Um dos nomes mais importantes da publicidade brasileira, Washington Olivetto morreu por volta das 17h15min deste domingo (13), aos 73 anos. Idealizador de projetos marcantes como a Democracia Corinthiana, o publicitário foi vítima de falência múltipla de órgãos, informou a Folha de S.Paulo.
O publicitário ficou quase cinco meses internado no hospital Copa Star, no Rio, para tratar complicações pulmonares.
"O Hospital Copa Star lamenta a morte do paciente Washington Olivetto na tarde deste domingo, 13, e se solidariza com a família e amigos por essa irreparável perda. O hospital também informa que não tem autorização da família para divulgar mais detalhes", divulgou o Copa Star, em nota.
Olivetto deixa a esposa, Patricia Viotti e os filhos Homero, Theo e Antonia. Informações sobre o velório ainda não foram divulgadas.
Quem foi Washington Olivetto
"Washington Olivetto não é apenas um ícone da publicidade em todo o mundo, mas uma figura popular do Brasil", diz trecho de seu texto de apresentação em seu site, que saiu do ar logo após a divulgação de sua morte.
Olivetto nasceu em São Paulo, no bairro da Lapa, em 29 de setembro de 1951. Cursou Comunicação e Psicologia, mas não concluiu nenhum dos cursos de graduação. Descendente de italianos, começou a trajetória na publicidade como redator da agência HGP, na qual pediu emprego após o pneu de seu carro furar em frente a sede, conta trecho da reportagem da Folha de S. Paulo.
Leitor voraz, herdou do pai o talento por vendas e o somou a paixão por escrever. Foi assim que tornou-se o renomado publicitário, que "queria escrever para todas as mídias, jornal, revista, rádio e televisão", contou à Folha.
O legado
Torcedor apaixonado do Corinthians, atuou como vice-presidente de marketing do clube e foi um dos idealizadores do movimento Democracia Corinthiana, nos anos 1980. Também escreveu dois livros sobre o clube: Corinthians x Outros e Corinthians - É Preto no Branco.
Venceu seu primeiro prêmio em Cannes após três meses como estagiário na HGL, conquistando o terceiro lugar (Leão de Bronze) para um comercial que produziu à época. Em 1974, contratado pela DPZ, ganhou o seu primeiro Leão de Ouro.
Um de seus comerciais mais memoráveis foi produzido para a Vulcabras, fabricante de sapatos. Reuniu discursos de Paulo Maluf e Leonel Brizola, cada um com seu vocabulário, para defender a qualidade do sapato 752, então lançamento da marca.
Para a Valisère, produziu a primeira propaganda de sutiã no Brasil. O comercial foi estrelado pela atriz Patrícia Luchesi, à época alçada à fama pela repercussão da campanha.
No filme, uma jovem de 12 anos recebia de presente um sutiã da marca, cunhando a mensagem "o primeiro Valisère a gente nunca esquece".
Ainda é responsável por outros projetos de impacto como o cachorrinho símbolo da Cofap - maior fabricante de autopeças na década de 1980 -, e idealizou o casal Unibanco.
Outro memorável projeto foi o Garoto Bombril, estrelado pelo ator Carlos Moreno. A campanha, assinada em parceria com Francesc Petit, uma de suas referências, ficou 30 anos no ar com o popular jargão "1001 utilidades". A parceria entrou para o Guinnes Book (Livro dos Recordes, na tradução livre) por ter o garoto-propaganda mais longevo da história.
Em 1986 criou a W/Brasil, agência em sociedade com a suíça GGK, que tornou-se W/GGK e W/McCann posteriormente.
Referência mundial
Olivetto é um dos publicitários mais premiados do mundo. No Festival de Publicidade de Cannes, venceu 50 Leões apenas na categoria de filmes.
Em 2001, tornou-se o primeiro publicitário de uma agência fora dos Estados Unidos ou Inglaterra a vencer o Clio Awards, considerado pela revista Time como o "Oscar da Publicidade". Com apenas três minutos de duração, o comercial A Semana, idealizado para a revista Época, garantiu a premiação a Olivetto. A peça publicitária também venceu o Leão de Ouro no Festival de Cannes daquele ano.
"Publicitário do século". Assim foi eleito duas vezes pela Associação de Agências Latino Americana (ALAP) e pelo Monitor Mercantil. Sua obra o tornou referência mundial, tendo sido citado como um dos mais relevantes publicitários da era moderna em um estudo da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e criador de O Primeiro Sutião e Hittler, os dois únicos comerciais brasileiros listados no livro The Best 100 TV Commercials and why they worked, de Bernice Kranner, colunista do The New York Times.
No Rio Grande do Sul, foi um dos sócios da Agência Escala, durante o período de 2001 a 2011.
Sequestro
Em 2001, Olivetto passou 53 dias confinado em um quarto com três metros de comprimento e um metro de largura. No dia 11 de dezembro daquele ano, uma terça-feira, o carro que no início da noite o levava para casa, em Higienópolis, foi parado numa falsa blitz da Polícia Federal. Era um grupo formado por ex-guerrilheiros chilenos e argentinos. O motorista foi agredido e Olivetto transferido para outro carro e levado para um imóvel no Brooklin, na zona sul paulistana.
Sem janelas, seus pedidos de socorro foram ouvidos por uma estudante de Medicina que utilizou um estetoscópio na parede.
"Chamem as rádios!", gritou em um momento que os sequestradores deixaram a residência. O berro chamou atenção da estudante, que morava na casa ao lado. Apesar de não gostar de falar sobre o caso, Olivetto citou o sequestro em entrevista à jornalista Cristine Fibe, em 2017:
— Fiz uma coisa muito sábia, que foi nunca mais falar nisso depois da coletiva de imprensa do sequestro. Para não virar pauta. No livro, não podia ignorar, mas não exagerei no peso, primeiro porque me treinei para não pensar nisso, essas coisas ou você desliga na hora ou não desliga mais. Tanto é que fiquei sequestrado por 53 dias e desliguei de tal maneira que nunca sonhei com isso.
No início de fevereiro de 2002, uma investigação da inteligência da PF chegou ao líder do sequestro, o chileno Maurício Narambuena, que estava morando numa chácara em Serra Negra, no interior paulista.