online - Se você quiser saber mais sobre a capital do Amazonas, pode consultar o site oficial do turismo do Estado em visitamazonastour.com. Lá, também é possível baixar um guia turístico para dispositivos móveis.
OUTRAS DICAS
> Farte-se na gastronomia e, principalmente, coma muito peixe regional, extremamente saboroso. Um dos restaurantes que visitei foi o Canto da Peixada, um lugar simples _ alguns poderão achar simples até demais _, mas considerado um dos melhores de Manaus. Serviu até o papa João Paulo II, na década de 1980. Entre os pratos mais pedidos, está a caldeirada de tucunaré sem espinho. Mas alternativa é o que não falta: costela de tambaqui, pirarucu, tucunaré.
> Passeios que não fiz, mas que costumam ser indicados em blogs com dicas de viagem, são a visita ao Museu do Seringal e à Zona Franca.
> Prepare-se para o clima tropical úmido, com calor e sensação de abafamento em qualquer época do ano. Por lá, considera-se que há apenas duas estações, com duração de seis meses cada, definidas como de chuva ou seca. As chuvas vão de dezembro a maio, e a cheia do Rio Negro tem ponto máximo em meados de junho.
> Lembre-se de levar repelente, chapéu e protetor solar em qualquer época do ano.
> Uma boa pedida é se hospedar parte da viagem na cidade e outra, em um dos hotéis na selva, o que permite um contato ainda mais próximo com a Floresta Amazônica.